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Música Ibérica no Norte do Brasil

Atualizado em 28/07/2024 as 11:26:24

Os mouros, também chamados de sarracenos, ocuparam a península ibérica por oitocentos anos. Essa presença ainda é marcante principalmente no sul de Portugal e da Espanha.

Os ecos dessa ocupação chegaram ao Brasil com as primeiras caravelas, dois séculos após a expulsão dos mouros da região portuguesa do Algarve. Encontraram terreno fértil no Nordeste, principalmente na aridez do sertão, representação secular do deserto, onde as condições de vida assumem aspectos que vão se reproduzir em diversas partes do mundo: o convívio com a uma natureza implacável, a falta de água, a lida com o gado, a manifestação de uma religiosidade aguda. Esse dado se adequa às condições adversas usando tecnologias milenares de sobrevivência em ambientes hostis. Desse meio brota uma cultura diferenciada, que não expõe a delicadeza, mas força e vigor como gostam de dizer um tal de padre Cícero. O aboio nordestino, canto dos vaqueiros para conduzir e chamar o gado, assentado em “vogais e melismas” (*) tem indiscutível origem oriental.

Esta prática teria chegado ao Brasil através de escravos mouros vindos da Ilha da Madeira. Diz ainda: “entoado numa série de interjeições semelhantes à vocalises, tendo bastante acentuado o estilo oriental, principalmente na Neuma (pré-escrita musical medieval europeia dos cantos gregorianos) a extraordinária semelhança com a música e cantoria “mourisca”, de onde parece ter saído. O aboio tem presença marcante na música popular contemporânea de matriz nordestina, desde o século 18 até Alceu e Elomar na atualidade .Possivelmente remonta há muito mais tempo, mas com poucos registros históricos no país.

Na realidade os Mouros negros eram escravos da Colonização Arábica na África. Vide no Egito a colonização atual muçulmana. Estes não são de etnia original arábica, que remonta ao Cáucaso mesopotâmico. Por isto a confusão de negros originários da África naturais, e os colonizados por árabes na região do Egito. Ambos estiveram presentes na colonização portuguesa. Mas também haviam espanhóis e árabes originários nas Caravelas.

Além do que Portugal era um centro arábico na Península há pelo menos oito séculos. O violão era de origem árabe, posteriormente transformado na guitarra espanhola acústica. Derivados do Alaúde árabe. Da mesma forma que há uma influência da cultura árabe nos séculos XVII e XVIII através da presença na Bahia dos escravos convertidos muçulmanos, os Malês.

Outro elemento onipresente na música nordestina e brasileira de uma forma geral que chegou até nós via Península Ibérica é o Pandeiro. Redondo ou retangular, geralmente tocado por mulheres, o pandeiro, adufe ou tamboril é imprescindível nos cantos e danças mouros. Pero Vaz de Caminha já fazia referência a esses instrumentos na sua “Carta do Achamento” ao rei de Portugal em 1500, tocados pelos marinheiros ao chegarem às praias de Porto Seguro e encontrarem os primeiros indígenas.

Na literatura, um dos elementos mais representativos dessa herança é o romance, que aqui se transformou, ganhou novos metros, outros acentos, mas manteve intacto o sabor oriental, a fragrância peculiar do almíscar (perfume de origem animal).

Um dos motivos mais populares, tanto na península como aqui, é o romance da Donzela Teodora. Nele, independente da forma encontrada, seja em prosa ou verso, nas mais variadas versões, o tema é sempre o mesmo: a exaltação da beleza e da sabedoria da mulher astuciosa, prodígio de inteligência e sensatez.

Vamos encontrar essa mesma donzela entre as canções do trovador contemporâneo Elomar. O compositor baiano se apropria inclusive de versos inteiros do romance original, ou de sua versão mais conhecida entre nós.

A Donzela Tiadora – Elomar
O Pidido (O Pedido) – Elomar

Aqui na voz e interpretação ao violão de Danielle Bonfim, é uma das mais lindas pérolas brasileiras ibéricas. Tem várias interpretações, entre elas Fafá de Belém e o próprio Elomar.

Note que as duas músicas já são propriedade de solo brasileiro, transmutadas e permeadas do sertão nordestino.

Nas caídas melódicas em vários baiões e xotes, a gente ouve as escalas orientais sempre. Mas acostumamos e não diferenciamos, e além disto, a maioria do povo não tem cultura da própria arte local.

Aqui mais um exemplo do Pandeiro em vídeo no Youtube que remonta músicas do século 18:
Zajal: Gênero Musical Árabe Medieval Que Chegou ao Brasil

(*) Melismas são ligações silábicas e legatos com ondulações na música)
Aqui dois momentos da cantora árabe em Gaza(Azam Ali) lindos que poderão notar a similaridade

Amyr Cantúsio Jr. – Campinas, SP. Músico, Compositor, Pianista, Produtor e Gestor Cultural, Técnico em Fortran & Cobol, Musicoterapeuta em Neurociencia. Livre Pensador.

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amyr von bathel cantusio
amyr von bathel cantusio
20/07/2024 10:01

GRANDES BARATA!!Ficou massa e é bom para nossa cultura!! abração!!

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