Atualizado em 04/08/2024 as 11:07:45
(Sinceramente não me lembro como foi feita esta entrevista, mas pelo tom, deve ter sido por e-mail. São 17 anos passados, e depois disso muitas coisas aconteceram. Percy faleceu em 2015, vítima de acidente de carro. A última vez que me lembro de tê-lo encontrado pessoalmente foi em 2013, no Super Peso Brasil, quando lhe entreguei o livro sobre a Patrulha do Espaço. (BC, 12/03/2024)
Percy Weiss dispensa maiores apresentações. Ao menos àqueles que conhecem um pouco da história do Rock feito pelas terras brasileiras. Uma das melhores vozes do Rock, Percy participou de bandas como Made In Brazil, Harppia e Patrulha do Espaço. Foi companheiro dos que mostraram ao planeta Terra que o Brasil é pródigo em músicos de Rock. A presente entrevista foi feita por uma maneira pouco pessoal por E-Mail, em Abril de 2007, procura retratar “The Brazilian Voice Of Rock”, como músico e como pessoa.
Percy Weiss começou a carreira em 1972, com a Banda U.S. Mail, nas domingueiras do Clube Banespa. Em 1974 participa da banda Quarto Crescente, com Duda Neves e Palhinha. Em 1975, entra para o lugar de Cornélius Lúcifer no Made in Brazil, onde grava o LP “Jack o Estripador”.
Em 1978, gravou o primeiro disco do Patrulha do Espaço. 1987 e Percy passa a Front Man da banda Harppia, onde canta no disco “Sete”. Nesse período, tem participações especiais em apresentações e gravações do Made In Brazil. Em 91 e é a gravação de “Primus Inter Pares” que o trás de volta à Patrulha do Espaço. Depois de um longo período de afastamento dos palcos, Percy retorna com sua banda, a “Percy´s Band”, onde toca os clássicos das bandas por onde cantou e cria novo repertório.
Paralelamente, Percy Weiss e sua esposa, Lana Goulart criaram a Weiss Prodarts, com o intuito de promover bandas contemporâneas.
Percy, primeiramente gostaria de falar que é uma grande honra para A Barata entrevista-lo. Há tempos temos pensando, mas agora, a oportunidade surgiu. Começando com a apresentação: fale de suas origens familiares e qual sua idade.
É muito legal poder conversar com A Barata e falar um pouco sobre esse trabalho, ao qual eu dedico tanto. Sou um carioca nascido na Rua das Laranjeiras e morei em Copacabana até os cinco anos de idade. Foi quando minha família se mudou para são Paulo, mais precisamente para o bairro do Brooklin, onde vivi grande parte da minha vida, e onde comecei a minha carreira de cantor no Esporte Clube Banespa. Sou neto de um Alemão que emigrou para o Brasil no começo do século 20. Como todos no navio abrasileiram nome no novo registro feito no porto, eu levo com muito orgulho esse José, junto com o nome do meu avô. Percy José Weiss, nascido em 11/3/1955, na cidade do Rio de Janeiro, então, Capital Federal.
Como foi seu contato inicial com o Rock e com a música em geral? Qual foi sua primeira banda? Quem fez sua cabeça na época?
Percy: Meus irmãos mais velhos já ouviam Beatles e Rolling Stones, então não deu outra! Eu tinha um problema de gagueira e cantar me libertava. E ainda liberta, só que num sentido mais amplo, hoje em dia. Meu primeiro contrato profissional vigorou de fevereiro á novembro de 1972 no Clube Banespa. Tocávamos de tudo, de Uriah Heep à Grand Funk Railroad.
Sua entrada para o Made In Brazil, já que tinha substituído o fantástico Cornélius Lúcifer se deu de uma forma pacífica? Isto é, aconteceram resistências por parte dos fãs da banda? Como aconteceu sua entrada para a banda?
Percy: Logo nos primeiros shows cheguei a ouvir gritos e pedidos por Cornélius, de quem sou grande admirador, mas com o tempo a voz se impôs e desde então eu venho recriando esse encantamento nas pessoas.É um prazer!
