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“Pobre de Direita” Eu? – Saiba Mais… (Parte 2 – Das “Jornadas de Junho” e do “Nós Contra Eles”)

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As Jornadas de Junho de 2013 foram uma série de protestos em mais de 500 cidades brasileiras, sendo a primeira mobilização nacional de grande escala no país. Inicialmente motivadas pelo aumento das tarifas de transporte público, as manifestações cresceram para incluir críticas à violência policial, aos gastos com megaeventos esportivos, à falta de investimentos em saúde e educação, ao poder dos oligopólios de comunicação e às falhas da democracia representativa. Além disso, diversas categorias em greve aproveitaram o momento para exigir melhores condições de trabalho. Embora a maioria das pautas estivesse ligada a movimentos sociais organizados, houve também demandas difusas, promovidas por grupos sem conexão com os protestos originais. Em algumas localidades, demandas específicas surgiram. As manifestações chegaram a contar com até 89% de apoio da população brasileira, refletindo a insatisfação generalizada com a situação do país naquele período.

Ali, a Copa do Mundo no Brasil, com despesas monstruosas, e que tinham como eixo central o cacifamento político do partido que desde 2002 governava o Brasil, passou a ser criticada, sendo que num dos jogos, a então Presidente, foi xingada a plenos pulmões. Ela ainda seria reeleita, mas dois anos depois, seria deposta. Seu partido já tido saído ileso publicamente de outros escândalos de corrupção, mas em Março de 2014, com a instauração da “Operação Lava Jato”, vários expoentes políticos, ligados direta ou indiretamente a ele, começaram a ser presos, culminando com a prisão de um ex-presidente em 2018.

Se até então, 2013, as pessoas conviviam pacificamente com suas diferenças políticas, a partir de 2016, com o impeachment da Presidente, acuados e desesperados, lançaram a “Guerra do Nós Contra Eles” visando claramente a divisão da sociedade em blocos ideológicos. Era o famoso “Dividir para conquistar.” E assim, caíram todos no Golpe impetrado pelo partido dominante. O gramscismo que vinha sendo implantado nas escolas e meios de comunicação amplificou e ecoou a discórdia, e a convivência pacífica se transformou em ódio, primeiramente com esquerdistas usando termos como “Coxinha” (antigo apelido pejorativo dado aos membros da Policia Militar, que só almoçavam coxinhas de frango em padarias), passando por termos cada vez mais duros, como “reaça”, até chegar aos dias atuais como “negacionista”, “golpista” e… “Fascista”.

Umberto Eco há não muito tempo disse que a Internet deu voz aos idiotas, no que concordo em termos, pois uma imensa maioria de usuários de redes sociais, realmente não tem nada de importante a dizer, e deveriam se contentar no papel de ouvintes ou leitores, mas passaram a se considerar grandes gênios pensadores, cuja voz, ecoada por outros do mesmo nível, crescia feito ninhada de ratos, protegidos pela segura distância física dos oponentes. A ampliação e amplificação da Guerra Ideológica foi assim crescendo, e as primeiras “baixas”, ou seja, vítimas, começaram a acontecer. Artistas e políticos medíocres foram elevado à categoria de gênios, e o inverso também acontecendo. Nisso, os laços afetivos, entre amigos, pais e filhos, foram se rompendo, o ódio cada vez mais emergindo, porque afinal, nada era mais importante que sua ideologia e seus líderes carismáticos. Cérebros foram derretidos e transformados em massas disformes, corpos estuprados e moídos, transformados em uma pasta irreconhecível. E a Internet, tida como o oásis da Cultura e Informação, se transformou num campo de batalha, com soldados zumbis se digladiavam, enquanto aqueles que a declararam, sorriam em banquetes regados a bebidas caras e lagostas.

Em 2017 parecia não existir nenhuma esperança de alguma oposição de fato, ao sistema político que vinha sendo conduzido desde a promulgação da Constituição de 1988. O “Teatro das Tesouras”, com dois partidos se revezando nas disputas eleitorais, fingindo serem inimigos, mas sendo compadres. Foi quando um ex-Capitão do Exército, até então um político inexpressivo, a não ser por bate-bocas altercações com inimigos políticos, se lançou candidato à Presidência da República, e foi subestimado pelo “estabilishment”, se acreditando que seria apenas um outro “Meu Nome é Enéas”, até porque o partido ao qual pertencia não tinha representação nem dinheiro, e assim jamais conseguiria alçar voos mais altos. Mas, por uma série de fatores, como o uso intensivo das redes sociais, coisa que era pouco valorizada e utilizada pelos grandes nomes, culminando com um atentado à faca, o tal Deputado acabou por ser eleito, já que seu maior concorrente, o grande nome do partido esquerdista, o ex-presidente, estava devidamente preso sob quilos de processos, evidências e delações, por uma série de crimes. Outra enorme pedra sobre a liberdade de expressão, outro fator contribuinte para a destruição da união entre as pessoas, e a tal de Cultura de Cancelamento se tornou mais e mais raivosa e não poupou ninguém.

