Atualizado em: 17/08/2024, as 01:08
Introdução:
É creditado ao disc-jockey Alan Freed a criação do termo “Rock and Roll” ainda em 1951, quando começou a tocar um tipo “multirracial de música” misturando diferentes estilos musicais da época. Há quem afirme, entretanto, que o “gênero” nasceu ainda no final dos anos 1949. Há muitas divergências sobre a época correta, e até mesmo quais seriam os estilos que foram miscigenados e deram origem ao ROCK. É certo que, em maiores ou menores doses, o Jazz, o Blues, o Country transaram entre si para que fosse gerada essa criança.
Há também dúvidas também sobre qual deva ser considerada a primeira gravação, mas a maior parte dos estudiosos parece concordar que é “Rocket 88”, de Jackie Brenston e os Delta Cats, lançada pela Sun. Quatro anos depois, em 1955, “Rock Around the Clock” de Bill Haley veio a se tornar a primeira canção de Rock and Roll a chegar ao topo da parada
A proposta desta série de artigos do Jukebox foi a de escolher dez discos de cada década do ROCK, aqueles que, na visão pessoal de cada um de nós seriam os representativos da década. Os critérios, obviamente, são pessoais e não há nestas listas nenhum tipo de fator objetivo, como o disco que vendeu mais, ou o disco mais perfeito tecnicamente. É pessoal, mas pode ser facilmente transferível? Discutível? Desde que dentro do terreno do respeito à opinião particular.
1 ― Bill Haley (and His Comets) ― Shake, Rattle and Roll
(1955)
Gravadora: CD Horizon
A1 ― Shake, Rattle and Roll 02:32
A2 ― A.B.C. Boogie 02:30
A3 ― (We’re Gonna) Rock Around the Clock 02:30
A4 ― Thirteen Women (And Only One Man in Town) 02:55
B1 ― Dim, Dim the Lights (I Want Some Atmosphere) 02:33
B2 ― Happy Baby 02:37
B3 ― Birth of the Boogie 02:17
B4 ― Mambo Rock 02:39
Considerado o primeiro disco a ir ao topo das paradas trazendo um tal de Rock and Roll, na verdade esse disco é considerado o marco zero do Rock. A explosão de “Rock Around The Clock” se deveu particularmente ao fato de ser parte da trilha sonora do filme Blackboard Jungle (Sementes da Violência), de Richard Brooks, que tratava sobre violência juvenil. Portanto, pela sua importância histórica, esse disco não poderia ficar de fora.
2 ― Carl Perkins ― Whole Lotta Shakin’
(1958)
Lançamento: 03-11-1958
Gravadora: Columbia
A1 ― Whole Lotta Shakin’ Goin’ On ― ― 02:56
A2 ― Tutti-Frutti ― ― 02:02
A3 ― Shake, Rattle and Roll ― ― 03:24
A4 ― Sittin’ on Top of the World ― ― 02:06
A5 ― Ready Teddy ― ― 02:00
A6 ― Long Tall Sally ― ― 02:55
B1 ― That’s All Right ― ― 03:26
B2 ― Where the Rio de Rosa Flows ― ― 03:02
B3 ― Good Rockin’ Tonight ― ― 02:19
B4 ― I Got a Woman ― ― 03:10
B5 ― Hey, Good Lookin’ ― ― 02:40
B6 ― Jenny, Jenny ― 02:08
Carl Perkins era de família muito pobre e em 1956, compôs a música “Blue Suede Shoes”. Produzida por Sam Phillips, a canção venderia milhões de cópias, mas quando ainda no auge da fama da música, se envolveu num acidente de carro gravíssimo. E enquanto se recuperava, o então quase desconhecido Elvis Presley lançou sua própria versão da música, que se transformou em estrondoso sucesso. Esse fato ofuscou para sempre a carreira de Perkins. Esse disco, entretanto traz as canções que seriam as mais emblemáticas da história do Rock e durante muitas décadas seriam exaustivamente gravadas e tocadas pela maior parte dos artistas do ROCK.
