Clair de Lune — Capítulo 16

A embarcação chega ao Porto, ali iriam se separar, Jean e Charles seguiriam de carona através de um comboio militar até Bristol de onde pegariam um avião militar que os deixariam nas proximidades de Londres, os demais tomariam rumos diferentes, se abraçam, a emoção encharca os corações daqueles seres que viveram juntos durante uma jornada onde buscaram a sobrevivência, então após as despedidas cada um toma um rumo diferente.

Jean e Charles são escoltados por dois fuzileiros navais que os conduziam até onde se localizava o exército inglês, assim que chegam num galpão ao lado das docas eles são entregue às mãos do Sargento Morrow com o qual viajarão até Bristol.

Os caminhões estavam carregados, eles são levados até um deles onde havia outros soldados, eles são apresentados como combatentes da Resistência Francesa, e todos os soldados os cumprimentam e se apresentam e assim o comboio dá início à sua viagem.

Durante a viagem ele ouve o relato dos soldados de como a guerra estava se desenvolvendo, e o cenário era desanimador, fica sabendo que o Reino Unido estava passando sérias dificuldades devido ao racionamento de matérias e o dinheiro estava quase todo indo para o esforço de guerra, a população sofria com essas restrições.

O comboio segue, a estrada estava muito ruim, em alguns pontos ela também foi atingida por bombardeios alemães, e ao lado dela podia-se se ver a destruição que causara com as casas todas destruídas, Jean começa a tomar contato com a destruição que ouvira falar quando estava em Paris, e ela havia sido muito maior do que imaginava.

Eles não conseguiam atingir uma boa velocidade, as condições da pista estavam ruins, e o trânsito por aqueles lados parecia estar bem agitado, ouve de um dos soldados que aquela região estava longe Dops ataques alemães então tanto o exército com a marinha estavam se utilizando muito dele.

A noite chega e o comboio decide dar uma parada, todos descem dos veículos, se reúnem em torno de uma fogueira e cada um recebe uma porção de comida dos militares, a fome estava sendo saciada.

Jean estava terminando a sua refeição quando três soldados se aproximam dele, um deles pergunta a ele:
— Como foi a batalha em Paris?

Jean olha para o jovem e responde:
— Não ouve batalha em Paris, apenas alguns bombardeios alemães, e a capitulação do governo, depois inúmeros veículos militares nazistas e uma quantidade absurda de soldados nazistas adentraram a capital e tomaram tudo com uma rapidez incrível.

Outro soldado pergunta:
— Mas como não houve batalha?

Jean olha complacente para ele e responde:
— O Exército Frances junto ao Exército Inglês estava tentando impedir a entrada dos inimigos pela fronteira norte do país, mas eles não conseguiram parar a máquina de guerra alemã, e com isso os alemães vieram do norte e tomaram toda a França, mas luta mesmo apenas na fronteira norte, depois não houve resistência nenhuma.
— E antes que me perguntem, a Linha Maginot foi um fracasso total, porque os alemães invadiram pelo norte onde não havia fortificações.

Um dos soldados lembra-se da debandada do exército inglês que obrigou o Primeiro Ministro Inglês pedir a que toda embarcação que estivesse navegando por aquelas bandas pudesse pegar os soldados e trazê-los de volta à pátria.

Jean então faz uma pergunta a eles:
— Como está Londres?

Um soldado responde:
— Completamente destruída, quase todos os edifícios, quase todos os monumentos, teremos que reconstruí-la quase que inteira, os alemães não tiveram piedade, o pior foram as bombas incendiárias, os incêndios na cidade duraram dias.

Jean se cala, volta a se concentrar em sua comida, mas a imagem de Evelyn volta à sua mente, com isso seu coração sofre novamente e ele chora silenciosamente.
A viagem continua, todos a bordo dos caminhões, ao longe observam alguns clarões, os soldados dizem que eram bombas lançadas pelos bombardeios noturnos alemães em Bristol, mas que esses bombardeios estavam cada vez menos frequente, parecia que Hitler estava deixando a Inglaterra em paz, dava impressão de que tinha desistido de invadir o continente e estava se concentrando na Europa.

