Atualizado em 20/08/2024 as 14:24:35
O que sinto não pode ser dito
em nenhum dialeto africano, hindu ou árabe
Nada a ser profanado nas longas línguas de um beijo,
Entre o pecado e a oração matutina.
O verbo inaudito, inodoro, insondável.
De revezes dialéticos, com incomensuráveis lapsos de abandono.
O que sinto tem o sons dos ventos, das pragas que consomem vorazes, o plantio das sementes.
Tem dentes, dedos e garras sequiosas
De minhas cruas carnes nuas
Autofágica, aborígene, animal
Canibal dos sonhos de Ícaro,
Em céus de ninguém.
É fúria, furacão, agonia, sensibilidade.
Grito e silêncio, sino de catedral
Diabólico e celestial.
Asas de pássaro agourento
venal, visceral e vergonhosamente humano.
Capaz de produzir tantas feridas,
Em todas de mim.
o que sinto é imensidão, vazio, berço,
É maior do que a pele que me reveste,
As muitas cascas e escamas em que me tenho pequena,
Avassaladoramente íntima do que não digo,
Do que teimo, do que escondo, do que escorro.
Espelhos fazem cortes profundos, ao fundo do olho.