Lizzy, Minha Eterna Deusa

Harmonia Literária: O Escritor, o Gato e a Inspiração

Atualizado em 01/01/2025 as 17:29:43

Gatos e escritores, desde há muito, têm criado uma associação que, para muitos, parece bizarra, mas pelas características de ambos se torna muito clara logo na primeira análise. Tanto gatos quanto escritores têm caráter solitário e individualista, o que cria entre eles uma relação que é uma espécie de aliança entre seres completamente livres.

Muito diferente dos cachorros, que tendem a ser obedientes e passivos, os gatos são politicamente incorretos e, como os verdadeiros escritores, são seres de ninguém, amantes da noite, boêmios e independentes. Então, o fato de uma grande parcela dos escritores que marcaram o mundo da literatura ter como companheiro um felino não pode ser mera coincidência. Alguns deles conseguiram criar laços imperceptíveis para os outros mortais, simplificando a sua magia em um só.

Outro fator que pode ser relacionado com a amizade – e mais que isso, uma ligação entre esses dois seres que transcende a análise mais racional – é que, como escritores normalmente apreciam a companhia do silêncio e gatos domésticos são dorminhocos e quietos, a relação se torna muito mais agradável. A ambos.

Ainda no século 19, Charles Baudelaire escreveu “Os Gatos”, que tinha a primeira estrofe: “Os amantes febris e os sábios solitários / Amam de modo igual, na idade da razão, / Os doces e orgulhosos gatos da mansão, / Que como eles têm frio e cismam sedentários.”

Edgar Allan Poe, em várias cartas a amigos, mencionava como seu gato, Catterina, o acompanhava durante longas noites de escrita. Ele descreveu momentos em que, perdido em pensamentos sombrios, o ronronar constante de Catterina o trazia de volta, proporcionando uma companhia silenciosa e reconfortante que era essencial para seu processo criativo. Poe escreveu um dos contos mais conhecidos do mundo, “O Gato Preto”: “Plutão – assim se chamava o gato – era o meu preferido e companheiro. Só eu lhe dava de comer e ele me acompanhava por toda a parte da casa por onde eu andasse. Era mesmo com dificuldade que eu conseguia impedi-lo de acompanhar-me pelas ruas.”

Imagem Gerada Com Auxílio de IA (Leonardo)

É quase impossível relacionar a relação entre escritores e gatos, e até há histórias de escritores que afirmaram que, na verdade, eram seus gatos que lhes ditavam as histórias. Coisa que particularmente eu e Lizzy Borden não acreditamos. Quando contei a ela, rimos muito disso, e ela ainda me advertiu que, se eu contasse a nossa verdade a alguém, ela nunca mais me ditaria outro texto.

Alguns exemplos:

A personalidade independente e curiosa dos gatos ressoa profundamente com muitos escritores, que frequentemente buscam inspiração e solitude para explorar suas ideias. Por exemplo, Mark Twain, conhecido por seu espírito rebelde e observações afiadas sobre a sociedade, encontrou nos gatos companheiros que espelhavam sua própria natureza inquisitiva e livre. Ele escreveu: “De todas as criaturas de Deus, somente uma não pode ser castigada. Essa é o gato. Se fosse possível cruzar o homem com o gato, melhoraria o homem, mas pioraria o gato.”

Charles Bukowski escreveu “Meus Gatos” onde diz: “Eu sei. Eu sei. / Eles são limitados, têm distintas / necessidades e preocupações.”

Há também quem tenha se centrado nos sentimentos do gato, sem entrar diretamente no mérito da estupidez humana. Balzac, em “Penas de Amor de Uma Gata Inglesa”, conto incluído em “O Grande Livro dos Gatos”. T. S. Eliot escreveu: “O principal é não cair no grande erro / e recordar que um gato não é um cachorro”, num poemário inteiro: “Gatos”, que posteriormente serviria como inspiração para o musical Cats.

Imagem Gerada Com Auxílio de IA (Leonardo)

Ernest Hemingway era conhecido por seu amor pelos gatos, especialmente os de seis dedos (polidáctilos). Ele tinha muitos gatos em sua casa em Key West, e esses gatos ainda vivem lá até hoje, sendo uma atração turística. A presença desses felinos fornecia uma companhia tranquila para Hemingway, que muitas vezes os mencionava em suas cartas e relatos pessoais.

Haruki Murakami frequentemente incorpora gatos em suas obras. Em “Kafka à Beira-Mar”, os gatos desempenham papéis simbólicos e literais importantes na narrativa. Murakami, em entrevistas, já mencionou como os gatos o fascinam e como eles inspiram a criação de seus personagens enigmáticos.

O amor de T.S. Eliot pelos gatos é bem documentado em seu livro de poemas “Old Possum’s Book of Practical Cats”, que mais tarde foi adaptado para o famoso musical “Cats”. Eliot escrevia cartas e poemas sobre seus próprios gatos, e eles se tornaram personagens principais em suas obras.

Doris Lessing escreveu “Particularly Cats” e outros livros sobre seus gatos e as observações profundas que fez sobre eles. Ela acreditava que os gatos tinham personalidades únicas e que observá-los e interagir com eles poderia oferecer insights sobre a natureza humana e animal.

A autora de thrillers psicológicos Patricia Highsmith era uma apaixonada por gatos e frequentemente se inspirava neles para criar a atmosfera de suspense em suas histórias. Seus gatos eram frequentemente mencionados em seus diários, refletindo o papel significativo que desempenhavam em sua vida pessoal e profissional.