3 ― Buddy Holly ― The “Chirping” Crickets)
(1957)
A1 ― “Oh, Boy!” (Sonny West, Bill Tilghman, Norman Petty) – 2:07
A2 ― “Not Fade Away” (Buddy Holly, Petty) – 2:21
A3 ― “You’ve Got Love” (Roy Orbison, Johnny Wilson, Petty) – 2:05
A4 ― “Maybe Baby” (Holly, Petty) – 2:01
A5 ― “It’s Too Late” (Chuck Willis) – 2:22
A6 ― “Tell Me How” (Holly, Jerry Allison, Petty) – 1:58
B1 ― “That’ll Be the Day” (Holly, Allison, Petty) – 2:14 (May 27, 1957 Brunswick version)
B2 ― “I’m Looking for Someone to Love” (Holly, Petty) – 1:56
B3 ― “An Empty Cup (And a Broken Date)” (Orbison, Petty) – 2:11
B4 ― “Send Me Some Lovin'” (John Marascalco, Leo Price) – 2:33
B5 ― “Last Night” (Joe B. Mauldin, Petty) – 1:53
B6 ― “Rock Me My Baby” (Shorty Long, Susan Heather) – 1:47
Álbum de estreia e único disco gravado Buddy Holly, acompanhado da banda The Crickets. Com certeza Buddy Holly é uma das maiores referências na história do Rock, mesmo que sua curta carreira tenha durado apenas pouco mais de um ano, encerrada em um acidente aéreo em 1959, conhecido como “O Dia em que a Música Morreu”, no qual morreu também o cantor Ritchie Valens. De uma simplicidade extrema, esse disco demonstra o talento de cantor e exímio guitarrista de Holly, e é reconhecido abertamente com influência fundamental bandas e artistas como The Beatles, The Rolling Stones, Eric Clapton, Bob Dylan e Don McLean, por exemplo.
4 ― Jerry Lee Lewis ― Jerry Lee Lewis
[1958]
A1 ― Don’t Be Cruel 2:00
A2 ― Goodnight Irene 2:52
A3 ― Put Me Down 2:06
A4 ― It All Depends 2:57
A5 ― Ubangi Stomp 1:44
A6 ― Crazy Arms 2:41
B1 ― Jambalaya 1:57
B2 ― Fools Like Me 2:48
B3 ― High School Confidential 2:27
B4 ― When the Saints Go Marching In 2:06
B5 ― Matchbox 1:40
B6 ― It’ll Be Me 2:12
Disco de estreia de Jerry Lee Lewis, lançado através da Sun Records em 1958. Uma curiosa mistura de estilos variados, desde as totalmente “Country” como “It All Depends” e “Fools Like Me”, até as totalmente roqueiras como “Put Me Down”, “Matchbox”, “Don’t Be Cruel” e “High School Confidential”, entremeado por baladas e até mesmo canções Gospel. Nesse disco, Jerry Lee já exibe a marca que o consagraria: o jeito de cantar o característico piano “martelado”. Um disco essencial aos interessados pela história do Rock.
5 ― Chuck Berry ― After School Session
(1957)
Gravadora: Chess
A1 ― School Day (Ring Ring Goes the Bell) 2:42
A2 ― Deep Feeling 2:19
A3 ― Too Much Monkey Business 2:55
A4 ― Wee Wee Hours 3:04
A5 ― Roly Poly 2:50
A6 ― No Money Down 2:58
B1 ― Brown Eyed Handsome Man 2:17
B2 ― Berry Pickin’ 2:31
B3 ― Together We Will Always Be 2:36
B4 ― Havana Moon 3:07
B5 ― Down Bound Train 2:50
B6 ― Drifting Heart 2:46
Muita gente, incluindo eu mesmo, referencia o nome de Chuck Berry como o inventor do Rock and Roll. Claro que, em função do gênero ser uma mistura explosiva de ritmos, e principalmente por ser o produto de um contexto de época, do pós-guerra nos EUA. Mas que ele é um dos pioneiros no estilo, não por ter “inventado a mistura”, mas por tê-la feito funcionar. Unanimemente considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos, Berry imprimiu ao Rock uma marca própria, característica, que sobrevive, mesmo que nas entrelinhas, até os dias correntes.
“After School Session” é o primeiro álbum de estúdio de Chuck Berry, lançado em maio de 1957 pela Chess Records, gravadora que lançou quase que todos os discos dele. A canção “Roll Over Beethoven”, lançada como compacto simples anteriormente, um dos maiores sucessos e regravada por vários outros artistas, inclusive The Beatles, curiosamente não foi incluída nesse disco.
