Clair de Lune — Capítulo 7

Atualizado em 28/07/2024 as 11:51:55

Jean estava em seu escritório ouvindo a BBC e cuidando das contas de seu restaurante quando ouve uma notícia que o deixa muito nervoso: a rádio anuncia que no dia anterior, vinte e três de agosto, Stalin assina um acordo de Não-Agressão com a Alemanha, a que foi chamado de Pacto Molotov-Ribbentrop.

Esse acordo deixa claro que a Alemanha estava prestes a desencadear uma investida em algum país e consequentemente incendiar o barril de pólvora em que estava a Europa, ele liga para Evelyn:
— Meu amor eu estou muito preocupado, acabei de saber pela BBC que a União Soviética assinou um acordo com a Alemanha de não-agressão.

Evelyn do outro lado fala:
— Ficamos sabendo disso também meu amor, o Embaixador está averiguando isso com as fontes, mas isso realmente é muito preocupante, devemos buscar seus pais na França, temo que nós estejamos próximos de outra guerra.
— Mas acalme-se, vou tentar descobrir mais sobre isso e n os falamos, acalme seu coração, estou ao seu lado e vamos aguardar as notícias.

Os dias seguintes passam com muita tensão, toda a Europa estava preocupada com o pacto assinado entre soviéticos e nazistas, embora as intenções não tenham sido declaradas elas eram evidentes e antecipavam um possível conflito.

Os dias se passam sob muita tensão, as notícias dão conta de novos conflitos em regiões fronteiriças, as fontes na embaixada dos Estados Unidos dão conta de que o exército alemão se aproximava da Polônia, Evelyn liga para Jean e lhe conta isso, ambos ficam muito mais preocupados, e de repente, no dia um de setembro, surge a notícia de que a Alemanha invadiu a Polônia, o mundo fica em alerta, essa podia ser uma centelha que explodiria o caldeirão e poderia causar um novo conflito mundial.

A Inglaterra realiza inúmeras reuniões em seus altos escalões militares, os políticos se agitam e exigem do Primeiro Ministro que se declare Guerra com a Alemanha, pois deveriam honrar o pacto de defesa com a Polônia, mas o governo e os militares se reúnem e não decidem nada, o silêncio incomodava a população inglesa em virtude da possibilidade de novas invasões por parte dos nazistas.

O dia três de setembro chega e com ele vem a declaração conjunta da Inglaterra e da França de Guerra contra a Alemanha. A Europa estava em guerra novamente.

Evelyn fica sabendo da notícia enquanto participava de uma reunião com o Embaixador e imediatamente pensa em Jean, aguarda o término da reunião e liga imediatamente para o marido, ambos ficam arrasados com a notícia, e preocupação de ambos eram os pais de Jean em Paris, pois fatalmente os alemães iriam tentar uma nova invasão à França, a história desses dois países, nos últimos séculos, era de conflito após conflito, os ressentimentos eram mútuos.

Jean tenta ligar para seus pais, mas as ligações telefônicas não se completam, havia um enorme congestionamento nas centrais telefônicas impedindo a comunicação entre os dois países.

Não havia nada a fazer. Os voos para Paris foram todos cancelados com medo de que os aviões pudessem ser interceptados por aviões alemães, as notícias sobre o conflito chegam de forma conturbada, não se sabia ao certo como isso tinha se dado, a BBC se esforça para manter a população informada, mas as notícias demoram muito a chegar e quando chegam são confusas e incompletas.

Jean estava extremamente agitado, começa a beber além da conta, Gregory tenta acalma-lo, mas ele também estava nervoso afinal de contas a sua família também estava toda lá, Evelyn tenta obter mais informações sobre o conflito, mas na embaixada as informações também são confusas, as fontes vindas de observadores que estavam próximos ao conflito tinham informações muito superficiais, mas ela percebe que há uma intensa movimentação e preocupação na embaixada.

Aquele dia, assim como os próximos, seria de incertezas e temores, após muita insistência Jean consegue falar com seus pais, eles estavam calmos em contraste com o nervosismo dele, e voltam a dizer que tudo estava bem, que o conflito era localizado, que o exército francês havia acalmado a população e que todos estariam protegidos em virtude do isolamento na fronteira causado pela Linha Maginot, não havia nada com que se preocupar, segundo os pais de Jean.

