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O Inusitado e o Corriqueiro

Atualizado em: 28/07/2024, as 04:07

Na penumbra da biblioteca, onde as estantes se curvavam sob o peso dos séculos, havia um murmúrio constante. Era o som das palavras, sussurrando entre si, trocando segredos e risadas. Os livros, com suas lombadas gastas e páginas amareladas, eram os guardiões desse mundo silencioso.

Todas as manhãs, o bibliotecário chegava com seu avental empoeirado e sua xícara de chá. Ele acendia as velas e abria as janelas, deixando a luz do sol dançar sobre os tomos antigos. Era um ritual sagrado, uma comunhão com os deuses da literatura.

Mas, um dia, algo inusitado aconteceu. Um livro começou a se mover. Suas páginas se abriram como as asas de um pássaro, e ele voou para fora da estante. O bibliotecário esfregou os olhos, pensando que estava sonhando. Mas o livro continuou a voar, girando no ar como uma folha ao vento.

Ele seguiu o livro pelas escadas de madeira, até o jardim dos fundos. Lá, encontrou uma cena surreal: os personagens de todos os livros estavam reunidos. Dom Quixote discutia com Sherlock Holmes, enquanto Alice trocava receitas com o Pequeno Príncipe. As bruxas de Macbeth lançavam feitiços, e o Capitão Ahab buscava sua baleia branca.

O bibliotecário ficou sem palavras. Os personagens o cercaram, perguntando sobre o mundo exterior, sobre as novas histórias que haviam sido escritas. Eles queriam saber se ainda eram amados, se suas aventuras ainda eram contadas.

E assim, o bibliotecário se tornou o contador de histórias. Ele lia para os personagens todas as noites, sob o luar. Eles riam e choravam, lembrando-se de suas próprias jornadas. O inusitado se misturava ao corriqueiro, e a rotina literária nunca mais foi a mesma.

Os personagens voltaram para seus livros, mas agora sabiam que havia um mundo além das páginas. E o bibliotecário continuou a cuidar da biblioteca, com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos. Ele sabia que, em cada livro, havia um universo esperando para ser explorado, uma história pronta para ser contada. E ele estava disposto a ouvir.

Renato Pittas, Rio de Janeiro, RJ, é artista plástico, poeta, escritor e Livre Pensador. Autor de Tagarelices: Conversas Fiadas Com as IAs.

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