6 ― Gene Vincent – Gene Vincent & The Blues Caps
(1957)
Gravadora: Capitol
A1 ― Red Blue Jeans and a Ponytail 02:15
A2 ― Hold Me, Hug Me, Rock Me 02:15
A3 ― Unchained Melody 02:38
A4 ― You Told a Fib 02:21
A5 ― Catman 02:18
A6 ― You Better Believe 02:01
B1 ― Cruisin’ 02:13
B2 ― Double Talkin’ Baby 02:12
B3 ― Blues Stay Away from Me 02:16
B4 ― Pink Thunderbird 02:32
B5 ― I Sure Miss You 02:38
B6 ― Pretty Pretty Baby 02:27
Segundo álbum de Gene Vincent. Uma experiência inusitada para a época em que foi lançado: as guitarras e os vocais de apoio estão na parte traseira e apenas a voz de Gene firme na frente, a maior parte do tempo. Neste disco, como no anterior, o ritmo e a técnica impostos por Gene é algo impressionante. Energia pura. Decerto o vocal de Gene Vincent influenciou muita gente. A curiosidade desse disco, fica por conta da gravação de “Unchained Melody”, que muito tempo depois encheria o coração (e o saco) de muita gente, como trilha sonora do filme “Ghost”, na versão da dupla The Righteous Brothers. Gene Vincent pode não ser apontado como o melhor vocalista de Rock de todos os tempos, mas decerto será sempre considerado como um dos mais furiosos. Este disco é um registro enérgico e selvagem de uma época, exemplo da diversidade e sonoridade inerentes ao ROCK.
7 ― Johnny Burnette and the Rock ‘n Roll Trio ― Johnny Burnette and the Rock ‘n Roll Trio
(1956)
Gravadora: Coral Records
A1 ― Honey Hush
A2 ― Lonesome Train
A3 ― Sweet Love on My Mind
A4 ― Rock Billy Boogie
A5 ― Lonesome Tears in My Eyes
A6 ― All by Myself
B1 ― The Train Kept A Rollin
B2 ― I Just Found Out
B3 ― Your Baby Blue Eyes
B4 ― Chains of Love
B5 ― I Love You So
B6 ― Drinkin’ Wine, Spo-Dee-O-Dee, Drinkin’ Wine
“Johnny Burnette and the Rock ‘n Roll Trio” é o álbum de estréia do trio homônimo, lançado em dezembro de 1956. O disco é na verdade uma coletânea de compactos lançados anteriormente pela banda, formada por Johnny Burnette, seu irmão Dorsey Burnette e um amigo, Paul Burlison, no começo dos anos 50. Alguns estudiosos os creditam como criadores da palavra “Rockabilly”. Esse disco tem um valor histórico inestimável: um vocalista berrando enlouquecido, com um som simples que lembra Elvis, mas ao mesmo tempo uma das coisas mais nervosas que se tinha escutado na época. Outro fato faz desse disco um dos mais importantes da história do Rock: na gravação da faixa “The Train Kept A Rollin'” pode ser escutado um solo de distorção de guitarra. Segundo se sabe, o efeito foi um acidente, quando uma válvula do amplificador do guitarrista Paul Burlison se soltou durante o transporte para o estúdio. A partir daí, Burlison intencionalmente o repetiu em outros desempenhos. Essa música foi regravada com pelo The Yardbirds nos anos 60 e pelo Aerosmith nos anos 70. Já “Honey Hush”, outra faixa desse discaço foi regravada pela banda Foghat nos anos setenta. Johnny Burnette and the Rock ‘n Roll Trio” é um disco essencial em qualquer discografia de Rock!
8 ― Johnny Cash ― Johnny Cash With His Hot and Blue Guitar!
(1957)
Gravadora: Sun Records
A1 ― The Rock Island Line 2:08
A2 ― I Heard That Lonesome Whistle 2:21
A3 ― Country Boy 1:48
A4 ― If the Good Lord’s Willing 1:37
A5 ― Cry, Cry, Cry 2:25
A6 ― Remember Me 1:56
B1 ― So Doggone Lonesome 2:33
B2 ― I Was There When It Happened 2:13
B3 ― I Walk the Line 2:42
B4 ― The Wreck of the Old ’97 1:42
B5 ― Folsom Prison Blues 2:47
B6 ― Doin’ My Time 2:33
“Johnny Cash with His Hot and Blue Guitar”, álbum de estreia do cantor Johnny Cash foi lançado em 1957 pela Sun Records. O disco contém quatro Faixas: que tinham sido lançadas anteriormente em compacto e tinham feito enorme sucesso comercial. Conhecido como “O Homem da Camisa Preta”, ou o “Homem de Preto”, Johnny Cash foi conterrâneo e contemporâneo de Elvis Presley. Com sua voz extremamente grave, entoando uma mistura de Country com Rockabilly, Johnny Cash foi o precursor, o pioneiro de muitas coisas dentro do Rock, como o uso de preto, algo que chocou muitas pessoas na época e o fato de ter sido o primeiro a fazer um show dentro de um presídio. Canções como “I Walk The Line” e “Folsom Prison Blues” são as mais representativas da carreira de cerca de cinquenta anos de Cash. De fato, a carreira dele, pelo ponto de vista comercial só não foi melhor sucedida em função de suas relações amorosas e por ter sido ofuscada ou preterido em favor de Elvis. Em termos musicais, esse disco talvez não esteja a altura de figurar numa lista que contempla os dez melhores da década, mas foi relacionado por ser o disco que marca a estréia de Johnny Cash, sendo portanto uma questão de justiça.