De repente o comboio para, e percebe-se certo tumulto à frente dele, em seguida vem uma comunicação para que todos saiam dos veículos e procurem por abrigo, porém mal a notícia chega e dois aviões caça são vistos no horizonte, após passarem sobre eles percebe-se que se tratava de dois Messerschmitt Bf 109, em seguida à passagem os dois caças alemães fazem a volta e certamente os atacaria, assim que os aviões apontam o nariz em direção ao comboio uma saraivada de balas desce dos céus vindo das duas metralhadoras MG 17 montadas no capô do motor dos caças.

Na primeira salva dois caminhões explodem, jogando detritos metálicos para todos os lados, fazem a volta e novamente desencadeiam um novo ataque, e desta vez mais três caminhões são duramente atingidos e são destruídos, em seguida os caças evadem do local, e eles observam a chegada de quatro caças Supermarine Spitfire da Real Força Aérea Inglesa que sai ao encalço dos invasores a toda velocidade, eles estavam salvos.

O ataque alemão havia feito vítimas, oito soldados foram mortalmente feridos pelos estilhaços, além do que cinco caminhões foram completamente destruídos, os soldados restantes teriam que ser realocados nos demais caminhões, porém a estrada estava um caos, então os veículos são colocados à sua margem para que os soldados possam efetuar uma limpeza no local e torná-la novamente transitável.

Com isso os trabalhos atravessam a noite e a madrugada, o sol estava se aparecendo no horizonte quando terminam os trabalhos, então montam nos veículos e partem para a cidade de Bristol.

Chegam nela ao final da tarde daquele dia no comando do exército localizado nas proximidades de Bristol, o trajeto final depois do ataque inimigo os deixou muito desconfortáveis em virtude da sobrecarga de soldados em cada caminhão, e também porque tiveram que acelerar a marcha com medo de novos ataques, mas para Jean era tudo muito bom, a ansiedade em voltar para Londres superava qualquer dificuldade, assim que desce do caminhão, junto a Charles, vai ao comando local se identificar.

A ele é dado um documento com o qual deverá se dirigir ao aeroporto improvisado que havia ali, para que ambos pudessem ser transportados pelo primeiro avião que fosse para Londres, assim caminham até o aeródromo, reconhecem a barraca onde se fazia o comando local e se identificam então o oficial lhes diz:
— Um DC3 irá partir para Londres por volta das duas horas da tarde, irá levar alguns equipamentos, ele não tem assentos, vai ser uma viagem desconfortável, mas chegarão em Londres antes da noite, enquanto isso poderão descansar na tenda dos soldados instalada ao lado do hangar improvisado.

Com isso os dois se dirigem ao local, iriam descansar até a tarde quando então eles partiriam para Londres, Jean estava eufórico em saber que antes da noite daquele dia estaria em Londres, eles encontram algumas macas disponíveis, deitam-se, teriam um tempo antes da viagem final.

Jean tenta dormir, mas não consegue em sua mente várias perguntas surgem, coisas que ele não havia pensando antes:
— Onde estaria Evelyn?
— O que encontraria em Londres?
— Como estaria o prédio de seu apartamento?
— Como estaria seu restaurante?
— Onde estaria Gregory?

Fica ainda mais ansioso, estava perto de ter essas respostas e estava com um medo enorme delas, a imagem de Evelyn se faz em sua mente, ele pega o relógio abre a tampa e fica olhando para a foto, algumas lágrimas escorrem de seus olhos, e mentalmente manda uma mensagem para ela:
— Meu amor, me perdoe ter te abandonado nesse momento, me perdoe pelo sofrimento que causei em você, mas estou chegando, logo estaremos nos abraçando e matando esta saudade enorme que me sufoca tanto e faz meu coração sangrar.

