Atualizado em 26/07/2024 as 21:55:26
Sou d’um tempo antigo, onde a gente chamava colega de amigo, e usava Korega na dentadura. E a gente vivia, até mesmo na militar Ditadura, sonhando com “flores vencendo o canhão”. A gente era carente, tinha dor de dente, usava pente, mas de repente, até sorria, para o balconista, o dentista e até para o comunista, que a gente não sabia que era tão mau. Caminhava e cantava, seguindo a porra da canção. E íamos “todos juntos numa pessoa só”. E ninguém tinha dó. De bandido ferido ou quando morria jogando dominó. Eram tempos, em que a gente não tinha nada além de tampinha de garrafa ou bolinha de gude para ser feliz. Bebia guaraná com tampa de rolha furada com prego. Apelidava gordo de Gordo, careca de Careca; vesgo de Vesgo, e magro de Magrelo. Eu era o Narigudo, Pau de Virar-tripa, e meu melhor amigo era o Baleia. Ah, é claro, tinha o Negão, o Pintado – que tinha vitiligo e a gente nem desconfiava o que era. Tinha tanta gente que a gente nem sabia sequer o nome, muito menos o sobrenome, e não tinha pensar que pronome usaria, porque todo mundo era amigo. E então que diferença fazia, se tinha o Japa, filho do japonês, que era Tenente da Rota, mas um cara legal, e que corria atrás de bandido no matagal. Que diferença tinha, se de um lado era preto e do outro mulato, ou em frente tinha a crente que dava no mato? A gente era mesmo tudo igual, mas não essa falsa igualdade, que diz que japonês não pode ser chamado de chinês, e gorducho de Bucho, e que a piranha que dá a buceta para a metade do bairro não pode sequer falada. Que merda é essa, seus porras, que fizeram conosco? Que bosta fizeram? A gente apanhava de professora e se reclamasse, era outra porradaria. Claro que errado. Mas agora, aluno bate na professora, e reclama a mãe na Ouvidoria. Que merda fizeram com a gente? Tornaram-nos doentes, apenas porque um quis ser Presidente. É fato ou fake, senhor onipresente, que aceita de presente até cueca de Ditador, mas não lembra que o futuro lhe reserva… Um andador.
03/07/2024
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Barata Cichetto, Araraquara – SP, é Criador do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.