Atualizado em 04/08/2024 as 11:08:26
(A entrevista a seguir, feita por e-mail em 2010, foi a porta de entrada de uma parceria que render três óperas rock e uma grande amizade. Amyr Cantúsio Jr., aka Alpha III é um tantos gênios musicais que o BarZil tem e, à exceção de pouquíssimos, desconhece. Um país desmeriado, ou pior, acéfalo, que prefere as besteiras de coisas como Funk Carioca, Pagode, etc. Procurem o trabalho dele nas redes, como Youtube e Facebook. (BC 12/03/2024)
“Segundo a Revista Valhala, Amyr Cantúsio Jr é: “Autoridade máxima da música progressiva/eletrônica do Brasil, o multi-instrumentista Amyr Cantusio Jr. foi o líder do grupo Alpha III que fez um grande sucesso na década de 70 com dezenas de álbuns lançados no Brasil e exterior.”
No inicio de Julho de 2010, Johnny F. Administrador do Pub e Rádio Web Underground Lágrima Psicodélica, sugeriu que eu fizesse uma matéria para a Revist’A Barata, a respeito de Amyr Cantúsio Jr. Conhecia o trabalho dele através das mãos de Raimundo Raine, dono da Medusa Records que me dera o CD, numerado aliás, da banda “Spectro”. Usei várias musicas desse CD inclusive, como “background” de meu programa Rádio Barata. Mas, ao pesquisar tomei um susto pela minha ignorância a respeito do tamanho do talento de Amyr. Basta “googar” (novo verbo surgido com a Internet, que significa: “Procurar no Google” e tomar um susto. E ficar pasmo com nossa ignorância – ao menos da maioria das pessoas nascidas nessa terra do futebol – nem isso agora…. Bem, a matéria inteira sobre o trabalho de Amyr sairá no próximo numero da Revist’A Barata, mas em primeira mão, fiquem com uma entrevista com Amyr. E depois “googuem” e conheçam mais o trabalho desse musico fantástico.
Fale primeiramente sobre sua carreira, como foi o início, qual é sua formação musical.
Amyr: Formação básica é violão clássico desde os sete anos e piano erudito desde os 12 anos. Minha mãe era professora da PUCC (época que esta Universidade continha um curso excelente de música). mas sou autodidata mesmo. Nasci tocando já!!!Minha mãe corrigiu certas imperfeições técnicas. Depois estudei muito em vários conservatórios e fiz Extensão Universitária em Música Contemporânea Erudita na Unicamp. O que ouvia na época era muito rock e música erudita juntos. O que me facilitou a coisa toda. Minha primeira banda Arka foi montada em 1970… depois o Spectro em 1974 (já gravamos um pré LP nesta época).
Quantos discos, entre CDs e LPs, lançados até agora?
Amyr: Amigo, tem muita coisa gravada além dos sete LPS e sete CDS oficiais. Tem mais uns 20 CDS independentes, parcerias, umas 800 trilhas, umas 500 vinhetas, etc…
Tem ainda o Spectro relançado em 100 cópias independentes pela Medusa de S.P., CDs coletâneas no México, Brasil, Itália, Espanha, etc…
Fale um pouco sobre sua vida pessoal, se é casado, tem filhos, essas coisas.
Amyr: Sou casado desde 1981 (herói!!!!) e tenho um filho de 28 anos. Temos um Espaço Cultural pequeno em casa para danças orientais chamado Lince Negro (nome de uma música minha do Spectro), ele é administrado pela minha esposa Cathia A. Cantusio. Na parte filosófica da questão tudo vai bem… obrigado.
O que pensa sobre a divulgação de música, em MP3, via sites e blogs? Pirataria pura ou forma de divulgação e disseminação de cultura?
