Eu queria ser só poesia. Queria que as palavras fossem moeda corrente, que rimas pagassem a luz e metáforas abastecessem a geladeira. Mas o mundo insiste em ser prosaico: todo dia primeiro, os boletos chegam com sorrisos de cobrança, e nenhum soneto no mundo faz a conta de água sumir.
Dizem que artista vive de amor e vento—e eu até viveria, se o vento pagasse o aluguel. Enquanto isso, faço malabarismos entre inspiração e contas vencidas, entre versos perfeitos e recibos imperfeitos. Às vezes, a musa vem, mas o carnê chega primeiro.
No fim, descubro que nem só de poesia vive o homem—mas, cá entre nós, é ela que me mantém vivo entre um boleto e outro. O resto? O resto a gente inventa.
30/03/2025