Atualizado em 01/10/2024 as 23:58:29
A verdade pode estar enterrada abaixo de uma superfície plana,
de lisura imaculada, insensível aos ventos que sopram do sul.
A verdade pode ser prolixa, maldita na boca, pronta ao escarro
e ao inaudível, o não dito, o interdito.
Bem distante dos palmos fúnebres, à mercê dos vermes bípedes
Livre das sombras de um jacarandá.
A verdade pode ser simplesmente, inconveniente
A ouvidos surdos, dos homens coxos,
que saboreiam nos cochos
pedaços de carne crua.
Uma virgem de saias rodadas, com anáguas brancas,
a se deitar numa cama de alvos lençóis de linho
Até que se mostre a prova da primeira violação
O rompimento do hímen, a fissura num corte pequeno,
Para então, escorrer abundante
Lavar a terra de sangue,
Como torrente, vazão revoltosa, cascata,
Força, acima de um caos.
Sem ossos aparentes, sem vestígio viscoso
A verdade tem mil dedos, mil vozes, mil serpentes,
da medusa amaldiçoada
De olhos negros, profundos, fatais.
Um encontro de espelhos, reverberando pedra
tornando frio e imóvel o tormento.
A verdade é silêncio, nos poucos lábios do mundo
Esperando o sal do mar.