Entrevista | Barata Cichetto a Fábio G. Barbosa, Fanzine Reboco Caído

Atualizado em 08/07/2024 as 21:56:14

Em 2015, dei uma entrevista a Fábio G. Barbosa, do fanzine (impresso) “Reboco Caído”.

1) Pra que fazer poesia?
 
Lembrei-me de imediato uma entrevista do Leminski em que falava sobre o porque da Poesia. “pra que por quê?” perguntava ele. Mas, de fato, sua pergunta é a mesma que me faço: pra que fazer poesia dentro desse caos? Talvez porque todo poeta tenha vocação a ser Lúcifer, e trazer luz aos homens.

2) Você possui alguns veículos e espaços onde divulga seu trabalho e de outras pessoas. Como funciona essa parte da produção?

Durante muitos anos, em A Barata, publiquei autores e criei espaço para bandas independentes, mas com o surgimento dos blogues e das redes sociais, o interesse diminuiu. Muito antes do My Space, criei espaços gratuitos para bandas nesse site. Atualmente tanto ele quanto meus blogues divulgam apenas minha produção artística, que, aliás, é bem intensa e diversificada. Sempre fiz tudo sozinho, mesmo quando A Barata tinha um conteúdo monstruoso e rendia mais de 2.000 acessos mês.

3) Do mimeógrafo para a internet:

Comecei a publicar minhas coisas em mimeografo, ainda pelo meio dos anos 70. Participei de algumas publicações importantes da época, como o “Cogumelo Atômico” e “Semente”. Em 1980 publiquei um livro de Poesia “Arquíloco” nesse processo. Era um trabalho imenso e pouco abrangente, embora delicioso pelo aspecto de que a forma de chegarmos às pessoas era no corpo a corpo ou por correio. A Internet nos deu maior abrangência, maior penetração, mas por outro lado, perdemos esse “costume” de estar com as pessoas, o que é fundamental na poesia. Embora seja uma forma fantástica de divulgação, acho que ela não se presta de fato à Poesia, pois ela necessita do contato, do olho no olho, no sentir a respiração do receptor, essas coisas. A busca, hoje, ao menos da minha parte, é encontrar o melhor dos “dois mundos”, por isso não abro mão do livro e fanzine impressos.

4) A música na escrita e a escrita na música:

No final, acho que é um casamento forçado, uma espécie de casamento arranjado. Quando uma poesia se torna letra de musica, deixa de ser poesia. Não é bom nem ruim, isso, apenas é outra coisa. Tive algumas experiências desse tipo, com poesias minhas musicadas e embora tenham ficado belas, não sentia nelas mais a minha poesia, era outra coisa. E mesmo que um musico seja também poeta sempre vai ocorrer isso. Chego até ser radical nisso, concordando com alguns puristas da musica, que dizem que estragaram a musica quando colocaram letra nela. E vou mais além, acho que estragaram ambas. O problema é que, como quase ninguém mais lê poesia, o meio musical se transformou num caminho fácil. Um exemplo disso: acho Legião Urbana uma merda como banda, mas as poesias do Renato Russo são boas. Mas aquilo, musicado, fica horroroso. Entra ai uma questão: se ele não tivesse uma banda, não tivesse chegado a ser conhecido por estar a frente de uma banda, onde teria chegado? Provavelmente seria mais um desconhecido. O problema está numa sociedade mal formada, que prefere artes que tem um apelo “popular” mais forte.

5) Um pensamento:

Não sei a resposta para a eterna pergunta, se é a vida que imita a arte ou o contrário, mas sei que maioria de nós tem péssimas imitações das duas coisas.

6) Uma certeza:

A morte, claro!

7) O fechamento:

Eu não consigo ter uma visão positiva com relação ao futuro da humanidade. Nada dessa coisa ridícula de fim do mundo, essas coisas, mas com relação a valores essencialmente humanos. Guerras sempre aconteceram e sempre acontecerão, conflitos pelos mais diversos motivos. Mas o que percebo é que se aceleram guerras e conflitos travados em campos mais profundos e perigosos do que os de batalha. E o ser humano transformado em um joguete nas mãos de poderosos. Obrigado, Fábio, pela oportunidade.

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