Por que saiu do Made? Tem contato ainda hoje com os Vecchione? E o Cornélius?
Percy: Não houve um motivo específico, mas uma circunstância que envolvia fazer coisas novas e etc. Os irmãos Vecchione são a extensão da minha família e a casa do Made, em Atibaia, é o meu club predileto. Sobre o Cornélius, eu vou te dizer que é um cantor soberbo, com um falsete arrepiante! Estivemos juntos em várias ocasiões e sempre foi muito legal.
No Made você gravou dois discos, certo? “Jack, o Estripador” e “Made Pirata”. Fale desses discos. Como foram as gravações, quem participou?
Percy: Jack,o Estripador (76) foi o primeiro disco que gravei; nunca tinha entrado em um estúdio de gravação. Devo muito ,neste disco, às orientações dos Vecchiones e, principalmente, ao produtor, Ezequiel Neves. No Made Pirata 1 e 2,fiz apenas uma participação, cantando algumas canções em shows gravados no Teatro Lira Paulistana.
Se não me engano, sua entrada no Made coincidiu com a saída do Júnior (Rolando Castello Júnior, baterista do Made e Patrulha do Espaço). Como vocês se conheceram?
Percy: Eu morava na Avenida Paulista, acho que era 1976, era um domingo e eu estava passando em frente à Gazeta quando ouvi o som de uma banda de rock. Entrei no Colégio Objetivo, totalmente deserto, e finalmente encontrei a sala onde ensaiava a banda Aço com o Júnior na bateria, Babalú na guitarra e Luiz Chagas no baixo, foi um achado…
Falando em Júnior, posteriormente á sua saída do Made você foi para a Patrulha do Espaço e gravou, para mim, os dois melhores discos da banda: “Patrulha do Espaço”, em 78 e o “Primus Interpares”, de 91. Dois períodos diferentes, duas situações diferentes. Fale sobre essas duas passagens pela Patrulha.
Percy: Em 1978 entrei na Patrulha e caímos na estrada, correndo o sul do Brazil com um show incrível! Depois fomos para um sítio em Campo Limpo Paulista, onde compomos o material do disco preto. No¨Primus¨ gravamos releituras da Patrulha e músicas, ainda inéditas do grande Sergio Santana. Gosto muito dos dois discos.
Nesta primeira oportunidade, assisti algumas memoráveis apresentações da Patrulha do Espaço. Uma delas, em 79, em uma extinta casa na Zona Leste de São Paulo, a Tarkus, a fantasia de Homem do Espaço (embora Percy estivesse de tênis “Bamba” por baixo das polainas) chamou muita atenção. Nesse dia, a Patrulha fez a única apresentação com o fantástico guitarrista Walter Baillot, ex Joelho de Porco, falecido. Conte um pouco sobre essa época.
Percy: Para uma entrevista ¨pouco pessoal¨ me parece que você é um ¨addicted¨, isso me agrada porque você me pergunta com ¨conhecimento de causa¨ Então vamos lá. Walter Baillot, de fato, era um guitarrista fantástico; tinha uma Les Paul Gold Top maravilhosa e foi o primeiro, que eu tenha visto, a usar Wireless Sistem no Brazil (sem fio). A roupa Homem do Espaço foi criada por Barbara Hulanik, famosa estilista inglesa, que passou uma temporada no Brasil. O tênis,à propósito, era um All Star roxo, feito no México, que Marina Olinto tinha me presenteado. Foi o mais confortável e seguro que já tive. E vou te contar uma: Walter também fez o memorável show da Patrulha no projeto Pixinguinha,no SESC Consolação. Participou, também o grande Manito e Dudu Chermont destruiu a Gibson SG e todos foram pra casa com um pedacinho de nós…
Nota do Editor: Desculpa, Percy, por não sacar a diferença das marcas dos tênis. Quanto á pessoalidade da “entrevista”, o propósito foi justamente ao contrário, quis mesmo ser “addicted”, como você disse. E o show do Pixinguinha eu também estava lá, lembro do Dudu espatifando a guitarra no momento da apresentação do Manito, mas não lembrava da participação do Waltão nesse show. Sorry!
