Atualizado em: 02/11/2024, as 01:11
“Sempre sonhei ser o que sou. Tenho a profissão que sempre ambicionei. Sinto-me realizado até porque considero que já fui mais longe do que alguma vez sonhei.” – José Cid, 1993
Playlist do programa de Webradio
1. Dez Mil Anos de Surpresa O Dia Em Que José, Aquele Que Canta Pessoas Vivas Me Ligou de Portugal
2. José Cid – Paiz a Beira Mar (Dueto com Virgem Sutra)
3. José Cid – Ponte nas Ondas
4. José Cid – Porto Covo (Porto Covo é uma praia do sul linda na costa Alentejana, a música é uma versão para um tema de Carlos T. e Rui Velozo)
5. José Cid e Orquestra – 10.000 Anos Depois Entre Venus e Marte
José Cid é o nome artístico de José Albano Cid de Ferreira Tavares, nascido em Chamusca a 4 de Fevereiro de 1942, e é um dos maiores expoentes da música em Portugal e dentro do Rock Progressivo, um dos mais conceituados. Cid, entretanto, percorre todos os gêneros da música, indo do Fado ao Jazz, da Música Popular ao Blues e, além de multinstrumentista, tem um poderio vocal incrível, e mesmo agora, aos 82 anos, Cid consegue alcançar notas mais altas, indo do falsete ao “bluesy” com impecável desempenho.
“10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte” é um álbum de rock progressivo de José Cid, uma ópera rock e também um dos poucos álbuns de rock espacial em Portugal, coeditada pela Orfeu e Arnaldo Trindade em 1978. É uma viagem de rock sinfónico cósmica dominada por Mellotron, sintetizadores de cordas e outros, com suporte de guitarras, baixo e bateria.
Reconhecida como uma obra “excelente para qualquer coleção de música progressiva” em progarchives.com, um sítio dedicado a sons progressivos, onde ocupa o quarto lugar nos álbuns progressivos de 1978, o álbum é também uma presença constante na mesma plataforma, considerado um “disco essencial e uma obra prima do rock progressivo”.
Com base em ficção científica, o conceito é que 10.000 anos depois da autodestruição da humanidade, um homem e uma mulher viajam de regresso para a Terra para a repovoar novamente. O tom das músicas é de contemplação sobre os erros do passado da humanidade e de esperanças futuras. O álbum foi composto por Cid, com ajuda em algumas músicas pelo guitarrista Mike Sergeant e pelo baterista Ramon Galarza.
A apresentação de “10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte” com Orquestra aconteceu em Setembro de 2022, em Lisboa, com a participação da Orquestra Filarmônica das Beiras e em Guimarães com a Orquestra do Norte.
(Texto da Wikipédia)
Faixas Executadas:
1. “O Último Dia na Terra” (José Cid)
2. “O Caos” (Manuel Lamas/Mike Sergeant)
3. “Fuga para o Espaço” (José Cid)
4. “Mellotron, o Planeta Fantástico” (José Cid)
5. “10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte” (José Cid/Zé Nabo)
6. “A Partir do Zero” (Ramon Galarza/José Cid)
7. “Memos” (José Cid)
Letras
1. O Último Dia na Terra”
(José Cid)
Entre a bruma densa
da manhã que quer romper
O planeta Terra
já não pode mais viver.
Uma nuvem de cimento e de betão
que lhe rouba a luz e a razão
Guerras nucleares, poluição
Nunca mais verá o Sol.
E a bruma azul continua a avançar
A humanidade já não pode respirar
Nunca mais verá o Sol.
2. O Caos
(Manuel Lamas/Mike Sergeant)
Toda gente corre pela estrada comum
todos os caminhos vão a lugar nenhum.
Se tiveres que fugir, foge!
Se tiveres que morrer, morre… só!
A tua cidade é uma vala comum
todos os caminhos vão a lugar nenhum.
Se tiveres que fugir, foge!
Se tiveres que morrer, morre… só!
A tua cidade é uma vala comum
todos os caminhos vão a lugar nenhum.
Se tiveres que morrer, morre!
Se tiveres que fugir, foge… só!
Já nenhum caminho borda o horizonte
com que os homens sonharam.
Sem como nem porquê, sem como nem porquê
a vida mora defronte e a morte é aquilo que se vê.
Vimos pouco a pouco o mundo acabar
e ficamos calados.
Não se ouviu um grito, não se fez um gesto
Nem a própria ruína nos conseguiu manter acordados.
Toda gente corre para a vala comum
todos os caminhos vão a lugar nenhum.
Se conseguires fugir, foge!
Tua nave no espaço… só!
3. Fuga Para O Espaço
(José Cid)
Vem amiga,
na nave que comando
Esquece a noção do tempo
Não me perguntes quando.
Vem depressa
antes que seja tarde
Não olhes para trás,
já toda a Terra arde.