Amyr: Acho os dois itens vigentes. No atual momento a mídia capacitou o povão com máquinas de download, CDRS, gravadores, etc. Deu a arma e atirou no próprio pé. Não tem como segurar mais isto ou consertar. MP3 não vende por experiência. Todo mundo baixa gratuitamente. Inclusive eu. Não tem solução e não adianta chiar ou ficar bravo. A música gravada acabou como produto de venda. Raros colecionadores e entusiastas gostam do CD ou LP oficial (este em alta agora). Fora isto a massa gosta é de MP3 grátis mesmo!
Tem feito alguma apresentação ao vivo? No Brasil ou no exterior?
Amyr: Muito pouco. Não há espaços suficientes, não há interesse na boa música. Não há produtores mais, nem incentivos, nem cultura para absorver a demanda intelectual da música elevada. O povão manda… é merda rolando em massa, nas rádios, TVS e shows. Também vejo esta questão sem solução. São raras apresentações boas e poucos interessados. E não é pessimismo. Realidade pura na prática.
Amyr, como foi à apresentação no Rio Art Rock Festival em 2008?
Amyr: Este foi um grandioso momento para meu trabalho. Apesar do atraso (poderia ter acontecido 10 anos antes, eu estava com uma banda no apogeu e com mais disposição física, mental e psíquica!!). A recepção foi calorosa, e apesar deste dia eu ter chegado com esgotamento físico e com cefaleia, fiz uma apresentação matadora e com muito improviso com meus dois ilustres amigos músicos convidados, o Marcelo Diniz (keyboards) e o Fabio Fernandez (drums) Aliás, Fabio é batera da Banda do Sol e do Lumina, duas grandes bandas brasileiras! O RARF foi sensacional. Em tudo. Desde a apresentação até o camarim, o efeito posterior, etc. Fizemos tudo que podíamos na ocasião. Lindo!!
Recentemente foi divulgado que você estaria criando um tributo ao Van Der Graaf Generator, fale sobre esse trabalho.
Amyr: No meu site no Myspace há uma gravação já realizada em que coloquei TODOS OS teclados (órgão, synth, elka strings) na música Lizard Play do álbum The Quiet Zone (Van Der Graaf Generator). Neste álbum o excelente tecladista Hugh Banton não toca e não há teclados nestas músicas. Eu coloquei por experiência e ser o Graaf uma das bandas que mais aprecio!! Está lá para ouvir!!
E sobre o trabalho quem engloba os chamados clássicos do Rock Progressivo?
Amyr: Também neste site e noutro há Tributos que fiz ao EL&P, Mike Oldfield, Gentle Giant, Pink Floyd, Gênesis, etc. tá lá algumas faixas para se ouvir. São releituras que fiz tocando tudo!!
Um dos trabalhos em seu inicio de carreira foi com a banda “Spectro”. Fale um pouco sobre esse trabalho.
Amyr: Então amigo este foi um momento sui-generis de minha vida, pois os anos 70 foram mágicos, maravilhosos! Esta banda era minha extensão do alter-ego. Tocamos de 1974 até 1979. Fizemos muitos shows no Brasil todo, amigos, curtições, viagens alucinantes, etc. O Spectro ensaiava numa fazenda de Sto. Antônio da Posse, perto da Holambra. Ficávamos três dias tocando sem parar, queimando uns “baurus”, olhando pela janela do quarto a lua cheia, chapadíssimos, e muitas vezes sem comer!!Era só música e metafísica prânica cara!!! Uma coisa que jamais esquecerei!! Este CD do Spectro eu tinha, que foi lançado pela Medusa Records com cópias numeradas. O que acha disso, de cópias numeradas.
Eram 100 cópias!! Ficaram lindos. Foi um resgate muito duro passar para CD isto. São cinco músicas + 3 bônus de época. Estavam gravados num Rolo Teac de dois canais, com muito chiado!! Fizemos mágica em recuperar estes sons. Agora recentemente o baterista apareceu com cinco cassetes bons que gravávamos nas Jams de Sto. Antônio da Posse e já remasterizei para um projeto de LP!!Se algum produtor estiver interessado está pronto. E isto vende bem!!!
Seu trabalho é reconhecido em várias partes do mundo. Você é considerado um dos melhores tecladistas do mundo. Mas no Brasil pouca gente conhece. O que acha disso?
