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Opera Mundi — O Clube dos Assassinos – Apenas Uma Mulher

Atualizado em: 10/11/2024, as 11:11

“Ressurgi na minha escuridão,
Sempre calado…
Olha-me apenas, como a sua amiga,
Quando na verdade
O meu pensamento está em pecado!”
Fabiane Braga Lima

Ao cair na noite, ali não se ouvia um só ruído, o lugar perdido, iluminado de forma precária à noite, margeado por uma rodovia federal, uma rodovia elevada, margeava a avenida Marginal Leste, cortava parte da cidade, de ponta a ponta. Se de dia, a vida ali ocorria normalmente, era no cair da noite, que habitués da vida noturna, ali se reunia, para viver as suas aventuras. Uma rua asfaltada, com intervalos de chão batido, nas ruas vicinais, era o que se dizia áreas suburbanas, com propriedades abandonadas e decrépitas. Oficinas de automotores, bares populares, inferninhos, conveniências, hotéis baratos, condomínios populares, pequenos traficantes e prostitutas, conviviam bem, na medida do possível, com os notívagos e boêmios, que ali viviam as suas aventuras na calada da noite.

Natália, conhecida como Nadine, era uma das damas da noite, que convivia com as outras criaturas noturnas. Clientes habituais, clientes ocasionais e aventureiros, de outras cidades, eram os clientes de Nadine. Clientes que Nadine, dividia com as outras e os outros companheiros e companheiras de profissão. Nadine, como sempre fazia, naqueles dias de verão, quando a cidade era inundada de turistas, vindos de toda a parte e com todos os bolsos.

Nadine fumava um cigarro, no bar do Geraldo, Geraldinho para os mais próximos. A dama da noite, terminou de fumar, tomou um uísque barato, pagou o que devia e adeus ao seu bom amigo Geraldinho e partiu. Uma vez, na rua vicinal, da Marginal Leste, Nadine olhou para dentro da pequena bolsa e conferiu o quite da morte. Composto de uma pequena garrafa de uísque, um pequeno teaser elétrico, um spray de pimenta, um batom, que ao girar uma pequena navalha, se fazia a mostra e pôr fim uma pequena quantidade de dinheiro. Nadine olhou para cima, em direção da Marginal Leste, dois trens magnéticos passaram em alta velocidade, um ia para o norte e outro para o sul. Mas não era isso que Nadine procurava, ela procurava o drone de vigilância, que passou, fazendo a patrulha.

Nadine, tirou um pequeno e delicado estojo da bolsa e tirou o último item do quite da morte, a dama da noite, tirou do estojo, duas lentes de contato e colocou nos olhos. Os olhos verdes, da dama da noite, deram lugar a sombrios olhos pretos e a profissional do sexo, esperou as lentes se auto-ajustarem. As luzes brancas, dos postes, se tornaram amarelas opacas e então Nadine, deu boa noite para o amigo Geraldinho e rumou para a escuridão da Marginal Leste.

E ao mergulhar na escuridão, as lentes de contato se auto-ajustaram novamente e o clarão do dia, expulsou a escuridão. Nadine, uma jovem de pele amendoada, cabelos negros encaracolados, meias arrastão nas pernas, short de vinil preto reluzente, lábios grossos adornados de batom vermelho predador. Vestida com uma casaca de vinil marrom, discretas pulseiras brancas glaciais, um fino colar artesanal de contas azul marinho e pequenos brincos vermelhos nas orelhas.

Um sentimento ruim tomou Nadine de assalto, de ponta a ponta, ela olhou ao redor da Marginal Leste, estranhamente, nenhuma das amigas ou amigos de profissão, estavam trabalhando. Um estranho e sufocante silêncio glacial pairava no ar, a lembrança de uma aventura, que ela queria esquecer lhe invadiu a mente. Nadine divisou ao longe uma estranha criatura, que se fez presente, foi quando Nadine percebeu que era um cachorro caramelo. Um jaguara, um cão vadio decadente, que rosnava para Nadine e o medo se dissipou por completo, quando as lentes de contato, nos olhos da dama da noite, davam conta da enorme distância do animal, em relação a dama da noite. A dama da noite levou a mão até a bolsa e por precaução abriu o fecho.

A criatura infernal, uivou e os olhos vermelhos em chamas, aterrorizaram Nadine. O animal correu e saltou para cima de Nadine e fechou os olhos ao abri-los, a criatura diabólica, tinha desaparecido. E uma gélida voz, sem pedir licença, chegou aos ouvidos e na mente de Nadine, uma lufada de vento atingiu a dama da noite, um vulto passou na frente da mulher. A dama da noite, sentiu algo viscoso e quente a lhe percorrer no peito e a gotejar nos pés. Nadine olhou para baixo e viu as sandálias romanas, aterrada ela viu uma pequena poça de sangue. A dama da noite, balbuciou intempéries, fechou os olhos, tentando se convencer que estava em casa, deitada na cama, vivendo um pesadelo vívido.

Vestya, Vestya, Vestya era a palavra que chegou aos ouvidos da dama da noite. Nadine abriu os olhos, viu um pouco à frente uma criança pequena, de cabelos longos lisos, traços negróides, queixo fino, olhos amarelos, vestida de uma bata cerimonial branca, esqueléticas mãos pequenas e com dedos finos. A criatura sorriu para Nadine, amostra famintos dentes ebúrneos cerrados, a criança se elevou do chão lentamente. Vestya, disse a criatura e rapidamente avançou em direção da dama da noite.

Um grito aterrado ecoou na Marginal Leste, fez estremecer a todos e todas, naquela perdida noite.

Fragmento do Livro: “Em Perpétuos Ciclos”

Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

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