Atualizado em: 22/07/2024, as 09:07
Jonas Rabinovitch
06/07/2024 08:02
Dois eventos recentes me chamaram a atenção: festejado pela esquerda, Chico Buarque comemora seus 80 anos no conforto de Paris enquanto Anitta esbraveja contra o Rock in Rio e explica que teria sido pressionada a se posicionar contra Bolsonaro. Não quero questionar aqui o talento ou o posicionamento ético-político de um ou de outro. Esses fatos mostram com clareza que, quanto mais o país se polariza, mais evidentes ficam os vínculos entre a arte, o dinheiro e o poder.
Millôr Fernandes já resumiu em sua genialidade: “Desconfio de qualquer idealista que lucra com seu ideal”. Enquanto para uns a arte é simplesmente a representação do que é belo, para outros a arte teria um poder revolucionário, influenciando sua época. A arte pode questionar estruturas morais e autoritárias, apelando politicamente aos indivíduos para sonharem com um mundo mais justo, qualquer que seja sua forma.
Cabe a pergunta: a abertura política nas décadas de 70 e 80, e o consequente fim da ditadura militar, acabou com a música de protesto no Brasil?
É impossível refletir sobre a história da música brasileira sem lembrar a época dos festivais da canção na década de 60. Apresentava-se a Bossa Nova, a Jovem Guarda, enquanto a MPB se consolidava como “música de protesto”, frequentemente criticando a ditadura militar da época. Nomes como Gilberto Gil, Caetano, Chico e Milton Nascimento foram lançados e alguns até vaiados pelos festivais. A plateia, formada em sua maioria por estudantes, exigia um canal para protestar politicamente.