Clair de Lune — Capítulo 3

Atualizado em 28/07/2024 as 11:53:14

Jean acorda no dia seguinte diferente, a imagem do rosto de Evelyn lhe vem à mente, ele sorri, levanta vai ao banheiro se refrescar e dali vai para a cozinha, mas decide tomar seu café matinal numa cafeteria próxima ao restaurante, se troca desce e caminha com tranquilidade, o vento fresco da manhã lhe faz bem, gostava desse clima, se sentia mais leve, diferente, chega à cafeteria e encontra alguns conhecidos, os cumprimenta, vai ao balcão e senta num dos bancos, o balconista já o conhecia trocam algumas palavras e ele faz o seu pedido.

Enquanto o café não chega ouve dois homens o lado comentando sobre a agitação política que tomava de assalto alguns países europeus, e que todos estavam muito preocupados com as reivindicações territoriais que a Alemanha e a Itália estavam fazendo na tentativa de refazer os limites territoriais a que haviam sido submetidos pelo tratado de paz assinado em Versalhes, além das novas ideias de unificação da Alemanha o que era já um fato histórico e que já havia sido tentado outras vezes no passado e que sempre acabaram em conflito.

Jean sabia da importância estratégica da Alsacia Lorena, que antes da Primeira Guerra pertencia à Alemanha e que depois dela passou a ser domínio francês, certamente a Alemanha estava reivindicando o seu retorno aos seus domínios, aquele lugar era uma região rica em minério de ferro, tão necessário naqueles dias.

Termina seu café e fica preocupado, assim que chegar ao restaurante irá ligar para seu pai e saber dele as notícias, pensa em pedir novamente que os pais fiquem uns tempos com ele em Londres, embora saiba que isso é muito difícil, já tentou outras vezes e sempre obtivera a mesma resposta.

O dia passa muito rapidamente, todos os clientes estavam comentando as últimas notícias sobre as reivindicações territoriais de que ele ouvira falar pela manhã, isso o deixa ainda mais ansioso, falou com seu pai e como de costume obteve a mesma resposta, a tarde já estava em seu final quando decide voltar ao apartamento para tomar um banho e se preparar para seu encontro, Gregory ri muito da ansiedade com que seu amigo se encontra, e praticamente o expulsa do restaurante, dizendo a ele:
— Saia daqui imediatamente e só me volte aqui quando estiver limpo, perfumado e muito bem vestido afinal de contas a sua musa inspiradora estará aqui, e certamente deverá vir maravilhosamente vestida usando aquele maravilhoso perfume, vamos, ande logo, já são seis horas.

E assim Jean volta ao apartamento, toma um banho mais demorado, tenta se preparar emocionalmente para o encontro, pega sua melhor roupa, usa o seu melhor perfume, e tenta imaginar o que acontecerá nesse encontro, Evelyn era uma mulher extremamente atraente, de uma inteligência ímpar, isso ficou claro quando conversaram sobre o jantar, isso o deixava ainda mais interessado nela.

Decide voltar ao restaurante, anda calmamente pela rua, as pessoas passam agitadas, muitas estavam saindo do trabalho, outras apenas caminhando pela rua a fim de aproveitar o delicioso início de noite, em seu coração acelerado reinava a ansiedade por uma noite maravilhosa, não via a hora de se encontrar novamente com ela.

Ao chegar no restaurante o movimento já era intenso, Gregory como sempre se postava com sua calma intocável, assim que vê Jean vai até ele, olha-o de cima para baixo se aproxima mais e diz:
— O perfume me agrada, a roupa também agora só falta tirar esse rubor de ansiedade na face, todos irão notar que você está nervoso, inclusive a dama que ira jantar com você, tente não ser tão frágil.

Fala isso e dá uma sonora gargalhada, sabia que isso o deixaria desconsertado e sem ação, sai dali e o deixa, então Jean vai até seu escritório e direto ao toalete para verificar se a gravata estava corretamente colocada, e se sua roupa estava realmente alinhada, volta ao salão vai até o bar e pede uma dose de conhaque, bebe num gole só, volta ao escritório e dali só sairia quando ela chegasse.

As horas já passavam das oito e dez e sua ansiedade era progressiva, de repente Gregory entra no escritório olha para ele e diz:
— Se prepare meu amigo, e segure seu coração, nunca vi mulher mais linda em minha vida, ela está simplesmente deslumbrante, está te aguardando na sala de espera.