Uma pergunta que sempre faço a todos os que viveram os anos 70 no Brasil, debaixo de uma ditadura militar que prejudicou muito a expressão. A maioria das letras das bandas daquela época eram sobre transas e coisas, digamos, pouco políticas. Acha que isso era fruto da repressão, ou a galera não queria mesmo saber de porra nenhuma?
Percy: Fruto da repressão, com certeza. As letras do Made eram frequentemente censuradas e até o nosso Tank do show Massacre, quase dançou. O disco então, gravado em 77, só saiu em 2005.
Quando saiu da Patrulha, em 1980, Percy cantou em uma banda chamada Quarto Crescente. Como foi esse trabalho, como começou e por que acabou?
Percy: A origem deste Quarto Crescente foi uma banda de bar chamada Cadela. Quando quiseram gravar um disco, eu entrei com a voz, as letras e o nome. Era um estilo diferente, caindo mais para as baladas levei o Babalú para a banda, que já me acompanhava no meu trabalho solo. Tiguês, o Luthier de contrabaixos, era um grande músico. Chato foi saber, recentemente, que Horácio Malanconi, o baterista, faleceu.
Entre idas e vindas à Patrulha e ao Made, incluindo “participações especiais”, você cantou no Harppia, tendo gravado um disco com eles, “Sete”. Conta como foi essa passagem.
Percy: Foi através de Tibério Corrêa que ingressei no Harppia; a banda contava com Helcio Aguirra e Claudio Cruz. Tinham lançado ¨A Ferro e Fogo¨ que continha o hit do Heavy paulista da época, ¨Salem¨ Fiz muitos shows com esse repertório, enquanto compunha com Flavio Gutok, Claudio e Tibério o novo material no LP ¨Sete¨. Aliás, essa música tem uma letra adaptada de uma conjuração inscrita numa pedra encontrada em escavações na Babilônia. Datava 2000 AC.
As fotos dessa época mostram um Percy Weiss bem mais gordo. O que aconteceu?
Percy: Ah! sei lá! só sei que estou magro de novo, meio barrigudinho, mas magro!
Depois disso, Percy sumiu de cena. Boatos deram conta de sua morte por drogas, que teria se transformado em balconista de loja de música e até que teria se transformado em empresário. Porque Percy Weiss sumiu e o que aconteceu durante esse período de sumiço?
Percy: Eu nunca tive problemas por abuso ou abstinência de drogas. Foi o meu interesse pela parte técnica da música que me levou à trabalhar em lojas, fabricantes e importadoras de instrumentos musicais. Me lembro de ditado que diz ¨feliz é o homem que faz o que gosta, pois ele não precisa trabalhar. Meu trabalho nessas empresas foi precursor para contratos de “Endorses” ,”Work-Shops” e Clínicas Musicais.
Em seu retorno, em 2004, se não estou enganado, você retomou alguns contatos. Lembro que nessa época participou de uma apresentação do Patrulha no Centro Cultural São Paulo. Na época, comentei com o Júnior sobre seu retorno á banda, o que ocorreu pouco tempo depois. Como foi esse retorno a São Paulo e posteriormente à Patrulha do Espaço?
Percy: Já tinha morado em Recife dos 7 aos 10 anos e repeti a temporada nordestina entre 98 e 2003, em Natal, como empresário representante de algumas importadoras de instrumentos musicais. Voltei á São Paulo em 5 /7/2003. Em fins de agosto teve início a Percy’s Band e em setembro, junto com Eduardo Chermont, subi ao palco da Patrulha, no Centro Cultural São Paulo. Mais recentemente participei de tournée com a Patrulha e agora me dedico ao meu trabalho solo.
