Clair de Lune — Capítulo 5

Atualizado em 28/07/2024 as 11:52:37

O ano de mil novecentos e trinta e oito inicia com notícias desalentadoras vindo da Europa central, os alemães estavam mobilizando seus exércitos de um lado para outro, os jornais diziam que a Alemanha estava toda militarizada e preparada para uma nova guerra, as negociações de Hitler com os poloneses continuavam cada vez mais ríspidas, e os germânicos não conseguiam obter o aceso que desejavam até o Porto de Danzig, as hostilidades dos poloneses para com os alemães em seu território estava em níveis preocupantes, por seu turno, a Inglaterra e a França continuavam neutras, achavam pouco improvável uma nova escalada bélica alemã.

Todos são pegos de surpresa com a notícia de que a Áustria havia sido anexada pelos alemães, que expandem suas ações e ocupam toda a Região Tcheca dos Sudetos, e apesar dessas ações os ingleses e franceses mantêm-se calados, apenas observando essas ações.

A opinião pública desses países está dividida, os franceses estavam tranqüilos em virtude da Linha Maginot, acreditavam que seu país era inexpugnável por sua presença.

Por seu lado, os ingleses achavam que estavam longe demais do Território Europeu para sofrer qualquer ataque nazista, então não tinham com que se preocupar, exceto Winston Churchill.

No início do mês de março Evelyn ganha uma semana de descanso, estava trabalhando até altas horas todos os dias, recebe essa notícia com muita alegria, naquele dia ela foi almoçar com Jean, então lhe conta a novidade:
— Hoje logo cedo o Embaixador me presenteou com sete dias de descanso, ainda bem, não sei se aguentaria mais isso, preciso de um tempo para descansar, estava pensando em visitar meus pais, mas fui verificar a possibilidade da viagem aérea e os aviões que partem para os Estados Unidos só sairão no meio da semana que vem eu ia te convidar para viajar comigo, queria muito que você viesse junto, mas não dará certo com essas datas, pois não aproveitaremos nada.
— Eu adoraria viajar com você juntinhos.

Jean lhe dá um beijo e fala para ela:
— Mas podemos fazer o seguinte: vamos até a casa de meus pais, vamos passar sete dias em Paris, não fica muito longe daqui e para lá existem mais aviões, e se desejar isso poderemos ir agora até o aeroporto e checar as datas, quanto a mim eu posso me ausentar a qualquer momento, eu tenho o Gregory que toma conta de tudo sem problemas.

Evelyn abre um enorme sorriso e responde:
— Será maravilhoso se pudermos fazer isso, vamos ao aeroporto?
Os dois saem do restaurante o mais rápido possível, se encaminham ao aeroporto, lá chegando vão ao balcão de conhecida empresa aérea inglesa e dá de cara com um dos freqüentadores de seu restaurante, com isso tudo ficaria mais fácil.

Conta a ele o que precisavam, antes, porém, pede que seja checado quanto aos voos para os Estados Unidos, e recebe a mesma resposta que Evelyn havia recebido, então checam os vôos para Paris e o amigo de Jean lhe diz que há um vôo para o domingo, e que ele poderia colocá-los dentro desse avião sem problemas, e que poderia, também, caso fosse do desejo deles, encaixá-los num vôo no domingo da semana seguinte para retornarem a Londres.

Fecham o negócio e compram as passagens para os dois dias.
Saem do aeroporto com elas nas mãos, Evelyn estava muito feliz, assim como Jean, de lá ele a leva a Embaixada, ao final da noite iriam festejar a compra dos bilhetes.

O restante da semana foi de muita ansiedade, fazem os preparativos para a viagem, fazem as malas, Jean liga para seus pais sobre a viagem e eles ficam extremamente felizes com a notícia, o vôo sairia no domingo pela manhã, no sábado Jean dorme no apartamento de Evelyn, logo cedo levantam e Gregory os leva até o aeroporto, logo embarcam e a viagem tem seu início.

Chegam a Paris com o sol forte, pegam um taxi no aeroporto que os leva até o restaurante do pai de Jean, ali seria o ponto de encontro deles, sua mãe tinha outro restaurante que ficava a uma quadra de onde ficava o de seu pai, queria que os dois estivessem juntos quando chegassem.

Durante o trajeto Jean fica impaciente, cuida para que Evelyn esteja confortável, faz inúmeras carícias em suas mãos, e logo o taxi chega ao local, desce do carro pegam suas malas, assim que eles entram no restaurante ele vê seu pai com sua mãe conversando, eles logo os vêm e vão ao encontro dos dois.