Jean tem uma subida elevação nas batidas de seu coração, a adrenalina é rapidamente injetada em suas veias, respira fundo, Gregory sai e ele vai em seguida após o amigo, se ajeita, e caminha em direção à entrada e quando chega nela vê que realmente ele não havia mentido, ela estava vestida com um vestido longo todo azul escuro, o decote ricamente decorado com lantejoulas brancas, um colar dourado com um pingente em forma de gota adornada seu pescoço, as mangas do vestido chegavam até o meio dos antebraços, seu cabelo estava penteado de forma magnífica realçando as suas ondulações deixando com que ele caísse por detrás do pescoço, seu rosto lindo levemente maquiado e com os lábios se sobressaindo com um batom vermelho mostrando que a natureza foi muito benévola para com aquele corpo de mulher, ele se dirige até ela, faz um esforço tremendo para não demonstrar o seu nervosismo, dá a mão a ela e a cumprimenta, percebe que as mãos dela estavam úmidas, ela também estava nervosa, então diz a ela:
— Me perdoe meu nervosismo, deve ter notado isso, mas me deixou sem palavras, está magnificamente vestida, nem sei bem o que te dizer.

Ela o olha fixamente, abre um sorriso nervoso e responde a ele:
— Obrigado pelo convite, e pelo elogio, tentei ficar a altura do encontro de hoje.

Ele sorri para ela e diz:
— Temos uma mesa reservada só para nós, ficaremos muito a vontade longe de olhares, queira me acompanhar.

Então ele estende seu braço que se entrelaça como dela e assim eles caminham em direção à sala onde na noite anterior houve o jantar do Embaixada, naquela noite aquele lugar estaria fechado apenas para os dois.

Chegam à mesa e ele a ajeita em sua cadeira, em seguia vai para o outro lado e senta de frente à ela, Gregory estava ao lado e pergunta a ela:
— A senhorita aceitaria uma taça de champanhe?

Ela sorri a ele e responde:
— Aceitarei de bom grado.

Assim ele se retira enquanto Jean a olhava fixamente, ele estava totalmente enfeitiçado pela beleza daquela mulher, sua respiração estava ofegante então procura respirar um pouco mais fundo, e logo a champanhe chega, ambos são servidos e imediatamente Gregory se retira, deixando os dois sozinhos.

Jean ergue a taça em direção à ela e diz:
— Quero brindar pelo presente de estar junto a uma mulher tão linda e charmosa, e pela noite maravilhosa que terei.

Ela sorri fazem o brinde e bebem a champanhe, em seguida Jean diz:
— Você já sabe algo de mim, e eu não sei nada dobre você, e isso é injusto.

Ela sorri deposita a taça sobre a mesa e responde a ele:
— Nasci em Nova Iorque, estou em Londres há cerca de um ano a convite do Embaixador com quem trabalhei em Washington ha algum tempo atrás, eu cursei Comércio Exterior e ele havia acabado de ser promovido ao cargo e se lembrou de mim, então aqui estou eu.

Jean olhava fixamente para ela com um sorriso nos lábios e diz a ela:
— Que bom que tudo isso tenha acontecido com você e possibilitado a que pudéssemos nos encontrar aqui.

Olham-se intensamente, ambos estavam visivelmente ansiosos, então Gregory retorna trazendo o cardápio e entrega-o às mãos de Evelyn e diz a ela:
— Nossas massas são de primeira qualidade e o cordeiro hoje está especial, além de que temos sobremesas francesas saborosíssimas, por favor, Senhorita, reserve espaço em seu delicado estômago para elas.

Diz isso e se retira deixando os dois fixos um no outro.

Ela então pergunta a ele:
— Por que decidiu vir para Londres ao invés de permanecer em Paris?

Jean sorri e responde a ela:
— Na realidade eu queria um desafio, minha família toda tem restaurantes em Paris, e achei que aqui seria um desafio para mim, não teria o peso de minha família e viria para um local onde as pessoas têm bom paladar, achei que conseguiria manter um bom negócio por aqui, então depois de fazer todos os cursos que achei serem necessários convidei Gregory, meu amigo de infância, a cumprir esse desafio comigo, e estamos indo muito bem, pelo menos por enquanto, não sabemos o dia de amanhã.

Ela muda de feição, e diz:
— Realmente, passamos por momentos delicados, mas não devemos tocar nesse assunto, a noite está muito agradável.

Jean sorri para ela e diz:
— Pois sim, está com fome?
— Quer fazer seu pedido?

Ela sorri para ele e diz:
— Estou morrendo de fome, o cordeiro que Gregory me falou me deixou com mais fome, acho que irei pedir novamente a sua massa que é maravilhosa, e irei seguir a sugestão do Maitre, experimentarei o cordeiro.

Ele então diz a ela:
— Excelente escolha, o cordeiro está decididamente macio e saboroso, e a massa virá com um molho especial.

Após dizer isso ele faz um sinal ao Garçom que se postava à porta, ele se aproxima e Jean pede os pratos para os dois, ele iria acompanhá-la no pedido, e acrescenta um vinho italiano tinto seco, o jantar seria completo.

As conversas fluem normalmente, os assuntos não importavam, na realidade queriam estar juntos, trocar as energias, olharem um para o outro, em dão momento Jean pergunta:
— E sobre a sua família?
— ela ficou toda em Nova Iorque?
— Não devem ter gostado de você vir para cá.

