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Opera Mundi — O Clube dos Assassinos — Welcome To The Black Party!

Atualizado em 10/11/2024 as 11:39:56

“O tempo quer que fiquemos juntos,
Ardo em desejo na tua espera,
Tempo de ficarmos juntos,
De mãos dados comigo,
Teu corpo encostado no meu
Chega arder por dentro
Que arde contigo e comigo!”
Patrícia Raphael

Ao voltar em si, Amira se deu conta que estava no andar térreo do loft, ela tinha descido as escadas e não se lembrava de como chegou até ali. As lancinantes dores do corpo e as náuseas, tinha desaparecido por completo, então a produtora cultural, olhou ao redor e não encontrou as telas de Elizabeth. A própria pintora, estava ausente, coisa rara de acontecer, Elizabeth sempre estava de pé, diante do cavalete, sempre a dar pinceladas monótonas e lentes nas telas, que vão se enchendo de cores e sabores acres. Ou sentada, lendo um livro ou uma revista de artes ou temas ligados à arte, sempre em silêncio glacial, sempre com o surrado avental de couro. A pintora, sempre com o short jeans surrado, sempre com a impecável camisa branca e a surrada sandália de couro. Nunca se alimentava, nunca bebia coisa alguma, em suma Elizabeth parecia ser inumana.

E tentando deixar tudo para trás, Amira munida com a sua bolsa de mão, decidiu chamar o motorista particular, que estava a sua disposição vinte e quatro horas por dia. Assim Amira, chamou Anatoly, o bom amigo de longa data, eram amigos de infância a bem da verdade. Por gerações, as famílias de Amira e Anatoly, ou trabalhavam ou eram sócios minoritários de Omar, um rico empresário que atuava em vários ramos de atividades empresariais.

Depois de uma breve troca de mensagens com Anatoly, Amira se dirigiu para a frente do loft de Elizabeth. E por lá, ela ficou por poucos minutos, até que um portentoso carro de luxo importado, dobrou a esquina. E Amira se surpreendeu, pois ela tinha sido clara, nas instruções que dera a Anatoly, em usar um carro de passeio discreto. O veículo em si, parecia um típico transporte de embaixadores, de ministros de estado ou altos funcionários públicos, em trânsito no estrangeiro. Aquele era o carro particular de Omar, calculou Amira, veículo que ele usava em ocasiões especiais, quando ia buscar sócios e amigos abastados no aeroporto. Quando Omar se deslocava em grandes distâncias, ou mesmo quando ia a festas e eventos especiais. A ideia de Omar, estar dentro do veículo, para ter uma audiência reservada com ela, gelou o âmago mais profundo de Amira.

Ao ver o veículo, se aproximar e parar na frente de Amira, uma tensão pairou no ar e aumentou quando a porta do motorista se abriu e de lá saiu Anatoly. Ele vestido de forma impecável, com um quepe, lhe ornando a cabeça, a feição grave do amigo de Amira, deixou a situação toda ainda mais absurda. O homenzarrão, com os olhos claros e sem vida, deu boa noite mecânico e a porta traseira do veículo se abriu automaticamente. E outra ideia invadiu a mente de Amira, um último passeio, antes de desaparecer por completo.

— Toni, meu bom amigo! Há algo errado? O que há? — Disse Amira muito assustada.

— Senhorita! Entre no carro e vamos ao destino, que a senhorita assim desejar! — Respondeu Anatoly, em tom formal, como um serviçal se dirigindo a uma pessoa importante.

— Absurdo! Então é assim? Vamos Toni, ao Evo-85! Mas não pare na frente do clube, por favor! — Falou Amira entrando no jogo.

Amira, olhou para cima e viu ao longe, uma revoada de aves negras noturnas, um grasnar alto e agonizantes chegou até Amira. A revoada, cai do céu em direção de Amira. A pequenas aves negras, pequenos olhos vermelhos, de pernas finas e compridas, seus longos bicos curvos, atingiram veículo e bicavam e ciscavam com ferocidade o veículo. Amira, que em desespero, foi buscar refúgio, dentro do veículo, olhou pela janela e viu as aves dilaceraram Anatoly. O eslavo, de braços abertos, com o corpo coberto de sangue e penas negras, ele voltou para Amira, e ele percebeu que Anatoly não tinha olhos. O eslavo, sorriu maleficamente para Amira e ele entrou no veículo. Amira aterrada, olhou para frente, os grasnares e os ciscarem haviam parado e as aves haviam desaparecido. O vidro que separava a cabine do motorista dos passageiros, se abriu e Amira relutou em olhar para Anatoly.

— Então Ani minha amiga, tu vai se divertir ou trabalhar hoje! — Disse um amável Anatoly restituído, com os olhos verdes vivos e o sorriso amável! Ele elegantemente trajado e o quepe havia desaparecido.

— Os dois Toni, meu amigo! — Respondeu a incrédula Amira.

— Quem bom minha amiga! Precisamos nos ver, fora do meu horário de trabalho! — Falou um Anatoly jovial.

O vidro fechou e o veículo partiu, foi tragado pela noite, pela neblina que tinha caído de forma repentina.

Fragmento do Livro: “Em Perpétuos Ciclos”

Samuel da Costa, contista, poeta e novelista em Itajaí, Santa Catarina.

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