Fabio Sliachticas, foi fundador da banda “Imperial”, tecladista, vocalista, programador de bateria eletrônica etc. A banda, que durou dez anos, apresentava uma proposta musical baseada no Pop dos Anos 80 com fortes influências de Sisters Of Mercy e apoiada em letras muito fortes. A banda se desfez este ano, mas Fábio que também tem um trabalho voltado para HQ, tem na manga um novo projeto musical. Nesta entrevista, concedida por E-Mail em Novembro de 2006, ele fala sobre como começou e o trauma causado pelo seu fim.
1. Barata: Bem, queria que você falasse sobre a banda Imperial, quando e onde foi fundada e qual era a proposta?
Fabio Sliachticas: A banda foi fundada em São Paulo em abril de 1996. A proposta era unir o estilo “metal tradicional” do Dennis e do Daniel as minhas influências de gothic rock e pop inglês dos anos 80.
2. Barata: Fale sobre suas influências, mas não apenas musical, mas cultural em geral.
Fabio Sliachticas: Eu mais leio do que ouço música e tenho interesse por história e política internacional recente, sociologia, guerra e religião.
3. Barata: O nome, “Imperial” soa um pouco estranho, ao menos diferente. Porque a escolha desse nome?
Fabio Sliachticas: Bom… está cheio de bandas com nomes estranhos por aí, não? A escolha do nome foi minha e não colocaria esse nome em uma banda hoje…
- 4. Barata: Quem eram os outros músicos da banda?
Fabio Sliachticas: Dennis Martins – guitarrista e Daniel Passos – Baixo.
5. Barata: Quantos discos a banda lançou, entre Demos e CDs? Como era a produção? Era Independente?
Fabio Sliachticas: Não saberia te precisar quantas demos e CD’s nós fizemos nos quase dez anos de banda, mas destaco a demo tape Eterna e os CD’s Seis Anos Queimando na Terra de Ninguém e A Grande Batalha.
6. Barata: Porque e quando a banda acabou? Sabe por onde andam o restante dos músicos?
Fabio Sliachticas: Para uma banda “dar certo”, é preciso muito dinheiro, é ver quem está aí no cenário ou quem já passou pelo cenário com algum sucesso – só tem gente que já tinha muita grana antes do sucesso. Não é só ter algum valor ou se dedicar e correr atrás. Você precisa pagar para aparecer, pagar para tocar em uma casa e pagar para que toquem seu som no rádio. Sem esse dinheiro tudo vira um martírio e você pode ficar 100 anos por aí, tocando em barzinhos e distribuindo demos para os chegados e não chegar em lugar nenhum. Não sei sobre o restante dos músicos e depois do que aconteceu, eu espero não encontrar com nenhum deles tão cedo.
7. Barata: Como eram os shows da Imperial. Como as pessoas reagiam á mensagem da banda? Onde vocês tocavam?
Fabio Sliachticas: Tocamos em vários lugares e sempre tivemos uma empatia muito grande com as pessoas, seja qual for o tipo de música que curtiam. Pode soar estranho, mas não tinha aquela coisa de pessoas assistindo a uma banda, quando a música começava era como se fossemos uma coisa só. Era arrebatador e forte. Só lamentava o tradicional amadorismo e a falta de respeito dos lugares em que tocamos.
8. Barata: E essa coisa de as bandas hoje estarem limitadas a tocar apenas em bares, com um público nem sempre atento e donos que só pensam na caixa registradora?
Fabio Sliachticas: É tudo muito triste e desestimulante. O donos dessas casas são uns porcos e o mais lamentável de tudo é que as bandas se sujeitam a isso numa boa. Não há o mínimo de dignidade por parte dos músicos (que na maioria das vezes são meros baladeiros com instrumentos nas mãos).
9. Barata: Vocês usam bateria eletrônica. Não acha isso pouco musical, além de do fato de muita gente considerar que isso tira o emprego de outros músicos. A opção pela bateria eletrônica é musical ou econômica?
Fabio Sliachticas: O uso de bateria eletrônica é pouco musical quando a pessoa que a programa não acredita ou não tem intimidade com o instrumento ou mesmo quando o programa de maneira tosca, o que é a maioria dos casos. O “baterista” do Imperial já recebeu elogios até de bateristas que ficavam desconcertados quando falava que fui eu que havia escrito a música. Sobre tirar o emprego dos músicos é um ponto de muita alegria para mim, pois a minha idéia é tirar o emprego de todos. É difícil encontrar pessoas sérias e a fim de alguma coisa que não seja mera diversão nesse meio. Já cansei de ter desgosto com músicos.
10. Barata: Suas letras são muito fortes. Acha que isso é importante dentro da música? A opção por letras em português foi consciente, já que a maioria das bandas, de olho em mercado sempre faz letras em inglês?
Fabio Sliachticas: Eu sou suspeito para falar disso. Acho que a letra é a pedra fundamental da música. É onde entra a política, o comportamento e outros temas que fizeram o rock tão importante nas últimas décadas. Canto em português pois acho que consigo fazer isso sem soar como rockinho nacional. Adoro cantar em português, mas odeio rockinho nacional.
11. Barata: Ao menos duas de suas letras citam aspectos relativos á religiosidade, ou falta dela. “Automática (O Meu Tipo de Fé)” e “O Povo Pagão”. Como você vê essa questão?
Fabio Sliachticas: Na verdade, um tema muito constante nas minhas letras. A religião é muito importante na nossa vida. Mas a religião verdadeira, nossa ligação direta e sincera com Deus. Cada um do seu jeito e não por intermédio dessas igrejas que só exploram o vazio, a frustração e o desespero das pessoas.
12. Barata: A Imperial volta á ativa? Quais são seus planos para o futuro da banda, se é que existem? Caso positivo, a proposta continua a mesma?
Fabio Sliachticas: Tenho muitas músicas que quero terminar, muitas mesmo. Não pretendo continuar com o Imperial, pois não quero mais trabalhar com os músicos que estavam comigo. Mas o que vou fazer não será muito diferente, musicalmente falando.
13. Barata: O que você acha do Rock atual, particularmente o brasileiro? Tem escutado alguma banda?
Fabio Sliachticas: Não consigo ouvir nada. É musica de gente tosca e sem cultura para gente tosca e sem cultura. Nosso cenário sempre foi pobre, mas agora está num nível assustadoramente baixo.
14. Barata: Em sua opinião o Rock tem futuro, como Música e como movimento? Qual é a saída?
Fabio Sliachticas: Claro que tem. O problema é que o rock está sendo usado para alienar e acabar com o resto da mente das pessoas. Virou mais um veículo de idiotização, como a TV. É difícil apontar uma saída, pois isso depende quase que exclusivamente do público que consome material de baixa qualidade e as vezes sem se dar conta disso. E também não há interesse das gravadoras em criar muita alternativa, é mais fácil trabalhar em cima de um nome só.
06/12/2006
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.