Acaba relaxando um pouco e pega no sono. É acordado próximo das duas horas por Charles, levantam e se dirigem ao comando aéreo, se identificam e o oficial lhes indica a aeronave que os levaria até Londres, eles correm até o avião, se identificam com um oficial que ali estava e têm a sua entrada da nave autorizada, o oficial os acompanha e diz a eles:
— Nós tivemos que tirar todos os assentos do avião para usá-lo como cargueiro, vocês deverão que se segurar naquelas amarras laterais, a viagem não será longa, mas será um pouco desconfortável, embora tenhamos café a bordo, um privilégio para poucos.

Jean sorri a ele e responde:
— Não imagina por tudo o que passamos para chegar até aqui, essa aeronave será uma suíte presidencial para nós.

Todos riem muito, o oficial antes de sair ainda diz a eles:
— Iremos partir daqui a trinta minutos.

Jean e Charles entram na nave, se ajeitam da forma que dá, sentam e ficam encostados na lateral do avião, ao lado deles havia caixas e mais caixas, todas bem amarradas, de repente sobem mais três pessoas, as quais se sentam do lado oposto a eles, se cumprimentam com movimentos de cabeça, e se preparam para a partida.

O piloto sobre a aeronave, se dirige a eles e diz:
— Iremos partir agora, já temos autorização para isso, nossos radares não acusam a presença de nenhum inimigo em nossa rota, e se tudo der certo deveremos levar cerca de trinta minutos em nossa breve viagem, ai ao lado de vocês nessas caixas verdes encontrarão café quente e alguns pães, sirvam-se deles, são todos seus, e que tenhamos uma boa viagem.

Diz isso e se dirige à cabine, logo em seguida entra o outro oficial com os quais já tinham conversado, ele era o copiloto, se dirige à cabine, os motores são acionados, a seguir a nave se dirige à pista, ali se coloca em posição de decolagem os motores sofrem os impulsos dos manetes e aceleram, logo a nave corria solta pela pista de terra, e rapidamente inicia o seu voo, estavam indo a Londres, finalmente.

A aeronave atinge altitude de cruzeiro, voava suavemente, o copiloto sai de seu assento vai até a caixa verde abre e pega o café, serve a todos uma generosa quantidade do líquido quente, entrega um pão a cada um deles, em seguida leva café ao piloto, volta e senta junto aos demais, e fazem a festa.
Jean termina seu café, levanta e vai até uma janela, olha para baixo e sente uma enorme tristeza quando vê a enorme destruição a que se submeteu a cidade, estavam chegando às proximidades de Londres e não se via praticamente nenhum prédio inteiro, era só escombros, montes e montes de entulho, algumas paredes resistiram, mas teria que ser derrubadas para a segurança das pessoas, Charles fica ao lado do amigo e tenta consola-lo colocando sua mão sobre seu ombro.

Recebem o aviso de que iriam entrar em procedimento de descida, então voltam aos seus lugares e se seguram como podem o avião aponta o nariz para baixo e inicia a descida, logo a pista é tocada suavemente, o avião reduz sua velocidade e inicia o procedimento de taxiamento, se dirige a uma pequena barraca e para seus motores, o copiloto sai da cabine abre a porta do avião e conduz a todos para fora, estavam em Londres.

Jean e Charles se dirigem à saída do aeródromo improvisado, eles olham para a cidade toda destruída, Charles olha para Jean e pergunta:
— Qual direção nós iremos tomar?

Jean não responde de imediato, ele ainda estava ainda incrédulo com o estado de destruição em que Londres havia ficado, suava muito, então ele vira para Charles e diz:
— Iremos até o centro da cidade onde eu tinha meu apartamento.

E assim os dois iniciam uma nova jornada, o medo se apodera de Jean, mas seguiria até onde fosse necessário par encontrar sua esposa.

Walter Possibom, São Paulo, SP é autor de Um Brilho nas Sombras e Quando os Ventos Sopram na Pradaria. É editor dos Blogs Planet Caravan e Walter Possibom Escritor, e além de músico, Livre Pensador.

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