O Inferno de Monark e os Apologistas do Totalitarismo

Atualizado em: 02/09/2024, as 12:09

Não sei se Bruno Ayub, mais conhecido como Monark, e seu sócio Igor Coelho acreditam em Inferno ou no Fim do Mundo. Contudo, logo após a veiculação de mais uma exibição do badalado Flow Podcast, em 07 de fevereiro de 2022, a dupla está vivendo momentos de tormenta, virtuais e reais, tudo por causa da falta de habilidade de Monark ao abordar um assunto extremante sensível e que sempre desperta grandes polêmicas: o nazismo, a odiosa ideologia produzida saída da mente doentia de um artista fracassado, porém dotado de uma oratória incendiária e calculada, que arrebatou milhões de pessoas, que viram nele a figura de um messias. Os danos causados a humanidade se fazem sentir até os dias de hoje. Para quem quiser saber mais, não faltam fontes.

A entrevista com os deputados federais Kim Kataguiri e Tabata Amaral — na verdade, um bate-papo regado a vinho e um certo de tipo de cigarro (consumido por Monark e talvez por Igor) que durou mais de cinco horas – começou a desandar, graças às incoerências levantadas por Monark e endossadas por Kim Kataguiri. Tabata Amaral, com muito esforço, tentou conduzir a conversa para um nível no mínimo coerente. Entretanto, o estrago já estava feito; não havia caminho de volta. No dia seguinte, o assunto estava em todas as bocas. Diz a imprensa:

“Após fala sobre nazismo no Flow Podcast, o youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, foi desligado dos Estúdios Flow. O anúncio, divulgado nas redes sociais nesta terça (8), acontece após o episódio 545 do programa, gravado e transmitido na segunda-feira (7), em que o apresentador defendeu a existência de “um partido nazista reconhecido por lei”.

A pauta da conversa naquele momento era liberdade de expressão. Ao lado de Igor Coelho (“Igor 3K”), Monark conversava com os deputados Kim Kataguiri (Podemos-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP) quando defendeu ideias vistas como apologia ao nazismo.

“Eu sou muito mais louco que vocês. Eu acho que o deveria existir um partido nazista reconhecido pela lei”, disse Monark. Questionado sobre o Holocausto, o apresentador continua: “eu acho que dentro da [liberdade de] expressão, deveriam liberar tudo”.

O anúncio dos Estúdios Flow menciona que o episódio 545 foi tirado do ar e que a empresa “lamenta profundamente o ocorrido”. Em contato com a revista Exame, o diretor dos Estúdios Flow, Sergio Coelho, disse que Monark não faz mais parte da sociedade que compõe a empresa.

As falas de Monark movimentaram as redes sociais rapidamente, colocando o nome do programa, do apresentador e outros termos relacionados nos Assuntos do Momento do Twitter. Em seguida, devido à forte repercussão, vários patrocinadores do podcast se manifestaram na internet ou romperam acordos de publicidade, como a Flash Benefícios, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro e a Fatal Model.

A Conferederação Israelita do Brasil (Conib) condenou as falas de Monark sobre nazismo, citando especialmente a “defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o direito de ser ‘antijudeu’”.

https://canaltech.com.br/internet/monark-e-desligado-do-flow-podcast-apos-defender-legalizacao-de-partido-nazista-208738/

Igor e Monark são conhecidos por terem a língua solta, aqui e acolá fazendo maluuso da liberdade de expressão, esse artigo de luxo em risco de extinção no Brasil e no mundo a fora. No entanto, por dedução pura e simples, o Flow Podcast derrapou na maionese. Destruído o castelo, Monark gravou um vídeo, no qual, bastante abatido, declara arrependimento, tentando encontrar uma justificativa por ter defendido a legalização de um partido nazista no Brasil. Dada a gravidade do fato, os sócios desfizeram a sociedade. Tudo indica que o Flow Podcast seguirá, ao menos por um tempo, apenas com Igor.

