Em um reino distante, onde as montanhas tocavam as nuvens e os rios serpenteavam por vales verdes, vivia um jovem. Desde criança, Elra fascinado pelas moedas. Não pelo seu valor, mas pela dualidade que elas representavam: cara ou coroa, certo ou errado, luz ou sombra. Era como se o mundo fosse uma grande moeda, sempre girando entre duas opções.
Um dia, enquanto explorava a antiga biblioteca do reino, Encontrou um livro misterioso. Suas páginas eram feitas de um material que cintilava como a lua, e as palavras, escritas em uma língua antiga, pareciam dançar diante de seus olhos. O livro falava de um segredo ancestral: a terceira face da moeda.
Intrigado, seguiu as instruções do livro, que o levaram a uma floresta encantada. No centro da floresta, havia uma árvore milenar, com raízes que se aprofundavam nas entranhas da terra e galhos que tocavam o céu. Ao pé da árvore, havia uma moeda antiga, diferente de qualquer outra que já tivesse visto. Em vez de duas faces, ela tinha três.
Ao tocar a moeda, foi transportado para um reino mágico, onde tudo era uma mistura de opostos. Dia e noite coexistiam, o fogo e a água dançavam juntos, e o bem e o mal se equilibravam. Era o reino do perfil da moeda, o lugar onde as contradições se unificavam.
Nesse reino, aprendeu que a vida não se resume a escolher entre duas opções. Existe um terceiro caminho, um caminho do meio, onde as contradições se harmonizam. É um caminho que exige equilíbrio, sabedoria e a capacidade de ver além das aparências. Ao retornar ao seu reino, compartilhou seu conhecimento com todos. Ensinou que a felicidade não está em escolher um lado ou outro, mas em encontrar o equilíbrio entre os opostos. A guerra e a paz, a alegria e a tristeza, o amor e o ódio, tudo pode coexistir em um mesmo coração.
A história dele se espalhou por todo o reino, inspirando as pessoas a buscarem o caminho do meio. A moeda, que antes era apenas um objeto, tornou-se um símbolo de esperança e sabedoria.
Assim, o reino das duas faces se transformou em um reino de infinitas possibilidades. As pessoas aprenderam que a vida é como uma moeda, com muitas faces além das que podemos ver a primeira vista. E que o verdadeiro segredo da felicidade está em encontrar o perfil, o caminho do meio, onde todas as faces se unem.
Anos se passaram desde a jornada. Seu ensinamento sobre a terceira face da moeda havia se espalhado por todo o reino, transformando-o em um lugar de harmonia e equilíbrio. Mas, como toda moeda tem dois lados, uma nova sombra surgiu.
Alguns ambiciosos começaram a interpretar mal o conceito. Acreditando que o caminho do meio era uma licença para a indecisão, eles passaram a evitar escolhas, paralisados pela busca constante do equilíbrio perfeito. Outros, movidos pela ganância, viram na terceira face uma oportunidade de manipulação, explorando as zonas cinzentas para obter vantagem.
Uma jovem, curiosa e inquieta, começou a perceber essas distorções. Era filha de um dos primeiros discípulos dele, mas sentia que algo faltava no ensinamento de seu pai. Enquanto a busca pelo equilíbrio era essencial, ela acreditava que, em alguns momentos, era necessário tomar uma decisão clara, mesmo que dolorosa.
Decidiu buscar respostas na antiga biblioteca. Lá, encontrou um pergaminho escondido, escrito na mesma língua antiga do livro dele. O pergaminho falava sobre a “sombra do perfil”. Explicava que, assim como a moeda tinha três faces, também tinha uma sombra, um lugar onde o equilíbrio se quebrava, onde as escolhas difíceis eram inevitáveis.
Com coragem, decidiu enfrentar a sombra. Deixou o reino conhecido e aventurou-se em terras desconhecidas, onde as regras do equilíbrio não se aplicavam. Lá, aprendeu sobre força, determinação e a importância de escolhas difíceis.
Ao retornar, não negou o ensinamento de seu pai, mas o complementou. Mostrou ao reino que o caminho do meio não era uma fuga da realidade, mas uma base sólida para enfrentar os desafios. Às vezes, é necessário escolher um lado, mesmo que isso implique em deixar o outro de lado temporariamente.
O reino então viveu uma nova era, marcada pela sabedoria do equilíbrio e pela coragem da escolha. A moeda, antes símbolo apenas de harmonia, tornou-se um lembrete de que a vida é uma jornada complexa, cheia de nuances, onde tanto o perfil quanto a sombra são partes essenciais do caminho.