Os pais de Jean falavam muito bem o inglês, pois visitavam com frequência Londres para participarem de simpósios e congressos gastronômicos, assim que o pai de Jean vê Evelyn ele vai de encontro à ela e diz:
— Uma pérola de mulher, uma das mulheres mais lindas que já vi até hoje, claro, depois de minha esposa a qual está aqui ao meu lado neste momento.

Todos riem muito dessa observação do Sr. Truffaut, logo em seguida a mãe de Jean vai até ela e a abraça e lhe dá um carinhoso beijo no rosto, e diz:
— Sou a mãe de Jean, meu nome é Marguerite, e claramente muito mais educada que o pai, que não apresentou nem a ele nem a mim.

Todos voltam a rir muito e Jean complementa:
— Meus pais se amam muito, nunca os vi brigando, mas ambos têm um senso de humor muito grande.

A Sra. Marguerite olha para Evelyn atentamente e lhe diz:
— É uma mulher belíssima, de finos traços, meu filho teve sorte em achar uma pérola como você.

Evelyn fica extremamente corada com a observação, e Jean interfere:
— Estamos cansados, mas com muita fome, a comida do avião não estava muito boa.

Então eles são levados para uma mesa no canto do restaurante onde teriam mais privacidade, um garçom lhes trás o cardápio e assim escolhem os seus pratos, o vinho já estava à mesa por ordem do pai de Jean, e os dois o degustam com muito gosto.

A noite chega em Paris, o clima era ameno, uma leve brisa se fazia presente, as estrelas se faziam presentes adornando o céu com seus pontos cintilantes ao lado da Lua, Jean e Evelyn caminham pela Champ de Mars de mãos dadas, mãos dadas, corações felizes, sorriso nos lábios, estavam em perfeita harmonia, param numa pequena sorveteria para se refrescarem, voltam a caminhar com os sorvetes nas mãos, à frente a imponente torre se avista, vão se aproximando dela, assim como eles outras pessoas simplesmente passeiam por lá, despreocupadas, naquele momento todas as tensões vividas pela Europa se dissipam, e as pessoas focam em sim mesmas e em seus parceiros.

Jean e Evelyn chegam a uma praça antes da torre, a visão que têm dela é fantástica, já haviam degustado os sorvetes, voltam a se abraçar, vão até um banco e sentam abraçados, miram a magnífica obra de arte da engenharia moderna, e o romantismo se faz presente em seus corações.

Jean faz inúmeras carícias nas mãos de Evelyn, em seguida se vira para ela e faz carícias em seu rosto, os corações batem acelerados, eles se aproximam e trocam um beijo de enorme amor, a paz se fazia sobre aqueles dois naquele momento, em suas mentes não hvaia espaço para mais nada senão o amor, a paixão, o desejo, e a vontade de que o mundo parasse ali e eles ficassem nesse modo para todo o sempre.

Depois de um tempo voltam a caminhar, falavam pouco, nem havia necessidade disso, pois suas almas se comunicavam constantemente, a noite avançava e decidem voltar ao restaurante do pai de Jean, a brisa torna-se fria, Jean a abraça com mais força e assim chegam ao restaurante, lá dentro o calor os deixariam confortáveis, e assim terminariam aquela noite no calor da lareira e de seus corações.

O dia seguinte se inicia com notícias desalentadoras para todos os que desejavam a paz, era o dia doze de março, e as notícias davam conta de que a Áustria havia sido anexada pelos alemães, que também ocupavam a Região Tcheca dos Sudetos, isso mostrava claramente as intenções dos nazistas em ocupar os territórios que haviam sido perdidos por eles na Primeira Guerra, e de seu interesse em se expandir territorialmente pela Europa, isso ameaçava em muito a paz.

Naquele dia todos passam praticamente ao lado do rádio ouvindo as novidades, Evelyn imagina o que possa estar acontecendo na Embaixada e liga ao Embaixador, recebe notícias preocupantes quanto ao avanço nazista, mas também é comunicada que deveria permanecer em férias naquela semana, isso a deixa calma, poderia curtir os dias em Paris junto à sua paixão.

Os dois passeiam muito nos dias que se seguem se divertem como nunca tinham se divertido em suas vidas, foram dias memoráveis aos dois, mas o domingo chega, voltariam para Londres, os pais de Jean deixam com que algumas lágrimas escorram por seus olhos, a saudade já se fazia presente antes mesmo da ausência, e assim os dois embarcam no vôo que os traria de volta ao lar de ambos.

