Atualizado em 04/08/2024 as 11:06:04
Conheci o Pedrão, Pedro Vicente), da banda Máxima Culpa meio por acaso: eu estava com problemas de hospedagem com o site e ele tinha uma empresa de Host. Daí travamos uma grande amizade, que para variar, com o tempo, fomos nos distanciamos. Esta entrevista foi feita por email em 2007, pouco antes ou pouco depois, não lembro bem, de uma que concedi ao site dele, chamado Club Rock. (BC, 13/03/2024)
Pedro Vicente, o Pedrão, tem 46 anos e tem um histórico extenso dentro do Rock. Em 1977, era vocal da banda Punk Lixo de Luxo. Atualmente, Pedrão forma, juntamente com Fejão (Bateria) Mamorra (Guitarra) e Sá (Baixo), a banda Máxima Culpa que “Tem como temática principal a denúncia do Comércio que vêm acontecendo às voltas de Igrejas, Tendas de Fé, Assembleias. E é sobre a Máxima Culpa e a carreira de Pedrão esta Entrevist’A Barata, feita por E-Mail, no final do Inverno de 2007. .
Barata: Bem, Pedrão, gostaria que você falasse um pouco do passado, como aconteceu a história da Lixo de Luxo?
Pedrão: Foi uma época bastante conturbada, a Ditadura não deixava as pessoas se expressarem. Principalmente o Rock era muito cerceado, e muito mal visto pelos dominadores do País!
Na Inglaterra surgiram os Sex Pistols e Ramones, e a gente teve o privilégio de sermos um dos primeiros caras a ouvir, e combinamos, vamos fazer uma banda de Rock! E a gente era muito louco na época, teve um festival que eu sai do palco, fui no banheiro peguei a lata de lixo e joguei encima dos jurados, (Risos)
Em outra oportunidade na faculdade Anhembi Morumbi o público quebrou as cadeiras, e a direção disse pra gente nunca mais aparecer por lá, pow estrago total!
Cada show algo diferente, e a gente tinha um público muito fiel, e arrasador também, (Risos)
Barata: Em minha opinião, o movimento Punk, foi um divisor de águas dentro do Rock e a partir dele vieram muitas atitudes e posturas, algumas boas outras nem tanto. O que acha disso? Como enxerga o “Movimento Punk” atualmente?
Pedrão: O Punk Rock serviu para expressar indignação, valorizar a simplicidade, dar oportunidade de se fazer Rock mesmo para quem não sabia tocar direito, 3 , 4 acordes e o som surgia, com muito vigor. As letras embora algumas até vulgares, era uma alerta da dominação do homem pelo homem, teve e ainda tem um papel muito importante, não apenas no Rock, mas na história da música!O movimento hoje ainda é forte principalmente no Sul do país!!
Barata: De onde surgiu a ideia da criação da banda Máxima Culpa? Há quanto tempo a banda existe?
Pedrão: Surgiu em 1993, quando o Mamorra convidou a mim e o Sá para a gente voltar a fazer um som, e matarmos as saudades dos velhos tempos. Havia muito tempo que a gente considerava esse retorno aos palcos, e finalmente aconteceu.
Barata: A banda foi criada a partir da temática ou foi uma decorrência?
Pedrão: Primeiro a banda foi formada, a temática veio depois. A cada dia que passava a nossa percepção aumentava que muitas bandas falavam de injustiças sociais, etc., mas ninguém tocava nesse “vespeiro”, que é o “Comércio da Fé”.
Barata: Aliás, interessante essa coisa de uma banda com uma temática única, no caso da Máxima Culpa, da questão da exploração da fé. Mas por outro lado, não acha que isso pode ser ruim, tolhendo a criatividade, ou ser rotulado?
Pedrão: Bem, na realidade não é a proposta única, e sim, nosso backbone, uma “Espinha Dorsal”, um pano de fundo. Em nossos CDs, enfatizamos também as questões sócias-políticas , má distribuição de renda, etc.
