Atualizado em 20/08/2024 as 14:22:22
Inventar a sobrevivência como se remenda um poema,
desde o minuto fatal e o primeiro lapso do verbo, o ato falho, o hiato,
noutra continuidade descabida.
Nada que o acaso nos aprisione no dito ponto final,
No eterno retorno das mal ditas semelhanças de domingo.
Assim se caminham os passamentos.
Morre-se tantas quantas vezes antes da rima ou do soneto perfeito
Entre a primeira hora do dia e o precipício dos escuros.
Enquanto as hienas emitem gritos ásperos, confundido com o som de gargalhadas
Não há nada para se rir ao invento das alvoradas.
Ao poeta resta o rastro, o fato cênico, a poesia sem nexo,
E o peso fúnebre no branco do papel.
O verso raso, de finitude óbvia e esquecimentos decretados
Nenhum eco oco retumbante, a seguir com os ventos.
Aos nomes de obituário, as verdades inconvenientes.
Não se costura a vida gasta
Não se ama além da página
Não se cantam versos tortos
Quando se tem desesperos,
Sede e fome de pão.