[O que sei por debaixo da pele]

Atualizado em 20/08/2024 as 14:28:25

O que sei por debaixo da pele, segue silenciosamente o rastro do sangue
Como o desenho sinuoso das águas de um rio vietnamita
Misturado ao medo dos soldados mortos
Em guerras de céu e inferno dos dias sem fim.
Deságua em todos os meus órgãos e tendões,
Se entranha nas vísceras e depois vaza lentamente, no primeiro corte superficial
Ou junto aos meus ciclos lunares
Já que meu útero, há tempo demais, está vazio.

não se encontra classificado em nenhum livro didático de anatomia de quinta grandeza
A anomalia, talvez esteja numa célula disforme, dispare,
Uma entre tantas outras, a subverter a lógica da mitose,
Crescendo num pântano, um cancro
Sem catalogação plausível, sob a ótica de um microscópio óptico,
Que sabe descrever a agonia das estrelas anãs
Dispostas ao acaso em noites escuras.
A fuligem risível em céus sem lua.

O que sei, é que tento disfarçar as feridas que trago na pele
As roupas, por vezes, não escondem os olhos
E a minha nudez obscena, conta das cicatrizes
E as sombras ainda persistem, resistem
Ao espelho das descobertas encobertas por ressecados lábios mudos,
muros, separando dois planetas em rota de colisão.

O que sei por debaixo da pele, talvez esteja incrustado na clavícula direita
Uma nanopartícula pálida, resiliente
Amalgamada ao osso, ao esqueleto ,
Que cansado se deita, na poltrona de falso fundo verde,
Que no profundo de mim, ecoa, reverbera, grita,
Como a ausência do calor de uma determinada mão.
Me deixa o frio.

Lu Genez, Curitiba, PR, é poeta, escritora… E, claro, Livre Pensadora!

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