Assim, a história continuou, sempre em movimento, como a própria moeda que girava entre as mãos do destino.
A compreensão da moeda como um símbolo que englobava equilíbrio e escolha trouxe uma nova era ao reino. A sociedade floresceu, encontrando um delicado balance entre harmonia e ação. A moeda, antes um objeto de estudo, tornou-se um emblema, presente em todos os aspectos da vida.
No entanto, como em qualquer evolução, novos desafios surgiram. Um grupo, conhecido como os “Puristas do Perfil”, começou a ganhar força. Eles acreditavam que a busca pelo equilíbrio era o único caminho verdadeiro, condenando qualquer forma de escolha como uma afronta à natureza do mundo.
Por outro lado, um grupo oposto, os “Defensores da Escolha”, argumentava que a ação decisiva era a única maneira de progredir, desprezando a importância do equilíbrio.
Entre esses dois extremos, surgiu uma nova geração, os “Harmonizadores”. Liderados por descendentes deles, eles buscavam conciliar as duas perspectivas. Acreditavam que o verdadeiro desafio estava em encontrar o momento certo para cada abordagem, em saber quando buscar o equilíbrio e quando tomar uma decisão firme.
O reino enfrentou tensões e conflitos internos. As discussões sobre a moeda, antes filosóficas, tornaram-se políticas. A harmonia conquistada começou a rachar.
Nesse cenário, uma jovem de uma mente brilhante e curiosa, começou a questionar tudo. Ela não se identificava totalmente com nenhum dos grupos. Para ela, a moeda representava algo mais profundo, uma metáfora para a própria vida, cheia de infinitas possibilidades e complexidades.
Iniciou uma jornada de exploração, buscando compreender as nuances da moeda além das três faces conhecidas. Mergulhou nos antigos registros, estudou as estrelas, e até mesmo consultou os antigos sábios que ainda viviam nas profundezas da floresta encantada.
Suas pesquisas a levaram a uma descoberta surpreendente: a moeda não tinha apenas três faces, mas infinitas. Cada escolha, cada ação, cada pensamento, acrescentava uma nova face à moeda, expandindo infinitamente suas possibilidades.
Compartilhou sua descoberta com o reino. Sua mensagem trouxe esperança e uma nova perspectiva. O conflito entre os puristas e os defensores começou a diminuir, dando lugar a uma compreensão mais ampla.
A moeda deixou de ser apenas um símbolo, tornou-se uma representação da própria vida, em constante evolução, cheia de desafios e oportunidades. E o reino, mais uma vez, estava preparado para enfrentar o futuro, não mais dividido, mas unido na busca pelo equilíbrio e pela sabedoria de escolher o caminho certo a cada momento.
Com a descoberta, o reino entrou em uma nova era de conhecimento e compreensão. A moeda, antes um símbolo de divisão, tornou-se um catalisador para a unidade. A cada nova face descoberta, o reino se fortalecia, expandindo seus horizontes e aprofundando sua conexão com o universo.
A história inspirou uma nova geração de exploradores e filósofos. Bibliotecas foram construídas para guardar os conhecimentos recém-descobertos, e academias foram fundadas para discutir as infinitas possibilidades da moeda.
O reino, que antes era conhecido como o reino das duas faces, agora era chamado de “O Reino das Infinitas Possibilidades”. E a moeda, com suas infinitas faces, tornou-se o símbolo dessa nova era, um lembrete constante de que a vida é uma jornada de descoberta e crescimento.
A história da moeda não terminou. Ela continua a ser contada e recontada, adaptando-se a cada nova geração. A cada nova face descoberta, a história se reescreve, tornando-se mais rica e complexa.
E assim, o reino prosperou, não apenas materialmente, mas também espiritualmente. A busca pelo equilíbrio e a aceitação da diversidade se tornaram os pilares da sociedade. O reino das infinitas possibilidades era um exemplo para todos os outros reinos, mostrando que a harmonia e o progresso podem coexistir. A sabedoria adquirida com a moeda poderia ser usada para mediar conflitos entre diferentes culturas e sociedades.
Talvez existam outras moedas com poderes únicos, esperando para serem descobertas.
Renato Pittas, Rio de Janeiro, RJ, é artista plástico, poeta, escritor e Livre Pensador. Autor de Tagarelices: Conversas Fiadas Com as IAs.