Atualizado em 10/11/2024 as 11:39:58
“Vivo numa realidade assombrada, mas grata por estar viva!
Fantasio os meus devaneios, para não sangrar a dor da realidade.
Tento e quero levar um pouco de amor.”
Fabiane Braga Lima
Loft industrial, à primeira vista, parecia pequeno, mas não era, nem era uma grande morada. Era um espaço necessário, não para o que fora projetado e sim como era adaptado, para cada ocasião, pois Elizabeth, gostava de bancar a arquiteta/decoradora de aplicativos gratuitos. O imóvel, muito bem localizado, próximo ao Atlântico, sofrera as suas alterações mais uma vez, o elevador para deficiente desapareceu e a cozinha também sumiu. Assim como as caixas de gesso, para esconder tubulações e as vigas de aço galvanizado, que davam sustentação para o dormitório, haviam desaparecido. Um sofá cama apareceu do nada assim como desapareceram de forma repentina, os diversos quadros pendurados nas paredes. Assim foi a cozinha, fogão, processadores de alimento e os seus os demais utensílios e a cozinha virou um aconchegante quarto de dormir. E por fim, a sala de estar, se transformou no estúdio de trabalho de Elizabeth, Lili para os íntimos e a garagem se transformou em um expositor da produção da estudante de designer.
Todas estás modificações no loft, não levaram dias, nem semanas ou meses e sim foram horas, mas para que tudo isso? Ganhar espaços e deixar o ambiente impessoal e funcional, para a nova inquilina Amira, a típica filha das elites que caíra no mundo ruma a vida real. Elizabeth dividiram os ambientes de trabalho, Amira uma, cantora, produtora musical e disque jockey, ocuparia o quarto elevado, com a sua maquinaria eletrônica e alguns instrumentos musicais. Que deviriam espaço com uma cama de casal, um guarda roupa sem portas, uma arara-cabideiro, uma sapateira e um pequeno camarim.
Sentada no confortável sofá cama, Amira olhou para um sobrevivente da tal reforma de última hora, uma mesa de centro oval madeira maciça. O elo de ligação da outra vida de Amira, o que chamou a atenção da moça, a bem da verdade era uma revista, a Revista Astro-domo de comunicação e artes. Peça disposta na mesa de centro uma raríssima versão impressa, só disponível em mídias digitais, era somente enviada na versão impressa, para poucas pessoas. Geralmente quem tinha acesso, à versão impressa da revista, eram somente então os colaboradores da revista, poucos aclamados críticos de arte e cultura, cultuadas e influentes figuras do meio artístico e cultural.
— Lili meu bem! Que diabos está raridade esta…
— Não me chame de Lili, por favor! — Sentenciou de forma áspera Elizabeth para a outra.
Elizabeth estava finalizando uma tela, ela estava de costas para Amira, eram aquelas artes finais, que nunca acabam e não precisou que a obstinada pintora olhasse para trás para ver Amira esparramada no sofá cama e com as pesadas botas cano longo, em cima da mesa de centro. Os longos cabelos lisos, que lhe caia na cintura, cabelos com as mexas pontadas de cores diferentes, as meias arrastão, camisa física, os vários piercing no nariz adunco, nas orelhas, na boca, na língua e no umbigo. Na visão de Elizabeth, davam para a jovem de olhos negros rasgados um ar de vulgaridade excêntrica.
— Por favor! Abra a revista e leia a coluna, Contos e Crônicas, minha querida inquilina! — Disse de forma amável Elizabeth, para depois mergulhar o pincel em uma paleta de madeira oval de tinta, a feramente que estava estática na mão direita da pintora. E continuar a trabalhar na tele, como se a produtora cultural não existisse.
— Vou abrir sim! Minha locatária favorita! — Respondeu Amira um tanto inquieta, e ao pegar a revista, um peso abissal recaíram nas costas de Amira. Um marcador ajudou a mulher encontrar a coluna, Contos e Crônicas e o título chamou atenção de Amira. O Clube dos assassinos! Um texto de autoria de Clarisse Cristal.
Com os olhos vidrados no texto, Amira sentiu náuseas, dores de cabeça, os olhos doíam a ler a obra. E ao terminar a leitura a jovem, não cabia em si, assustada extasiada, estupefata, não encontrou as palavras ou sentimentos para descrever o que acabou de ler.
E ao olhar para cima não encontrou a pintora e os olhos da artista se detiveram na tela que Elizabeth tinha terminado, era ela Amira retrata em cores vivas e fortes, uma pintura realista com ares vagos e nevoentas. E o Amira estava coberta de sangue que jorrava da garganta. A artista quis gritar, mas não conseguiu.
Fragmento do Livro: “Em Perpétuos Ciclos”