Para se falar de temas similares, contrário ao que se pensa, é um desafio constante, pois não fugir do foco, e ao mesmo tempo contar histórias parecidas, mas diferentes, é bastante complexo.
Em nosso primeiro CD (Rock), os temas eram variados (incluindo já algumas músicas do movimento DQ – (Denúncias e Questionamentos), nele tem músicas bem Humoradas, músicas que falam de baladas, sacanagem, alguns palavrões (foi feito logo após o final da censura).
Outras bandas fizeram álbuns temáticos, como Black Sabbath, Planet Hemp, Raimundos, Nação Zumbi, Sex Pistols, sem falar nos grupos de RAP, sei lá acho que estamos bem acompanhados.
O fato de ser rotulado? Vejo muitas bandas com essa preocupação de “NÂO SEREM ROTULADOS”, qual o problema?
Você pergunta, qual o som que fazem, e a resposta é “não gostamos de ser rotulados”, e completam com algo pretencioso, ou arrogante, do tipo, “fazemos um som diferente de tudo”, e o pior, outros ainda dizem q não querem ser rotulados, mas que fazem “som parecido com essa ou aquela banda”, pow pára com isso!
Podem nos rotular à vontade… Nossa preocupação em relação a isso “é igual à zero”.
Barata: O público entende bem a mensagem de vocês? Pergunto isso, porque nós brasileiros, temos por base familiar uma educação religiosa cristã muito forte e certos dogmas religiosos estão enraizados.
Pedrão: Tudo que é novo as pessoas demoram um pouco para entender… Ás vezes uns pensam que somos GOSPEL, outros pensam que somos “Anticristo”, nada disso!!
Respeitamos a religião de cada um, mas isso não impede que questionemos os valores, a bronca maior é com os falsos religiosos, que usam isso apenas para se aproveitar dos FIÉIS, fazer lavagem de dinheiro, enganar, fazer chantagem com o dízimo, pegar a grana das ofertas, e enfim enriquecer ilicitamente!
Esses caras têm que ir pra cadeia!!
Muitas vezes os fiéis têm culpa, pois não pedem prestação de contas.
Eu acho que a grana da igreja deveria ser depositada em uma conta no banco, o acesso ao extrato deveria ser público, e tudo muito transparente!!
Mas a cada música ouvida, cada entrevista (como essa) as pessoas vão entendendo a nossa intenção.
Barata: Vocês receberam algum tipo de protesto mais forte, ou mesmo ameaça por parte de alguma igreja ou religião?
Pedrão: Até o momento não!!
Não falamos mal das igrejas ou de religião, nosso foco é o ser humano ambicioso e falho, e não a instituição!! Na verdade os poderosos nem sabem sobre a nossa existência, (Risos)
A partir do momento que tomarem ciência… e se não entenderem, sei não hein??Eu particularmente não temo por isso!
Barata: Como você define o som do Máxima Culpa, musicalmente falando?
Pedrão: Bem, a gente mescla Hard Rock, Heavy Metal e uma pitadinha de Rock´n´Roll.
Pode ser encarada como Hard Metal Rock, ou ainda Hard`n`Heavy.
Barata: O nome do CD da banda é “Denúncias e Questionamentos”. Não seria o certo “Questionamentos e Denúncias” já que antes de denunciar a gente tem que questionar? (Risos)
Pedrão: Háháháhá. Já diria aquele velho deitado: A ordem dos tratores não altera o viaduto (risos).
As denúncias são mais objetivas, alertas!! São Bispos que levam grana na bíblia, na sacola, Pastores que fazem lavagem de dinheiro, padres pedófilos, são casos de polícia mesmo!!
Muitos não acreditam que isso possa acontecer… Acham que todos são “Homens de Deus”, que tem a chave do céu, insuspeitos, límpidos, e deixam de comprar necessidades para sua família, para dar dinheiro para “falsos profetas”!!