Ele nota uma mudança súbita no semblante dela, perguntou sobre um assunto que a deixou constrangida, a essa pergunta seguiu-se um silêncio por alguns instantes, então ele, depois de dar um gole no vinho olha para ele e diz:
— Esse assunto é complexo, não gostaria de falar sobre ele aqui neste momento, está tudo tão maravilhoso, em outra ocasião, talvez, podemos tocar nele.

Jean percebe a situação, compreende a atitude dela, fica sem palavras, mas decide falar algo para minimizar as coisas:
— Claro, me perdoe, fui tremendamente indiscreto, mal nos conhecemos, eu não devia ter tocado nisso, é um assunto particular seu, me perdoe, mas me diga o que está achando do cordeiro?

Ela olha para ele dá um sorriso e responde:
— Não se preocupe, não fique chateado, apenas que é um assunto que não me deixará confortável discutir neste ambiente e clima tão formidáveis.

Jean respira mais aliviado e sorri para ele que complementa:
— Quanto ao cordeiro posso lhe dizer que foi o melhor cordeiro que já comi em toda minha vida.

O jantar continua de forma muito agradável aos dois, seus corações serenaram, o nervosismo inicial dá lugar a uma tranqüilidade absoluta, os dois estão curtindo demais o encontro, a refeição chega ao seu final, a sobremesa é degustada com muita vontade, o licor coroa o jantar magnífico.

Evelyn olha para Jean sorri e diz:
— O jantar foi maravilhoso, foi tudo perfeito, obrigado por ter me propiciado isto.

Jean a olhava com olhos ternos e responde a ela:
— Nunca tive uma noite como esta, na realidade eu que te agradeço, e gostaria que todas as noites daqui em diante fossem como esta, eu estarei aqui te esperando.

Eles se olham, o silêncio era total, seus corações voltam a bater mais rápido, ela respira mais profundamente e responde a ele:
— Infelizmente não tenho todas as minhas noites livres, ultimamente elas têm sido muito escassas devido aos trabalhos da Embaixada, você sabe que a Europa está muito agitada e isso está preocupando demais o governo norte americano, e isso acaba fazendo com que toda a Embaixada esteja em alerta máximo o tempo todo, o Embaixador tem trabalhado até altas horas da noite e eu tenho que acompanhá-lo nessas tarefas.

Jean olhava languidamente para ela, respira mais fundo e diz:
— Você certamente terá que fazer uma refeição à noite.

Ela imediatamente responde:
— Normalmente o Embaixador mantém as cozinheiras e comemos lanches.

Jean sorri mais ainda e responde:
— Então farei o seguinte: levarei a você, nessas noites, o meu Cachorro Quente Especial, melhor que o dos americanos, e um refresco, assim você se alimentará e eu poderei te ver.

Eles continuam se olhando, os corações batiam loucamente, as mãos tremiam, ela finalmente sorri para ele e diz:
— Está bem, você me convenceu eu experimentarei o seu Cachorro Quente que é melhor que o dos Americanos, embora eu duvide disso.

Ambos riem, ela olha para o relógio e diz a ele:
— Está tudo maravilhoso, mas preciso ir, me levanto cedo amanhã, estou muito cansada pelo dia de hoje.

Jean rapidamente diz:
— Eu a levarei até sua casa.

Ela complementa:
— Na realidade moro a algumas quadras daqui, dá para ir a pé, não se preocupe.

Jean sorri mais ainda e diz:
— Ótimo, adoro caminhar durante a noite.

Ela sorri e balança a cabeça em sinal positivo, então ele se levanta a pega pela mão, ajuda com que ela se levante, caminham em direção à saída, antes, porém, ela pára diante de Gregory e lhe diz:
— O cordeiro estava fabuloso, nunca comi nada igual, você tinha razão, muito obrigado por sua gentileza.

Gregory sorri e diz:
— A senhorita será sempre muito bem vinda aqui em nossa casa.

Assim os dois caminham pelas ruas desertas de Londres, o fog já se fazia presente em pequena intensidade, o frio estava incomodando, Jean tira seu casaco e o coloca sobre os ombros de Evelyn, assim eles caminham até o prédio onde ela morava, ela se vira a ele devolve o casaco e diz:
— Muito obrigado pela maravilhosa noite, eu também quero mais dessas.

Vira-se e entra no prédio, Jean fica ali do mesmo jeito quando a deixou na Embaixada, estava muito apaixonado por ela, esperava um beijo de despedida, mas não iria se precipitar, iria respeitá-la e aguardar o momento certo.

Naquela noite dois corações bateriam insanamente pensando um no outro.

Walter Possibom, São Paulo, SP é autor de Um Brilho nas Sombras e Quando os Ventos Sopram na Pradaria. É editor dos Blogs Planet Caravan e Walter Possibom Escritor, e além de músico, Livre Pensador.

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