Marte é verde e Mercúrio brilha
entre Vénus e Centauro.
Plutão é branco e ponto de paragem
na viagem pelo céu.
Da cabine central
emiti um sinal
No ecrã do radar
tudo indica normal.
4. Mellotron, o Planeta Fantástico
(José Cid)
Para onde vou
que caminhos segui
A quem me dirigi,
que palavras usei?
Eu não sou daqui
da multidão fugi
De que sonho acordei
só eu sei.
E quando parti
da Terra que deixei
Só tu me acompanhaste
mais ninguém.
Eu não sou daqui
da multidão fugi
De que sonho acordei
só eu sei.
5. 10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte
(José Cid/Zé Nabo)
Podes ver
10.000 anos depois
No ecrã do radar
Entre Vénus e Marte
Um planeta vazio
À espera que o descubram
Onde recomeçar
Outra civilização
Podes ver
10.000 anos depois
No ecrã do radar
Entre Vénus e Marte
Um planeta vazio
À espera que o descubram
Onde recomeçar
Outra civilização
6. A Partir do Zero
(Ramon Galarza/José Cid)
Vamos voltar do infinito, do além
a um planeta que deixamos para trás.
Partir do zero, renascer, reencontrar
o Sol, o mar, a Terra, amar o amor e a paz.
7. Memos
(José Cid)
Só
ao longo dessa estrada eu sigo só.
Não chamem mais por mim
não tenham pena ou dó
Sou como sou, vou por aqui
não sei voltar atrás.
Só, sem ter a alegria de encontrar
alguém a quem sorrir, alguém a quem falar
a quem dizer “amigo vem voar no azul do céu”
Sigo só no meu caminho
mas não sei para onde vou,
o que faço, o que digo, onde estou.
E não sei o que me espera
já no fim de tanto andar
Uma esperança só me resta
Deus que me há de acompanhar
Muita gente anda por uma estrada igual à sua
ò longa estrada da vida!
Muita gente anda sem saber se vai chegar
ao fim da estrada
Muita gente vive uma vida igual à sua
vida!
Bom dia,
Sou criança universal
Acredito só no amor, na liberdade e na paz entre os homens.
Até amanhã!
Quem seguir este caminho que eu segui
pisar os mesmos passos que eu percorri
Amou sofreu, sorriu, chorou,
jogou, perdeu, ganhou.
(Letras Enviadas Por Daniel Carneiro)
Dez Mil Anos de Surpresa: O Dia Em Que José, Aquele Que Canta Pessoas Vivas Me Ligou de Portugal (Crônica)
Barata Cichetto
Ontem José me ligou. E foi direto de Portugal. Eu juro: José me ligou. A primeira vez era meio-dia e eu ainda nem sabia que José iria ligar. Como podia José me ligar? Nem atendi, achei que fosse engano José me ligar. Quem sou eu para José me ligar? Mas José me ligou, e eu não atendi. Afinal, por que estaria José a me ligar? Logo ele, um grande José, que na sua terra é uma lenda. Uma lenda que canta pessoas vivas. Sim, o mesmo José que ensejou uma jornada entre Vênus e Marte dez mil anos depois, ainda há cinquenta anos atrás. (Com perdão do pleonasmo, poeticamente justificável). É… Era aquele José, no meu telefone, depois de uma madrugada de remédios e insônia. E eu não sabia que era o mesmo José a me ligar. Na segunda vez, atendi o José que me ligava. E ele, como se meu amigo fosse há dez mil anos, perguntou sobre a minha saúde, e já foi logo receitando curas e falando como se de mim estivesse com saudades. Como assim, José? Nunca falamos, e eu nem tinha certeza se existias mesmo. E José falou, falou, falou. Falou de sua obra como se eu a conhecesse profundamente, contou histórias como se eu as tivesse vivido, e dos seus planos, como se deles eu fizesse parte. Falou do seu passado, o José, e falou de coisas que talvez possam ocorrer daqui a dez mil anos entre Vênus e Marte, numa Terra que ele ainda sonha como maravilhosa. Contou-me histórias que eu não conhecia também, o José. Falou sobre como acolheu Caetano Veloso e Gilberto Gil em sua casa em Portugal em 1969, exilados do Brasil por conta da Ditadura Militar. Falou tanto e tão bem, o José, que até esqueci o medo que eu tinha de não entender seu sotaque português. Nem me lembrei disso quando falei com José, por quase uma hora… Ah, sim, José foi quem ligou, e me senti uma criança diante de uma vitrine repleta de doces. Tão atarantado que tentei me mostrar uma “pequena pessoa”, e foi quando José ralhou. Disse-lhe que eu não era pequena pessoa, mas pequeno artista diante dele. José ralhou novamente. E me falou da falsidade da humildade. Acolhi com sinceridade. E José falava e falava, sobre política e sobre poesia, e quanto mais José falava, mais eu me encantava, e mais eu queria ouvir. Perguntei sobre Pessoa e Régio e José falou sobre Lorca. Ah, Lorca… Ele e