Atualizado em: 28/07/2024, as 06:07
Pagávamos o pedágio por nossas mortes, nossas vidas, nossos ossos e bocas e corpos desnutridos, como se ter um nome fosse delito a ser custeado aos céus e ao inferno.
Pagávamos por ir, vir, ficar, sumir, colidir com outro carro na avenida central, mesmo que sequer tenhamos avançado sobre as leis da tolerância e dos impiedosos.
Pagávamos caro pela existência, pela lida na terra, pelos incontáveis devaneios, pelas negociatas, pelo dinheiro na cueca, nas malas, no cofre do ladrão e de sua quadrilha.
Pagávamos pelo ar, pelo suor, pela água infecta, pelo lodo, pela falta de saneamento, pelo assalto inevitável na esquina.
Éramos pagadores por imposição, por determinação, pagadores plebeus dos pecados e blasfêmias, pelas súplicas nossas das manhãs, por ter nascença, crença, piedade cega, aos donos de nós.
Pagávamos impostos e outras avenças, ou que fosse determinado ao acaso, ao injusto, aos indecorosos discursos e viagens nababescas, pagávamos pelo dia e a noite inacabada.
Olhos, dentes, a pele que nada valia, a não ser o que nos pudessem roubar, a luz dos holofotes e ribalta, sob o legado da legibilidade, da legitimidade, da governabilidade, e das mentiras de cunho padrão.
Pagávamos aos bobos da corte, aos parasitas, ao senhorio e sua indecente Dama, pagávamos ao segundo escalão, aos comensais do reino, aos juízes e aos deuses das torres de marfim, pagávamos, sob o peso da pata do elefante.
Haveríamos chegado ao fim, ao pó varrido, ao que se é levado pelo rio.
05/05/2024