As falas do podcaster Monark entraram no radar da Procuradoria Geral da República:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-60312139

Os podcasts estão na moda; muitos deles são autênticos ‘cases de sucesso’. Dada a visibilidade que eles alcançaram, a imprensa televisionada vem comendo poeira, ora perdendo, ora deixando de ganhar dinheiro. Muito dinheiro. Até há não muito tempo atrás, os podcasts iam atrás de entrevistadores. Hoje, a corrente está se invertendo. Não há quem duvide que eles serão um grande diferencial na corrida eleitoral de 2022, para azar das redes de televisão (alô, Rede Globo!). Não tenho a menor dúvida que o fator “dinheiro” determinou a saída de Monark, haja vista que nenhum anunciante está interessado em vincular sua marca a alguém que tocou, desastradamente, em um tema sensível.

É evidente que, tanto Monark, como o deputado Kim Kataguiri não são apologistas do nazismo. Por ora, são poucos aqueles que estão dispostos a conceder-lhes essa atenuante. O ordem é o linchamento, de preferência, seletivo, e, ato contínuo, empurrá-los para o ostracismo. No caso do militante-fundador do MBL-Movimento Brasil Livre, considera-se a possibilidade de cassar seu mandato.

Monark, Igor e Kim Kataguiri não possuem o shape necessário para serem admitidos em um hipotético partido nazista. A pureza racial passa bem longe deles. O problema de um bate-papo regado a bebida alcoólica, é que se perde o cuidado com o que é dito, além do fato de que a conversa está sendo filmada e divulgada para o mundo inteiro. A animação da conversa os fez esquecer as câmeras ligadas e os milhões de olhos e ouvidos atentos a conversa. Deu no que deu.

A qualidade de um podcast depende muito do talento de quem o apresenta. Pouquíssimas vezes tive saco para dispender duas, três, quatro horas para assistir esse tipo de entretenimento. É preciso que o convidado seja interessante o bastante para que a conversa consuma todo esse tempo. E é ainda mais importante que o entrevistador tenha conhecimento sobre os temas que são levantados. Sei de alguns Zés Manés que perdem grandes oportunidades de tirar o máximo de informação do entrevistado. Monark é um daqueles que se julgam espertos. No entanto, o desastre verificado no bate-papo com os parlamentares, deixou claro que o condutor da entrevista deve ter pleno controle da situação, inclusive, deixando o senso crítico falar mais alto. Monark não teve essa pegada.

Como não poderia deixar de ser, a desgraça de Monark não apenas inflamou as ânimos, mas abriu janelas para os oportunistas de plantão, que estão capitalizando o balacobaco para suas agendas. O Partido dos Trabalhadores não perdeu tempo:

“A bancada do PT (Partido dos Trabalhadores) no Senado entrará com pedido nesta 4ª feira (9.fev.2022) para a cassação do mandato do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). O motivo foi a fala do congressista no Flow Podcast em defesa da descriminalização do nazismo. O senador Humberto Costa (PT-PE) que a representação será entregue ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. O petista criticou Kataguiri pelos comentários que, segundo ele, representam uma defesa ao regime nazista alemão. (…)”
https://www.poder360.com.br/congresso/bancada-do-pt-pede-cassacao-do-mandato-de-kim-kataguiri/

O que está por trás do pedido do PT é um sentimento de vingança, uma vez que Kim Kataguiri, um dos fundadores do MBL, é um personagem importante no impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016. Kim também é apoiador do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, pré-candidato a presidência da República. Moro é a maior estrela da Operação Lava Jato, responsável pela prisão de grandes empresários e figuras graúdas do partido, entre elas, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Nada mais do que vingança, doce vingança.

A desastrosa entrevista no Flow Podcast trouxe novamente à tona uma velha pergunta:

Se o nazismo é proibido no Brasil, por quê o comunismo é legalizado, inclusive organizado em partidos políticos?