9 ― Little Richard ― Here’s Little Richard
(1957)
Gravadora: Specialty Records
A1 ― Tutti Frutti 2:24
A2 ― True Fine Mama 2:41
A3 ― Can’t Believe You Wanna Leave 2:23
A4 ― Ready Teddy 2:07
A5 ― Baby 2:03
A6 ― Slippin’ and Slidin’ 2:38
B1 ― Long Tall Sally 2:07
B2 ― Miss Ann 2:15
B3 ― Oh Why? 2:06
B4 ― Rip It Up 2:22
B5 ― Jenny Jenny 2:00
B6 ― She’s Got It 2:25
“Here’s Little Richard“ é o primeiro disco de Richard Wayne Penniman, conhecido por Little Richard, lançado pela Specialty Records em Março de 1957. No ano anterior, Richard tinha colocado seis musicas entre as “Top 40”. O álbum tem as gravações de alguns dos maiores clássicos da história do ROCK como “Long Tall Sally”, “Tutti Frutti” , “Lucille”, “Keep A Knockin” (cuja introdução de bateria o Led Zeppelin copiou na música “Rock & Roll”). Little Richard cresceu ouvindo cantores de gospel e isto influenciou sobremaneira seu modo de cantar. Na adolescência aprendeu a tocar piano e se tornaria um dos pioneiros do Rock criando um estilo único com sua música agressiva, vibrante e intensa, tocada freneticamente ao piano. Esse disco, outra das pedras fundamentais do Rock, aliado a figura excêntrica, bissexual, frenética de Little Richard decerto transformou o estilo, sendo que a partir desse disco e seu criador, os caminhos para a loucura plena, as performances escandalosas e a dança erotizada estavam abertos.
10 ― Screamin’ Jay Hawkins ― I Put a Spell on You
(1958)
Gravadora: Okeh/Epic
A1 ― You Made Me Love You ― 1:59
A2 ― I Put a Spell on You 2:24
A3 ― Alligator Wine 3:01
A4 ― Little Demon 2:21
A5 ― There’s Something Wrong With You 2:18
A6 ― Orange-Colored Sky 2:49
B1 ― Yellow Coat 2:23
B2 ― (Take Me Back to My) Boots and Saddle 2:39
B3 ― Hong Kong 2:18
B4 ― Person to Person 2:06
B5 ― Frenzy 2:09
B6 ― I Love Paris 2:21
“I Put a Spell on You” é o primeiro álbum da carreira de Screamin’ Jay Hawkins. Uma mistura de Rhythm & Blues e Rock & Roll e.. culto vudu haitiano. A música título é considerada entre as que moldaram o estilo do ROCK, tendo sido regravada ao longo dos tempos por centenas de artistas. Originalmente composta como uma balada, “I Put a Spell on You” já na gravação, toda a banda estava sob o o efeito de substâncias alucinógenas e Hawkins gritou, grunhiu e murmurou pela música inteira, tendo como resultado algo rústico e gutural. No entanto, depois de reclamações que a musica continha conteúdo de apelo sexual, a gravadora lançou outra versão, sem grunhidos e gemidos, o que não impediu que a musica fosse banida das rádios em algumas regiões. No palco, Hawkins criou um personagem que se apresentava com roupas douradas e pele de leopardo, além de acessórios voodoo, como um crânio cravado em uma vara e cobras de borracha. O fato é que, esse disco e todo que o envolve, acabou fazendo escola. Aquela coisa de se dizer: será que existiria King Diamond se não tivesse existido Screamin’ Jay Hawkins? E pergunto: por que, depois de ter feito tudo isso, de ter provocado e ousado tanto ele é praticamente um desconhecido, tendo vivido quase no anonimato até o fim da vida? Seus 55 filhos sabem a resposta?
5/12/2013
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Só “descobri” os anos 50 na década de 80, embora já conhecesse muitos hits dessa época. Curto essas músicas, mas sem muito envolvimento emocional; o que vale aí é a diversão pela diversão, além da importância histórica.
Embora não seja o caso nessa lista, o R&B pegava mais forte, e é aí que me rendo. O R&B dos anos 50 são, salvo exceções, formidáveis.
Nessa lista, o LP do Screaming Jay Hawkins, dadas suas características incomuns, funciona como um ponto fora da curva, pois destoa do padrão rock and roll então nascente. Por fim, uma escolha acertada.
O Jay Hawins é um ponto fora da curva até hoje, se pensarmos bem… rs