O escritor argentino Jorge Luis Borges tinha um gato chamado Beppo, que se tornou uma figura central em suas reflexões e poemas. Beppo inspirou Borges a escrever sobre a natureza do tempo e da existência, temas recorrentes em sua obra.

Imagem Gerada Com Auxílio de IA (Leonardo)

Em culturas orientais, como no Japão, gatos também ocupam um lugar especial. O ‘Maneki-neko’, ou gato da sorte, é um símbolo de boa fortuna e prosperidade. Escritores japoneses, como Haruki Murakami, frequentemente incorporam gatos em suas narrativas, onde eles servem como pontes entre o mundo real e o sobrenatural, ressoando com o modo como os gatos são vistos como mediadores entre diferentes realidades.

Desde os tempos do Egito antigo, gatos eram venerados como deuses e símbolos de proteção e mistério. Este simbolismo se transfere para a literatura, onde gatos frequentemente aparecem como guardiões do conhecimento esotérico ou como companheiros de bruxas e magos, refletindo sua aura de mistério e poder que atrai muitos escritores. Sobre isso, eu tinha uma amiga que dizia que “Gatos são deuses”. No que concorda Lizzy Borden, que além de me tratar como bom súdito, ainda me sussurra tudo o que escrevo. Como este texto, por exemplo.

Escrito e Publicado em 23/06/2024

A Deusa Lizzy Borden e Eu

“Há um número infinito de miados entre letras.”
Construir Resistência

• Alberto Moravia

• Alexandre Dumas
* Mysouff
“Os gatos mostram a melhor forma de viver: em liberdade”.

• Aldous Huxley
* Sam
“Se você quer entender um humano, rodeie-se de gatos”.

 

Allen Ginsberg

Charles Bukowski
* Manx
“Quanto mais gatos você tiver, mais você viverá”.

• Charles Dickens
* Williamina
“Devíamos ser como os gatos: arranhar quando se obriga a obedecer”.

• Colette
* Saha
“Os gatos são animais sagrados e, por isso, herméticos”.

Doris Lessing
* Grey
“Um gato é um verdadeiro luxo… Vês-o caminhar pelo teu quarto e no seu andar solitário descobres um leopardo, até uma pantera”.

• Edgar Allan Poe
* Catarina
“Quem me dera poder escrever de forma tão misteriosa quanto um gato”.

Ernest Hemingway
* Bola de Neve
“A maneira de se dar bem com um gato é tratá-lo como o ser superior que ele sabe que é”.

Ezra Pound

Ferreira Gullar

George Bernard Shaw

Guimarães Rosa

Hermann Hesse
* Löwe
“Sou mais humano quando carrego um gato”.

• Jack Kerouac

• Jean Cocteau

• Jean-Paul Sartre
* Néant
“Para um gato não é condenação ser livre, mas o homem é responsável pela sua liberdade”.

• John Fante

• Jorge Luis Borges
* Beppo
“O meu gato faz o que quer, como eu”.

• Julio Cortázar
* T.W. Adorno
“Querer as pessoas como se ama um gato, com seu caráter e sua independência, sem tentar domá-las, sem tentar mudá-lo… “

• Leonar Nimoy

• Patricia Highsmith
* Charlotte
“Gosto de gatos porque são silenciosos, elegantes e livres”.

• Raymond Chandler

• Stephen King 

• Truman Capote
* Orangey
“O gato e eu somos um par de seres que não pertencem a si mesmos, porque eu sou como este gato, não pertenço a ninguém. “

• Úrsula K. Le Guin
* Pard
“Gatos, como os humanos, precisam estar em boas mãos”.

• William S. Burroughs

Barata Cichetto, é um feliz e orgulhoso súdito de Lizzy Borden, a Deusa, que é a real autora deste texto, como de qualquer outro assinado por ele. É também é mãe da Sarah Picote, também conhecida como Goela, porque não mia, berra!

Atualização de 1/1/2025:

Uma ex-amiga dizia sabiamente que “Gatos são deuses”. Hoje descobri que deuses não são imortais!

Há mais de quarenta anos eu não sabia o que era chorar, desde que Izaura, minha avó, se foi. Nunca mais tinha chorado, mas hoje não teve jeito. Ela se foi deitada na minha cama, se que era na verdade dela… Senti seu ultimo suspiro! Muito triste aqui.

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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Celso Moraes F
Celso Moraes F
01/01/2025 15:45

Cara! Que lista, hein? Alguns eu sabia, outros não. Consta (não sei se procede, mas não duvido) que Mark Twain tinha mais de 25 gatos, e um deles se chamava “Satan”, que para nós seria traduzido “Satanás”, aí o Roberto Gomez Bolaños, leitor apaixonado de Twain, batizou com esse nome “diabólico” o gato da Bruxa do 71. Gatos são fantásticos, mas cachorros também, cada qual com suas características. Só não concordo quando ‘pais’ e ‘mães’ de gatos menosprezam cães e vice-versa. Ambos são adoráveis.

Daniel R.Carneiro
Daniel R.Carneiro
23/06/2024 21:43

Excelente! Lido e devidamente repassado.
Um forte abraço (meu e do Zé Pilintra, meu companheiro felino de introspecção)

Barata Cichetto
Administrador
Responder a  Daniel R.Carneiro
23/06/2024 22:10

Estou certo que foi o Zé Pilintra que te mandou escrever isso! rsrsrsrsrsrsrsrs

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