Poesia Musicada Por I.A.

Todos os que me conhecem pelo menos um pouco conhecem declarações minhas de que, durante muitos anos, desde o início, por volta dos 16 anos, eu não imaginava estar escrevendo poesia, mas letra de música. Minha paixão pelo rock, especialmente pelo progressivo, heavy metal e blues rock, existe em mim desde que me conheço por gente. Assim continuou por muito tempo e, apenas e não por coincidência, depois que aconteceu de minha primeira “letra” ser musicada por uma banda (“Sangue de Barata”, pela banda de Lorena, SP, Tublues), em 2003. Somente aí passei a me considerar não como letrista, mas como poeta, porque, afinal, embora eu sempre tivesse envolvimento direto com músicos e bandas de São Paulo, nunca consegui (ou melhor: nunca tive paciência) para aprender qualquer instrumento. Depois de “Sangue de Barata”, vieram outras, como a maravilhosa “Olhos Vermelhos”, pela banda Psychotic Eyes, lá em 2014 ou 2015. Antes disso, de fato, aconteceu o que considero minha Magnum Opus: a ópera rock Vitória, em que criei todas as letras e o conceito, e que foi magistralmente conduzida musicalmente pelo maestro Amyr Cantusio Jr. Sem contar outras duas: Seren Goch: 2332 e Madame X.

Para muitos, pode parecer o máximo ou o suficiente para ter orgulho, o que, lógico, eu tenho, e achar que é suficiente para uma existência inteira. E é aí que entra a questão, que foi a real motivação para este projeto: não considerei suficiente. Além do mais, eu queria ditar as regras, ter algo exatamente como eu imaginava, mas que, até por respeito aos parceiros, eu não interferia na criação musical.

Até que chegou janeiro de 2025, quando Amyr e eu resolvemos concluir os temas faltantes de Vitória de 2010. Ele se pôs a trabalhar nas novas músicas e a remasterizar as antigas, e coube a mim fazer narrações que ele posteriormente colocaria a trilha musical. Como havia alguns cantos que eram femininos, saí procurando alguma IA que “cantasse” e encontrei uma coisa absurda chamada “Suno”. Depois de fuçar um pouco, submeti os versos (eram apenas algumas estrofes de dois versos) e, em segundos, tinha várias pequenas músicas criadas. Acabamos por incluir esse material na nova edição de Vitória, mas eu fiquei tão impressionado com a ferramenta que comecei a testar outras poesias, e o primeiro resultado palpável, que muito me agradou, foi simplesmente outra ópera rock, chamada Cidade das Putas, que era uma espécie de Vitória 2. Aí foi que peguei mesmo o gosto pela coisa e passei a diariamente “criar” músicas com essa IA.

A coisa, para o usuário, é absurdamente simples, mesmo para aquele que, como eu, não sabe tocar nada e não conhece nada de técnica musical. Alguns comandos (“prompts”) muito simples, como determinação de gêneros, estilos, instrumentos, se o vocal é masculino ou feminino, coisas assim, e, em segundos, a IA solta a música prontinha. Às vezes temos que refazer várias vezes para obter um resultado que agrade ou até juntar pedaços de várias para ter algo interessante.

Mas é claro que não posso considerar isso como uma obra artístico-musical genuína, porque ali falta o fator mais essencial numa criação artística, que é a emoção. As IAs podem emular certos padrões emocionais e até surpreender com a qualidade de suas composições, mas ainda carecem da vivência e da subjetividade humana, que são inerentes ao processo criativo. Condeno muito pessoas que, por exemplo, publicam textos ou qualquer outra criação artística feita por IA como se fosse criação própria. Há também a questão de que, com toda a evolução em progressão à velocidade da luz, logo não se criarão mais obras artísticas, e os artistas estarão fadados a ficar sem sustento, tal como ocorreu em outros momentos da história, quando novas tecnologias impactaram profissões artísticas. Podemos lembrar, por exemplo, da chegada da fotografia, que transformou a pintura retratista, ou da ascensão da música eletrônica, que redefiniu a criação musical. Coisas muito preocupantes, com certeza.

Por todos esses motivos, deixo claro que as poesias são criações minhas, muitas escritas ainda no século passado, mas que a “criação” e “interpretação” são feitas por IA. Jamais eu dispensaria a criação musical humana, e por isso chamo isso de “Experimento”. E se alguma banda gostar e se interessar em humanizar quaisquer dessas músicas, terei imenso prazer em aceitar.

Ademais, ouçam de mente aberta!!!

Barata Cichetto, Janeiro 2025

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