A Percy’s Band começou fazendo “covers” das músicas que você cantou em outras bandas, como Made, Patrulha e Harppia. Depois partiram para composições próprias. Fale sobre a banda, seus objetivos, músicos, enfim…
Percy: O propósito da PercysBand é recriar as canções que gravei ou que fizeram parte dos meus repertórios, por outro lado, já estamos fazendo músicas novas e os meus parceiros nessa empreitada são: Vulcano (Guitarra) ,Ricardo Costa (Baixo) e Ronaldo Simões (Bateria). São músicos escolhidos à dedo na Cena Rock de Campinas, onde estou residindo. Preparamos um grande show para a Virada Cultural dia 5/5.
A banda é independente ou tem alguma gravadora ou empresário por trás?
Percy: A banda é independente, mas tem, por trás, a Weiss Prodarts a produtora que cuida dos nossos interesses, na pessoa de Lana Goulart.
Falando nisso, recentemente você criou uma produtora, a “Weiss Prodarts”. Conta pra gente qual é o projeto.
Percy: O projeto da Weiss Prodarts é trabalhar com artistas, promovendo eventos e gerando cultura musical para todos os gostos.
Mudando um pouco de assunto, qual é sua visão sobre o Rock hoje? O que acha do chamado “Panorama do Rock Brasileiro”, particularmente?
Percy: É uma pergunta difícil, mas eu acho que está havendo um retrocesso. Será que não dá para todos esses músicos começarem a fazer a própria música? Eu me diverti muito tocando covers, mas isso foi em 72, não havia um Rock brasileiro. Em 73 o Quarto Crescente original, que contava com nomes como Duda Neves, Palhinha, Marcos Guerra, Cizão Machado e outros já tinha o seu show totalmente em português e tocou no Masp, Teatro São Pedro, Aquarius, Tuca e etc..
Quem são seus ídolos dentro do Rock mundial. Em termos de vocalistas, tem algum que o influenciou e que acha que é “The Voice”?
Percy: “The Voice¨sempre será Ray Charles, nem tanto pelo timbre ou vibrato, mas pelo felling¨.O meu ¨vocalize¨é inspirado em Doug Ingle (Iron Butterfly), John Kay (Steppenwolf) e Ian Gillan ( Deep Purple).
O que escuta atualmente? Tem comprado discos? Aliás, o que acha do MP3? Acredita que o MP3 prejudica os músicos ou é uma ferramenta de divulgação? Como vê o mercado de música atualmente? Acha que existe futuro para o Rock como “Produto”?
Percy: O Rock é um grande produto ,que gera bilhões de dólares por ano em todo o mundo e o MP3 é uma grande ferramenta pra você conquistar o público e levá-lo ao seu show.
Alguns músicos de Rock foram tocar com cantores sertanejos , pagode, essas coisas, afirmando que apenas assim conseguiriam sobreviver como músicos. O que acha disso? Fez ou faria tal “concessão”?
Percy: Não faria, porque cantar e tocar um instrumento são coisas diferentes.
Atualmente Percy Weiss está casado com Lana Goulart, sobrinha do grande poeta Ferreira Gullar. Fala um pouco sobre ela, como a conheceu etc.
Percy: Conheci Lana Goulart no estúdio Bruxelas (SP) em maio de 2006 e me admirei com a iniciativa e criatividade com que ela fazia o seu trabalho. Você precisa ter perto de você, alguém que te mostre como as coisas podem ser melhores, à cada dia.
Bem, acho que está na hora de a gente encerrar. Manda bala sobre qualquer coisa que queira falar, que eu tenha esquecido de perguntar. E obrigado por ter topado dar essa entrevista para a galera de A Barata. Deixa seu recado. Aqui você tem a “Liberdade de Expressão e Expressão de Liberdade”….
Percy: Gostaria de convidar a todos para o palco do rock,na Barão de Itapetininga,dia 5/5/07 na Virada Cultural São Paulo. Vou ter o prazer de abrir este evento às 18hs com a Percysband e chamar ao palco Tutti Frutti, Serguei, Patrulha do Espaço e Made in Brazil, Chave do Sol, Golpe de Estado e varias outras bandas num show com 24 horas de duração..
Espero vocês todos! Abraços!
18/04/2007
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.