Arte da Capa: Barata

A Poesia Esquizofrenética de Vagner Vieira

Atualizado em 26/07/2024 as 18:24:09

A “esquizofrenia” é um “problema funcional do cérebro caracterizado pela fragmentação da estrutura básica dos processos de pensamento, e pela dificuldade em estabelecer a distinção entre experiências internas e externas, afetando os processos cognitivos, com efeitos e repercutindo no comportamento e nas emoções”.

Já quando buscamos o significado para “frenético”, encontramos: “intenso, agitado, em que há excitação, inquieto”; sinônimos que esbarram nos de “frenesi”, que seria um degrau acima, uma exacerbação.

Mas antes de eu explicar o porquê de eu ter começado este prefácio com conceitos e etimologia, preciso falar um pouco sobre quem é o autor: Vagner de Souza Vieira, nascido e criado em Três Lagoas, MS, tem 31 anos e escreve desde os 15, se considera um amante da natureza, do existencialismo e da complexidade das relações humanas. Espiritualista, acredita (ou melhor, duvida) se seus poemas vêm de vivência, da imaginação ou são “soprados” no meu inconsciente.

“Tangenciando o Azul” é o terceiro livro dele que edito, e que reúne os dois primeiros, “Luneta de Envergar Silêncios” de 2020 e “No Labirinto Do Casulo”, de 2022. A eles aqui se integram 44 novos e inéditos poemas.

Neste ponto devo acrescentar que me senti muito honrado pelo convite que o Vagner me fez para prefaciar este volume. Honestamente não me julgo alguém que possa avalizar um trabalho poético, mesmo porque mesmo estando na estrada esburacada e perigosa da poesia há mais de cinquenta anos, nunca fui um autor reconhecido, sendo apenas minimamente conhecido. Ademais, analisar poesia é uma coisa muito complicada de se fazer, porque mais que a prosa, que é objetiva, ela, a poesia, é absoluta e totalmente subjetiva. Ou seja, o que pode tocar profundamente a um, nem resvalar na emoção do outro. Foi-se o tempo em que analisava poesia baseado na rima e na métrica. Aprendemos que Poesia não é técnica, nem estética: é frenesi, êxtase… Esquizofrenia.

Essencialmente melancólica, sobremaneira tratando de sombras, fantasmas e solidão, a poesia de Vieira oscila entre a mais pura esquizofrenia refletida em versos como, logo no poema que abre o livro: “Tudo que não cabe no vocabulário doente das mentes sãs. / Caberá como um romance minutário no instante pestanejar do maluco.” A para além disso, o que sobressai é justamente o tom frenético com que ele escreve sua poesia. Tão frenético que não abre nenhuma brecha a rodeios e verborragia. Exemplo disso é, em “Reflexões Sobre Um Velho Vazio”, onde ele escreve: “Tudo que não cabe no vocabulário doente das mentes sãs. / Caberá como um romance minutário no instante pestanejar do maluco.”

Outra coisa a ser notada, e que demonstra a criatividade do autor, é a facilidade com que cria e insere em sua poesia palavras por ele inventadas, e que no livro são grafadas em itálico. Palavras como: “tecelemos”, “fosfacióides”, “joiar”, “agorizar” e “vantageio” se misturam em meio aos versos, de forma que o leitor compreende totalmente o sentido delas em meio ao texto.

Creio que agora o leitor compreende o título que dei a este prefácio: “A Poesia Esquizofrenética de Vagner Vieira”.

Enfim, a poética desse matogrossense do sul é puro frenesi, delírio, desvario, tresvario e, porque não, arrebatamento.

Tangenciando o Azul
Vagner Vieira
Prefácio: Barata Cichetto
Poesia
156 Páginas
14,8 x 21 cm
UICLAP, 2024
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Barata Cichetto, Araraquara – SP, é Criador do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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Genecy de Souza
Genecy de Souza
22/05/2024 22:32

O prefaciador disse a que esse livro veio. E ele virá para as minhas mãos em breve.

Vagner Vieira
Vagner Vieira
Responder a  Genecy de Souza
24/05/2024 5:46

Saudações meu amigo, é um prazer ver minha obra reverberar entre os grandes que aqui estão, grande abraço!

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