Das muitas considerações das funcionalidades do Estado, feitas por pensadores e cientistas sociais e políticos, ao longo de séculos e milênios, há uma premissa que a realidade se impõe. O Estado tem como função, organizar a sociedade para o bem e para o mal.
Mas este pequeno texto, em um pequeno espaço, tem como função se debruçar nas complexidades que o tema exige. Eu, o agente efetivo do aparelho repressivo do Estado, estava eu na segunda metade do terceiro decénio do século XXI, guardando e resguardando um aparato educacional infantil. Eu na funcionalidade estatal que me cabe, estava protegendo um aparato estatal em uma zona periférica e muito carente da cidade onde vivia. E um pouco de contexto aqui, a unidade estatal educacional, era monitorada remotamente por câmeras de vigilância e alarmes da infraestrutura, por uma empresa privada. Em uma parceira público e privada e nada de novo no front.
E o problema aqui não é a parceria entre a superestrutura e a infraestrutura, o poder público e o setor privado. E sim, um ruído, pois na calada da noite os sensores de movimento começaram a disparar seguidas vezes, o alarme berrava bem alto e seguidas vezes a toda hora. E vinha ele, o agente de segurança privado, na funcionalidade contratual que lhe cabia, que se chocava com a minha funcionalidade estatal. Uma vez que, eu estava ali, como agente de segurança estatal e uma vez sozinho no aparato estatal, ninguém poderia entrar, fosse quem fosse, salvo raras ocasionalidade.
E para os ridículos da vida, em debate na calada da noite, eu um agente efetivo do Estado ponderando a um agente do aparato privado. Ele querendo inspecionar o aparato educacional e eu na outra ponta deixando claro que ali ela não poderia entrar. Um debate áspero entre um ente estatal e um ente da iniciativa privada, na porta de entrada da unidade estatal. Em uma discussão entre fardas. Vencido por fim, o sujeito bateu os cascos e partiu, mas antes proferiu uma ameaça, iria me denunciar para a direção do aparato educacional quando a luz do dia raiasse. Claro que, eu repassei o infortúnio ao meu chefe imediato, assim que foi possível e o meu chefe imediato simplesmente se espantou e nada me disse. Uma senha para que eu que deveria lidar com a tal situação do jeito que me cabia, pois no aparato estatal, autoridade simplesmente se impões. Eu concordo com isto? Eu não sei dizer, pois a realidade sempre se impõe, gostando ou não da realidade quem que vive, pois a realidade sempre se impõe, gostando ou não.
E a ridiculice bem poderia ter morrido ali, mas não morreu, pois no turno seguinte, um segundo embate se sucedeu, a semideusa, a querubina que dirigia o aparato Estatal veio me enquadrar. Pois a querubina, que quedou de lá das tensas alturas veio ao subsolo, disse que o agente da infraestrutura tinha passe livre para entrar no aparato educacional. A semideusa, ponderou que assim rezava o contrato entre o poder público e o poder privado e em resposta saquei da autoridade que me cabia. Pois a querubina, semideusa sendo do aparato educacional eu aparato de segurança, no meu turno quem mandava ali era eu.
Os sensores de movimento dispararam outras vezes? Claro que sim! Berravam bem alto, ecoando madrugadas a fora. E o agente de segurança da infraestrutura adentrou no aparato? Somente nos sonhos dele, simplesmente passava na frente do aparato, conversava comigo e ia embora.
Fragmento do Livro: “Dos Ridículos da Vida”