A lei no. 7716, em seu artigo 20, de 05.01.1989, enquadra o nazismo e prevê punições:

“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa. (Redação dada ao caput pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997, DOU 14.05.1997)
§ 1º. Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997, DOU 14.05.1997)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 2º. Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997, DOU 14.05.1997)
§ 3º. No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997, DOU 14.05.1997)
I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997, DOU 14.05.1997)
II – a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997, DOU 14.05.1997)
III – a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores. (NR) (Inciso acrescentado pela Lei nº 12.288, de 20.07.2010, DOU 21.07.2010, com efeitos a partir de 90 (noventa) dias após a data de sua publicação)
§ 4º. Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. (Redação dada ao artigo pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997) (Parágrafo acrescido pela Lei nº 9.459, de 13.05.1997, DOU 14.05.1997)”.
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=83313

Não há dúvida de que a lei é boa. No entanto, a meu ver, é uma lei incompleta, parcial. Na verdade, a indagação é geral, visto que o nazismo, comunismo e o fascismo são ideologias totalitárias e comprovadamente genocidas. Cada uma delas a seu modo é responsável pela morte de milhões de pessoas. O nazismo e o fascismo foram derrotados na Segunda Guerra Mundial. Desde então se tornaram movimentos proscritos no mundo inteiro. A exceção fica com os regimes dele derivados, que vigoraram, por exemplo, na Espanha, Portugal e Argentina. No Brasil, o regime do Estado Novo, liderado pelo ditador Getúlio Vargas, que vigorou entre 1937 e 1945 teve inspiração claramente fascista. Seja como for, é importante que eles jamais voltem a ter a força que tinham nos anos 1930 e 1940. O combate a eles deve ser ostensivo.

Já comunismo, por meio da União Soviética, é uma das forças vencedoras da Segunda Guerra Mundial. Obviamente, por gozar desse privilégio, ele só se expandiu, se instalando na Europa Oriental, Ásia, África e América Latina. No Brasil, essa ideologia ganhou a forma de partido político, com a fundação do Partido Comunista Brasileiro em 1922. Desde então, mesmo nos períodos em que esteve proibido, esse partido tem estado presente na vida nacional, mesmo se subdividindo em outras siglas e variações ideológicas, mas sem perder sua identidade totalitária.

Com a volta dos questionamentos a respeito do porque de o comunismo ser legal e o nazifascismo ilegal, os debates se tornam, como não poderia deixar de ser, acalorados. Os defensores do comunismo insistem em afirmar que ele não é o equivalente do nazismo, devido a sua proposta racista. Já os apoiadores da tese de que essas ideologias possuem mais semelhanças do que diferenças é o que está mais próximo da realidade nua e crua.

De minha parte, como já disse em matérias anteriores, abomino em pé de igualdade o nazismo, o fascismo e o comunismo. É inacreditável constatar que o ser humano tanto pode ser capaz de criar coisas maravilhosas, quanto produzir monstruosidades capazes de destruir pessoas, comunidades e povos inteiros. Considero a suástica, a foice e o martelo, bem como o feixe e o machado fascista símbolos horríveis. Considero um contrassenso banir os símbolos nazistas e fascistas e tolerar o símbolo maior comunista. Não faz sentido!

Somos sabedores de que o comunismo e seus derivados estão fortemente instalados nas universidades, e que nelas há uma forte doutrinação ideológica, constantemente denunciadas e constantemente ignoradas pela grande mídia. Essa doutrinação também se faz presente nas escolas de ensino fundamental e médio. Evidentemente, intelectuais, políticos, jornalistas, artistas e formadores de opinião negam a existência de doutrinação ideológica. Uma das táticas é desacreditar os denunciantes e se colocarem como vítimas de preconceito e perseguição.

O combate a essa prática está longe de acabar, principalmente pela forte presença da esquerda no meio político. Com o ressurgimento da direita como força política os embates tendem a se tornar mais acirrados. Sou daqueles que acredita que ideias ruins devem ser combatidas com boas ideias. Sou pela liberdade de opinião, mas todos são responsáveis pelo pensam, dizem ou fazem. Liberdade rima com responsabilidade.

Por fim, a desastrada opinião do podcaster Monark apontou os holofotes para certas verdades que muitos tentam esconder. Pelo visto, o inferno não está sendo só para os comentários infelizes dele, mas para os apologistas do totalitarismo também.

12/02/2022

Genecy Souza, de Manaus, AM, é Livre Pensador.
Possui textos publicados na revista digital PI Ao Quadrado e na revista impressa Gatos & Alfaces.

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