Durante o voo falam em se casarem, mas Jean gostaria que, antes disso, pudessem visitar os pais de Evelyn e ele fazer o pedido formal ao pai dela, embora ambos estivessem ansiosos pela união definitiva, mas Evelyn entende os motivos de Jean e acatará isso, apenas que não sabe quando poderão ir aos Estados Unidos, iriam esperar um pouco mais, chegam a cogitar de morarem juntos, mas no final chegam ao consenso de que não seria de bom tom isso então eles decidem aguardar mais um pouco, Evelyn irá falar com o Embaixador sobre isso, precisava de uns dias para voltar aos Estados Unidos e formalizar seu casamento, e assim ficariam dependentes da palavra dele.

Os meses vão passando e o clima bélico na Europa só aumenta de intensidade, com isso o trabalho na Embaixada se intensifica, há rumores de que uma outra guerra possa ser iniciada, os alemães insistem numa série de reivindicações territoriais e não abre mão delas de forma alguma, então, por enquanto pelo menos, a viagem de Evelyn está fora de cogitação, isso deixa os dois muito tristes.

Numa tentativa de manter a paz e afastar a possibilidade de guerra, a Inglaterra envia para Munique um representante, Neville Chamberlain, para participar de uma conferência organizada por Adolf Hitler, cujo objetivo era a discussão do futuro da Checoslováquia, desde o final da Segunda Guerra havia mais de três milhões de alemães étnicos vivendo na parte Checa do recém criado estado da Checoslováquia, daí o interesse de Hitler em anexar a região Checa.

Dessa conferência participaram líderes das maiores potencias da Europa à época, e após cerca de uma hora e meia de discussões o acordo é assinado, e com ele se dava à Alemanha o Sudeto, cuja ocupação teria início em outubro próximo, desde que Hitler prometesse que esta seria a última reivindicação territorial da Alemanha.

O tratado foi assinado com a data de vinte e nove de setembro de mil novecentos e trinta e oito.

Essas notícias dividiam opiniões, alguns aceitavam isso com uma boa medida e que seria eficaz, para outras, porém, isso nada significaria e a guerra viria de qualquer forma, Jean achava tudo muito estranho, desconfiava de Hitler, via o Ditador Nazista como um homem ambicioso, e que tinha em mente a dominação total do continente europeu.

Chamberlain foi recebido como um herói à sua chegada ao Reino Unido, foi recebido por uma multidão no aeroporto de Heston, onde ele fez o famoso discurso onde proclama: “peace in our time” (paz para o nosso tempo), e acenou com a folha de papel branca para uma multidão em delírio.

Winston Churchill tinha uma opinião contrária a de Chamberlain quanto a este acordo: “Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”.
Com isso o ano de 1938 chega ao seu fim com nuvens escuras rondando a Europa.

Naquele Natal Jean e Evelyn passam juntos em Londres, as viagens estavam reduzidas devido as hostilidades em diversos países europeus, então devido ao risco as companhias aéreas reduzem seus voos, aquele Natal poderia ser o último em paz, e Jean resolve fazer algo diferente: seu apartamento era grande, ajeita a sua Sala de Jantar com uma mesa servida com inúmeros quitutes, vários deles de origem norte americana, várias velas, a sua janela dava vistas ao Rio Tamisa, com isso o clima natalino estava garantido, ele a convida a passar a noite com ele, os trabalhos no Embaixada naquele dia foi até as sete horas da noite, Jean sai de seu restaurante e vai até o Embaixada e a pega, assim vão juntos ao seu apartamento.

No rádio as músicas natalinas irradiavam um clima ameno naquele apartamento, Jean vai até ele e muda de estação até encontrar uma onde se podia ouvir uma valsa ser entoada, então ele vai até Evelyn a pega pelas mãos e a leva para o centro de sua sala, e dançam, parecia que estavam numa pista de danças, ao final trocam algumas carícias e se beijam.

Ele a leva à mesa, a ceia estava na hora, então levanta um pano ricamente ilustrado pondo a mostra uma bandeja com uma cúpula por cima dela, ele olha para ela e diz:
— Aqui está o principal prato da noite, para cumprir uma promessa.

Ele pede que ela levante a cúpula, e assim que ela o faz, por sobre a travessa, havia vários cachorros quentes, Evelyn dá um enorme sorriso, olha para ele e diz:
— Tenho certeza de que esse cachorro quente será o melhor cachorro quente que já comi em toda a minha vida.

Assim aqueles dois terminam a noite de Natal, muitos acontecimentos virão para perturbar o sossego desses dois corações apaixonados.

Walter Possibom, São Paulo, SP é autor de Um Brilho nas Sombras e Quando os Ventos Sopram na Pradaria. É editor dos Blogs Planet Caravan e Walter Possibom Escritor, e além de músico, Livre Pensador.

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