Atualizado em 22/07/2024 as 21:04:12
Tiago Cordeiro
23/06/2021 15:23
Em 23 de Dezembro de 1953, Lavrenti Beria foi submetido ao mesmo ritual pelo qual milhares de pessoas já haviam passado por ordens suas. Julgado traidor, sem direito a defesa, se viu diante de um pelotão de fuzilamento. Beria não demonstrou a coragem que muitas das pessoas que ele mandara matar demonstraram neste momento.
Ajoelhou-se, implorando por sua vida. Depois deitou-se no chão, gemendo. E nessa posição foi alvejado na cabeça pelo general Pavel Batitsky. No dia seguinte, a imprensa oficial soviética divulgou uma nota: “O tribunal determinou que o réu Beria, depois de trair a pátria e agindo nos interesses do capital estrangeiro, organizou um grupo traidor de conspiradores, inimigos do Estado Soviético”.
O texto prosseguia: “Os conspiradores tinham como seu objetivo criminoso utilizarem os órgãos do Ministério dos Assuntos Internos contra o Partido Comunista e o Governo da URSS, colocarem o Ministério dos Assuntos Internos acima do Partido e do Governo para tomarem o poder, liquidarem o regime operário-camponês soviético, restaurarem o capitalismo e restabelecerem o domínio da burguesia”.
Assim terminava a trajetória do homem mais temido da União Soviética desde meados da década de 30. Como chefe da NKVD, o serviço de espionagem que antecedeu a KGB, ele havia cuidado de toda a rede de opressão do regime soviético. Gerenciava os expurgos de etnias inteiras e a investigação e prisão de opositores. Mantinha funcionando os gulags, como eram conhecidos os campos de trabalho forçado.
Mas seu poder ia muito além: era ele o responsável por deslocar detentos para as fábricas e as minas. Dessa forma, alimentou a máquina de guerra russa e chegou a alcançar a patente de general. Foi ele também que gerenciou todos os aspectos da fundação do programa nuclear soviético, desde o uso de espiões para roubar detalhes do projeto americano até a mineração de plutônio e a arregimentação de especialistas para desenvolver bombas atômicas.