Amyr: Bom para os estrangeiros e infelizmente para o brasileiro que só aprecia futebol, uma grande perda, uma chance de conhecer melhor um músico da terra, assim como outros músicos que sofrem da mesma maneira!!!
Alpha III é seu pseudônimo ou o nome do projeto? Ou as duas coisas???
Amyr: Alpha III aparece num filme de Jornada das Estrelas (clássica) citado como uma colônia de leis galáctica. Também seria uma hipotética terceira estrela da Constelação do Cruzeiro do Sul (que tem ALPHA II). Na realidade é ALPHA TERCEIRO (III) nome de constelação e pseudônimo musical meu , criado pós Spectro em 1982 num show da Concha Acústica de Campinas.
Fale sobre seu trabalho “Pictures At Exibition”.
Amyr: Cara, esta peça me acompanha desde 1970!!Depois de ouvir ainda por cima e EL& P arregaçar numa performance dela, resolvi um dia grava-la da minha maneira. Quando estava estudando na Orquestra Sinfônica de Campinas, nos anos 80, curti muito o estudo básico da música russa(Grupo dos cinco, com Mussorgsky, Rimsky Korsakov, Cui, Glinka, Borodin). Recentemente gravei a peça toda com pianos e orquestrações sinfônicas de sintetizadores e umas versões mais rock. Está pronta para lançar em CD e LP também!!!
Na seu definição no My Space você se diz “Agnóstico”, fale um pouco sobre seu lado místico.
Amyr: Agnóstico quer dizer “sem religião”. Sou cidadão da Terra(como diz a letra dos Mutantes em Tudo foi feito pelo Sol). Sempre estudei ocultismo, yoga, filosofia védica, magia. Fui um iniciado externo da Bhakti Yoga de Swami Prabhupada durante 15 anos, desde os anos 70. Prabhupada foi Mestre de George Harrison e fundador da Consciência de Krishna. Foi um marco na música dos Beatles, e na minha vida pessoal. E no mundo todo!!! Hoje posso dizer que sou um adepto profundo da Escola Védica (filosofia budista, vedanta e tibetana)também sou membro da Ordem do Dragão (ocultismo)Além do mais sou psicanalista e ministro musicoterapia alternativa, para estados e curas através da consciência elevada.
Citaria que minha formação básica inclui: Osho, Prabhupada, H.Blavatsky, Aleister Crowley e a Gnose de Samael Aun Weor( a qual fui membro também iniciado por mais de 12 anos) etc. e tal!!
Qual sua ligação com a “Academia Lince Negro” Dança do Ventre?
Amyr: Como citei acima, é a escola de minha esposa!!!!
Conte sobre seus projetos para o futuro.
Amyr: Estou com 10 trabalhos prontos com capa e tudo para prensar em LP ou CD. Só falta produtores!! Entre eles: Infernus ( baseado em Dante Alighieri), Grimorium Verum (baseado na magia europeia), Fracture( baseado na escola de Fripp e Floyd…experimental), Quadros de Uma Exposição, Spectro, Cosmic Meditation, Cosmic Krishna (world indian music), Ishtar (world egyptian music), Voyage beyond the galaxies, Temple of Delphos (LP de 1988 remasterizado), Entre outros!!! Shows e Projetos não faltam…faltam espaços e prática dos mesmos!!!
Bem, agora, fale sobre algo que eu tenha esquecido de perguntar e deixe seu recado os leitores de A Barata. E obrigado.
Amyr: Eu agradeço profundamente a você e a paciência de todos em ler esta entrevista. Muito relevante para mim e meu trabalho! Creio já ter colocado algumas questões chave acima. E obviamente sempre respondo e-mails. Quem estiver a fim de se comunicar me escreva!! [email protected] . Namastê!!!!!!!!!
15/07/2010
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Grandes!!Muito grato Barata o Tempo passa a gente nem se lembra de muitas coisas relevantes!!!