a história porca. E sobre cantar pessoas vivas, José ainda dizia que o que fazia era cantar a liberdade e as pessoas. Vivas. Que falar sobre mortos é bobagem. Falou José que anda a cagar para sua ancestralidade de barões da nobreza, e sobre o que lhe emerge diante das ditaduras. Fala o José das ditaduras com que conviveu, e dos assassinos a quem sobreviveu. Embarga-lhe a voz ao falar novamente de Lorca. E assim eu, de criança deslumbrada diante de doces, me quedo ao silêncio ouvinte de um poeta perante outro poeta, que fala de um poeta ainda maior. Escuto José como escutaria uma lenda falar, embora sobre ser lenda José não queira escutar. E José ainda conta sobre os mártires portugueses e da Península Ibérica mortos por ditadores comunistas, sobre como sobreviveu dentro de um sistema que destrói quem não pode conquistar. Falou-me e falou-me José sobre seus sonhos e suas vontades, seus desejos e suas verdades, que duas meias horas me pareceram eternidades. E depois daquele tempo, eu sabia que aquele José era o meu melhor amigo, que eu mal sabia que rosto tinha, e em que cidade vivia, mas uma coisa era certa: José era um viajante intergaláctico, por muitos tachado de lunático, que a um planeta, entre Vênus e Marte, volvia, dez mil anos para trás, e sua missão era simples: cantar pessoas vivas. José desligou, e cinco minutos depois eu já tinha saudades de José, e de me sentir tão importante para alguém. Alguém que canta pessoas vivas, alguém que fala a pessoas vivas, e que ouve pessoas vivas. Ontem José me ligou. Ontem José Cid me ligou. Estou embarcando agora em uma viagem de dez mil anos no futuro, entre Vênus e Marte, certamente cantando pessoas vivas.
Nota:
A importância da obra de José Cid, especialmente no Rock Progressivo, não se restringe apenas a Portugal. “10.000 Anos Depois Entre Vênus e Marte” é amplamente considerado um dos álbuns mais emblemáticos do gênero, não apenas por sua qualidade musical, mas pela profundidade e originalidade de sua narrativa. Entre especialistas e críticos, este álbum é frequentemente citado como uma obra-prima que transcende fronteiras, elevando o rock progressivo português a um patamar global. A fusão de elementos clássicos e modernos, junto com uma narrativa de ficção científica, coloca a obra de Cid ao lado dos maiores expoentes do Rock Progressivo mundial, influenciando gerações de músicos e continuando a ser referência tanto em Portugal quanto no cenário internacional.
Araraquara, 30/08/2024 (Grato ao amigo Daniel Carneiro pela ponte interestelar entre José Cid e o BarataVerso.)
A primeira audição do programa acontece em: www.asbrazil.com, no domingo, 22 de Setembro de 2024, as 19:00h.
Escrito e Publicado em 21/09/2024
Leia Também:
Revisitando Vênus e Marte, Por Celso Moraes F.
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Mais uma vez sinto-me feliz por ter ajudado a criar e consolidar esta ponte que une a cultura lusa à brasileira. Aguardem porque há muito mais por vir! 😀
Meu caro amigo, nunca acreditei em coincidências, depois de algum tempo de vivida, percebi que o que existem são “convergências”: uma série de fatos e acontecimentos convergindo para que aconteça algo num determinado ponto de nossas vidas. E assim foi com essa minha aproximação com a cultura lusófona, à qual hoje me aprofundo mais e mais… E até comecei a pensar o quão somos afastados uns dos outros, embora irmanados por uma das coisas mais importantes na cultura, que é o fato língua. Você, Daniel, que fez a ponto com o Cid, Luis Roxo, meu sócio na Editora Poetura, etc. Convergências. Há muitos e muitos anos conheci Pessoa, e achei que a coisa tinha parado por ai. Hoje me sinto muito próximo dessa cultura, e pretendo me aprofundar mais. Muito obrigado pela parte que LHE toca!!!!
Tive a grata oportunidade de ouvir na íntegra essa edição do programa Gyroscópio 69, e doravante é pesquisar mais a fim de conhecer a obra desse grande músico português!
Obrigado, Celso! Foi um programa feito com muito carinho e honra a esse grande artista lusófono!
Simplesmente magnífico, Quanta beleza estendida nos versos do escritor José Cid.
Fiquei maravilhada ao ler tamanha obra poética, e a uma excelente crônica que não deixa nada a dever.
Indico que procures no Youtube a obra “… Cantamos Pessoas Vivas”, poéticamente é uma obra espetacular. Obrigado por comentar.