Atualizado em 22/07/2024 as 21:10:09
Há um divórcio radical entre palavras e obras, e entre as ideias do discurso de Lula na Bolívia e suas falas anteriores sobre variados temas da economia e da gestão pública.
Gazeta do Povo
18/07/2024 18:00
“Há uma mágica em economia? Não. Economia não tem mágica. Economia tem algumas palavras mágicas que não podemos desperdiçá-las. As primeiras palavras mágicas para uma economia dar certo são estabilidade e credibilidade política. A segunda palavra-chave para que um país dê certo, a economia cresça e tudo aconteça bem, é estabilidade na economia. A terceira palavra mágica é estabilidade fiscal. A quarta palavra mágica é a gente ter estabilidade jurídica. E a quinta palavra mágica é a gente ter estabilidade social. São esses cinco componentes, mais a palavra-chave que interessa a todos os empresários: previsibilidade. As pessoas têm que saber o que vai acontecer no dia a dia de cada país.”
O parágrafo acima é um trecho literal do discurso lido pelo presidente Lula no Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, em Santa Cruz de La Sierra, no dia 9 de julho. As palavras e as teses nelas contidas são corretas e seriam subscritas por qualquer governo de um país democrático com sistema econômico capitalista, direito de propriedade privada, liberdade de preços, livre comércio, equilíbrio das contas públicas e controle da inflação. Ou seja, um país estruturado sob as bases do liberalismo econômico, da democracia política e das liberdades individuais.
A rigor, o teor do discurso merece apoio e se refere a políticas públicas corretas. Mas há um sério problema: trata-se de um discurso lido, certamente escrito por assessores da Presidência, que não guarda qualquer relação com as ideias do PT e muito menos com as ações práticas do governo Lula. Na realidade, há um divórcio radical entre palavras e obras, e um total divórcio entre as ideias desse discurso e falas anteriores de Lula sobre variados temas da economia e da gestão pública. Ou Lula não teve conhecimento do rascunho do discurso e, portanto, apenas leu o que os assessores escreveram, ou então ele conhecia o teor do texto e não acredita em uma só das ideias ali contidas, mas reconhece que tais ideias soam como música aos ouvidos dos empresários e dos investidores nacionais e estrangeiros.