Foi nesse período que sofri na carne – e na alma – o mais cruel cancelamento que uma pessoa pode sofrer. Tenho dois filhos, aos quais eduquei da melhor maneira que soube, jamais impingindo-lhes castigos cruéis e espancamentos que sofri, e procurando dar-lhes sempre o melhor financeiramente que estava ao meu alcance. Desde tenra idade colocava livros em suas mãos para que tomassem contato com eles, mesmo que não soubessem ler. Sempre estimulei o pensamento crítico e livre, e para que não confiassem em apenas uma única fonte, coisas assim. Mas meu maior erro foi justamente o que imaginava ser o maior acerto: tratava-os como amigos: assim, sem qualquer figura autoritária, quando treinados pelas escolas gramscistas, virei um alvo fácil, já que eu representava uma autoridade, a primeira que um ser humano reconhece, e para eles isso precisa ser destruído para que surtam os efeitos desejados do submisso com a mente já corrompida por ideais de falsa justiça social, falsa igualdade e falsos conceitos de liberdade. (o ideal socialista/comunista é uma farsa, pior que isso, uma mentira completa e ainda mais porque vai contra tudo aquilo que é da natureza humana, tentando assim “transformar” o ser humano, mas não como fizeram os nazistas, em campos de concentração em suas experiências “médicas”. Neles, os campos de concentração são nas escolas, onde as experiências são conduzidas por professores).

Foi no período eleitoral de 2018, bem no início, do processo, quando o ex-presidente ainda estava preso, e o ex-Capitão despontava e crescia aos olhos dos eleitores como única esperança de acabar com o Teatro das Tesouras. De longe ele não era o que eu imaginava ser o ideal, e via sempre com ressalvas, sua bocarrotice, seus ataques gratuitos, mas como além de reconhecer que a disputa política é uma guerra, e nela vale tudo, e também por perceber suas chances de derrotar o “establishment”, passei a apoiar, embora sem nunca declarar abertamente, e ainda assim colocando minha posição de que, embora eu não o julgasse o ideal, era a única esperança de por fim ao reinado de corrupção e incompetência do partido pseudo comunista.

Numa postagem no Facebook declarei isso, destacando os pontos em que concordava, embora não pretendesse votar nele. (eu não votei nele porque me mudei de cidade em Julho e não dava mais tempo de mudar o domicílio eleitoral, então acabei apenas justificando).

Até então, tirando períodos de hostilidade por conta de posições políticas, eu até tinha uma boa relação com eles, sendo que os colocava em todos os meus projetos, como livros e revistas. Em 2018 eu tinha me mudado, mas tínhamos contato constante por Whatsapp. Numa fatídica manhã, recebi uma daquelas ligações de golpe onde o golpista afirma ser seu filho e que foi sequestrado. Desliguei e ri muito, e mais tarde, como percebi que tinha umas semanas que não tinha contato com eles, mandei uma mensagem ao mais velho perguntando se estava tudo bem, e perguntando, como emoticon de riso, se não tinha sido sequestrado. A resposta, depois de horas, foi de uma agressividade que me deixou atordoado. Entre outras coisas, dizia que não foram, mas que se dependesse de “meu” candidato seriam inclusive torturados, e essas balelas e palavras chave que esquerdistas adoram, cheia de elucubrações doentias, sem base nem nexo. Antes que eu pudesse responder fui bloqueado… Pelos dois, já que são muito unidos quando se trata de “Política”. Ainda tenho as conversas, mas prefiro não replicar exatamente, porque teria que abrir o aplicativo e reler, o que seria dolorido demais. Desde então nunca mais falaram comigo, e já se vão sete anos, em que aprendi muito, sobre maneira a considerar erros que cometi, e compreender o que é necessário: não sofrer. Encaro minha missão de pai como bem sucedida, claro que não sem erros, e concluo que, de fato, estão exercitando exatamente o que lhes ensinei, mesmo de forma torta, seguindo pensamentos alheios, não considerando pensamentos críticos. Uma das ultimas declarações de um deles, de viva voz, ainda em 2016, logo após o “impeachment” da Presidente, de que ele não tinha cerveja porque não eram mais os tempos do “Pai Lula e da Mãe Dilma”. Isso explica tudo. Que sejam eles felizes com seus pais, porque eu estarei órfão de políticos.

Então, portanto, sei bem a dor do cancelamento, e não apenas por esse, mas por várias outras causas durante minha existência. E a coisa, conforme comentei antes, começou bem antes da atual onda de morte por asfixia, que é exatamente o significa a Cultura do Cancelamento.

23/03/2024

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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