Normalmente, de onde nada se espera costuma sair isso mesmo: nada. Mas hoje tenho um exemplo da situação contrária.
Chamam no portão de manhã, vou lá, é um cara vendendo panelas. Morro de pena de vendedores ambulantes, principalmente de produtos difíceis de vender. É um dos últimos subempregos, só mesmo para quem está desesperado. O tal sujeito, por increça que parível, é bem humorado. Penso em despachá-lo rapidamente, mas, caso ele seja um bom vendedor vai insistir e eu não tenho tempo para conversas… Aí digo que moro na casa por um período curto (não sei bem o que isso tem a ver com não comprar as panelas, mas foi o que eu pensei na hora). Minhas palavras textualmente são:
— Não, obrigado, eu só estou aqui de passagem.
Vejo que ele leva uns segundos para assimilar (não é pra menos, que diabos eu quis dizer??), mas logo abre um sorriso (depois de uma negativa, eu não conseguiria) e fala, com carregado sotaque nordestino:
— Todos nós estamos, não é mesmo? Bom dia pro senhor!
E segue seu caminho. Fico um bom tempo parado feito um dois de paus diante do portão fechado, refletindo sobre a profundidade despropositada daquilo que ele falou. Se é que ouvi direito. Se é que ele quis mesmo dizer o que eu acho que ele quis dizer. Se é que ele não é tão confuso quanto eu.
SLMB, 28/09/2024, 17h34
Celso Moraes F., São Luís dos Montes Belos. Lecionou Literatura, Português e Redação por 17 anos, passando depois a trabalhar com Revisão Textual. É escritor, quadrinista, poeta e Livre Pensador.