Mas ele não fica satisfeito, à noite Evelyn tenta acalma-lo, embora ela também estivesse extremamente preocupada, e tenta faze-lo ver que de certa forma a França tinha uma boa proteção, seu território era vasto, e que a Alemanha não deveria ter um exército capaz de penetrar pelo território francês, além de que a França teria a Inglaterra como aliada, aliás, a Inglaterra tinha seu melhor segmento do exército instalado na Europa e junto ao exército francês conseguiria repelir qualquer ataque à França.

Isso apenas ameniza a tensão, eles ficariam tensos até que tudo terminasse bem ou então que tivessem os pais de Jean junto a eles.

Jean estava em seu escritório fazendo suas habituais contas, de repente ouve uma gritaria vinda do salão do restaurante, levanta e vai ver o que estava acontecendo e vê uma pequena confusão na entrada, vai até ela e vê que os pais de Gregory estavam ali, e o amigo estava abraçado a eles, ele então se junta aos três e ficam todos juntos num abraço apertado, Jean fica emocionado em ver os pais de seu grande amigo, e que tinha por eles uma estima elevadíssima, amava-os como se fossem seus pais, e a pergunta inevitável surge:
— Viram meus pais?

Eles respondem imediatamente a ele:
— Vimos sim Jean e tentamos fazer com que viessem conosco, conseguimos um espaço dentro de um barco que transportava insumos agrícolas e haveria espaço para eles, mas você conhece muito bem os seus pais, sempre sorrindo como se estivéssemos no paraíso, me responderam que não havia motivos para preocupações, que a França estava suficientemente protegida e coisas e tal, e que não iriam abandonar o negócio que era da família há séculos e muito menos sair da cidade onde nasceram.

— Nós lamentamos muito Jean, mas tentamos convencê-los inúmeras vezes sem sucesso algum até que chegou a data do barco sair, e tivemos que vir sem eles, mas tenhamos fé de que tudo saia bem.

Os pais de Gregory decidiram ficar em Londres, iriam morar com o filho, pelo menos até que as cosas se acalmassem pelos lados da França.
Jean estava muito triste, a saudade que tem de seus pais aumenta muito, e o medo de perdê-los começa a tomar formas muito sólidas em sua mente, e isso o deixa o tempo todo muito consternado e preocupado, seu trabalho no restaurante começa a ser afetado por isso, Evelyn nota nitidamente o estado ansioso e depressivo com que o marido se encontra, e o pior é que muito pouco eles podem fazer.

Naquela noite ela liga para os pais de Jean, passa para eles a situação filho, e os convida a passarem um final de semana em Londres, quem sabe assim conseguiriam convence-los a ficar, mas eles não aceitam o convite, dizem que o trabalho estava intenso e não poderiam fazê-lo, Evelyn sente-se angustiada também pela situação, e pensa no que fazer para solucionar aquilo.

O final do ano se aproxima, o Natal daquele ano seria muito triste para Jean, então Evelyn tem uma ideia: iria convidar os pais de Jean para passarem essa data no apartamento deles, seria a grande oportunidade de convence-los a ficar, caso isso não desse certo ela estaria disposta inclusive a engravidar, o que não fazia parte dos planos dos dois pelo menos durante aqueles tempos, para que isso fosse um fator motivacional suficiente para que eles ficassem com ela e a ajudassem na gravidez.

Mas quando ligam para eles a resposta os deixam surpresos: Não poderiam vir devido à tradição familiar de manter o restaurante aberto nessa data, mas que logo após eles iriam para Londres a fim de passar um final de semana e matar a saudade de todos.

Os trabalhos na Embaixada Norte Americana se intensificam muito, porém há um aumento do efetivo devido ao maior número de militares que passam a dividir os espaços do local, devido ao intenso trabalho e dedicação de Evelyn, na semana que antecede ao Natal, no meio da tarde, o Embaixador a chama em sua sala, e diz a ela:

— Você tem sido mais que uma funcionária, tem sido uma grande amiga e companheira, eu quero te dar um presente neste final de ano, a você e a seu marido, um avião da Força Aérea Norte Americana partirá na quarta feira próxima dia vinte, e outro retornará para Londres no dia três de janeiro, eu quero que você e seu marido embarquem neles, assim visitarão seu pais, dos quais está distante há muito tempo, e gostaria que você passasse com eles durante as festas de final de ano, é um presente que quero te dar.