Não estamos generalizando, lógico que tem pessoas honestas, mas tem que haver uma investigação minuciosa.
Defendo uma “CPI da fé”, que as igrejas tenham leis mais duras, que abram suas contas, que paguem impostos, etc.
Já os Questionamentos, são mais subjetivos, é como se perguntássemos:
– E aí fulano você sabe mesmo o que diz?
Essa é a verdade absoluta mesmo? Você bota fé nela, não está manipulando segundo os seus interesses?
Será que você não esta argumentando com o pensamento fixo de enganar, e na realidade nem acredita em força superior?
Muitos são movidos por hipocrisia e demagogia!
Barata: Vocês fazem muitos shows? Como anda a agenda da banda?
Pedrão: Esse ano tivemos alguns problemas com mudança de baterista! A partir do mês que vem (outubro) voltaremos aos shows dia 07 na Blackmore Rock Bar (junto com Exxotica), no lançamento do novo projeto do Márcio Baraldi (que desenhou a capa de nosso CD Denúncias e Questionamentos). Dia 10 no Alberto Conte, na festa de 40 anos do colégio e dia 11 no Novo Aeon Rock Bar, com o Patrulha do Espaço!
Barata: Quais são os planos futuros da banda? Pretendem continuar firmes da temática única, ou abrir para outras “Denúncias e Questionamentos”, que não as questões religiosas?
Pedrão: Vamos continuar nossa luta, não vamos “trair o movimento”, continuaremos sempre antenados com os problemas atuais. Não somos alienados, e vamos falar cada vez mais das coisas vergonhosas de nosso País, da política, das injustiças, da imoralidade, enfim, alertando, e sempre andando para frente, sem deixar de abrir novos leques, novos horizontes.
Barata: Falar nisso, você tem alguma religião? E os outros da banda?
Pedrão: Que boa pergunta hein?
Eu acredito sim em uma energia “muito Superior”.
Não gostaria de influenciar ninguém, acho que cada um tem a sua própria verdade, e não necessariamente tem nomenclatura religiosa!
Para confundir um pouco mais, posso dizer que sou da “Igreja de Denúncias e Questionamentos dos Novos Dias.” (rs)!!
Os membros da banda também são um pouco misteriosos em relação a isso, todos têm um lado espiritual forte, muita personalidade e as suas próprias verdades!
Barata: O que os músicos da Máxima Culpa, fazem quando não estão “Denunciando e Questionando”?
Pedrão: Viver de Rock independente, é difícil, todos temos nossas ocupações paralelas, eu trabalho com soluções de Internet, O Sá (Baixista), tem uma oficina de enrolamento de motores, Mamorra – (Guitarra), tem um estúdio musical, e o Fejão (Bateria), trabalha em uma grande empresa metalúrgica, ou seja somos todos escravos do Rock´n´Roll (risos).
Barata: O que é o “Club Rock”? Foi você quem criou, né? Qual é a proposta?
Pedrão: Sim, foi eu quem o “gerou”. É um site de vertentes Rock, e a ideia é fortalecer a cena independente, dar força às bandas, e informar o que está rolando em nosso meio! Quem quiser conhecer é só acessar www.clubRock.com.br , e sejam bem-vindos!!
Barata: Bem, Pedrão, deixo aqui o espaço para você falar o que quiser, mesmo algo
que eu tenha esquecido de perguntar. Faça aqui suas “Denúncias e Questionamentos”. E obrigado pela Entrevist’A Barata: .
Pedrão: Fico bastante feliz quando vejo que no Brasil tem tanta coisa bacana, e gente preocupada com a cena Indie!
Agradeço a oportunidade que você Luiz, tá me dando de falar com os leitores e tentar explicar alguma coisa do Movimento D.Q. (Denúncias e Questionamentos), e sobre a Máxima Culpa (www.maximaculpa.com.br) !
Um grande abraço em você, e em toda a família d´A Barata!!”
06/09/2007
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.