Evelyn chora diante do embaixador, ele se levanta vai até ela e leva um lenço, a abraça e diz a ela:
— Você é uma mulher excepcional, obrigado pela ajuda, você merece esse prêmio, estou te dando folga pelo resto do dia de hoje para você poder ir comemorar isso com seu marido.

Ela se levanta sai da sala dele e voa à rua pegar um táxi, vai até o restaurante do marido, quando chega lá ele está envolto em contas no escritório, quando ele se dá conta a vê e fica surpreso e preocupado, mas ela logo o acalma:
— Não fique preocupado meu amor, ganhamos um presente do Embaixador: podemos ir aos Estados Unidos visitar meus pais e passar o Natal com eles através de um avião da Força Aérea Norte Americana.

Jean levanta da cadeira e voa nos braços dela, se abraçam trocam um beijo e algumas lágrimas escorrem dos olhos dele pela emoção de ver sua amada feliz e por sentir que poderia estar feliz também com seus pais ao seu lado.

Ficam ansiosos pela viagem, e se preparam para ela, enquanto arrumava as malas uma ideia vem à mente de Jean: talvez o embaixador conseguisse uma autorização para que ele embarque em algum avião militar até Paris, quem sabe ele conseguisse convencer seus pais em voltar, iria pensar melhor nisso, depois falaria com Evelyn.

O dia vinte de dezembro chega e os dois já estão no aeroporto aguardando por uma pessoa da aeronáutica que seria o contato deles, não demora muito e essa pessoa chega e os leva até o avião militar, entram na aeronave e são conduzidos aos seus assentos, eles apertam os cintos se dão as mãos, e logo o avião inicia o procedimento de taxiamento, eles percebem que havia outras pessoa a bordo e que não pareciam ser militares, o avião vai até a cabeceira da pista recebe a autorização e levanta voo iniciando a longa viagem até os Estados Unidos.

O avião iria até Nova Iorque e de lá pegariam outro vôo que os levariam até Miami onde moravam os pais de Evelyn.

Após uma longa e cansativa viagem descem em Nova Iorque, já haviam comprado antecipadamente as passagens para Miami, na volta para Londres não precisariam se preocupar com isso, pois o avião militar que os levaria de volta sairia de Miami, então vão até o bar do aeroporto e bebem um café quente, fazia muito frio.

Pegam o avião para Miami e lá chegando pegam as suas bagagens e se dirigem à saída, após passarem pelo portão de desembarque Evelyn vê seus pais, as lágrimas e correm do rosto dela e eles voam em direção a eles, se abraçam se beijam e matam a saudade que tinham em seus corações, só então vão ao carro do Sr. Mason, Jean senta à frente junto dele e Evelyn e a Sra. Geórgia sentam-se juntas no banco traseiro.

Quando chegam à casa deles as coisas são descarregadas do veículo e eles entram à casa, sentam-se e lhes é servido uma bebida gelada, em Miami fazia calor ao contrário de Nova Iorque, então sentam-se e bebem a refrescante bebida com gosto.

Os dois se divertem muito pelas belas praias de Miami, o sol tão raro em Londres é devidamente aproveitado por eles, a comida era boa, a diversão era garantida, e por aqueles dias conseguem ficar isolados da Europa e com isso se esquecem temporariamente de tudo o que estava acontecendo por lá, o que faz com que ganhem fôlego com isso.

As festas de final de ano acontecem num clima de muita felicidade, familiares de Evelyn se fazem presente e todos se divertem muito.

O dia da volta chega, os pais de Evelyn os levam até o aeroporto, e assim com na vida, são recepcionados por um militar que os conduz ao avião, embarcam e voltam à Londres.

Voltam aos problemas, e aos sofrimentos, o ano de 1940 inicia com uma Europa muito confusa e prestes a ver desencadeado o maior conflito armado de toda a sua história.

Walter Possibom, São Paulo, SP é autor de Um Brilho nas Sombras e Quando os Ventos Sopram na Pradaria. É editor dos Blogs Planet Caravan e Walter Possibom Escritor, e além de músico, Livre Pensador.

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Clair de Lune — Capítulo 1

Walter Possibom
Londres, 1936. A década de trinta estava sendo marcada pela Grande Depressão, a ela se associava graves ...

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