“Justice and liberty, You can buy, but you don’t get free”.
— Bruce Dickinson)
Assim eu começo uma pequena auto biografia usada em resumos: “Sou Barata, nascido Luiz Carlos, no dia do Anti-Natal, do ano da Graça do nascimento de Prince, Michael Jackson, Bruce Dickinson, Cazuza e Tim Burton. Sou poeta, escritor…” O Anti-Natal seria pretensamente o meio exato entre a data vendida pelo Cristianismo como a de nascimento de Jesus Cristo, então seria a comemorada pelo Satanismo. E o Ano da Graça… Bem, o ano é 1958.
Nasci exatamente às 17:40 do dia 25 de Junho, uma Quarta-feira, no meio da euforia da Copa do Mundo, que se transformaria em festa três dias depois. Como nasci já com problemas de saúde, minha mãe foi obrigada a assistir a festa da vitória no futebol da janela do Hospital, fato que ela nunca deixou de me lembrar, como responsável por ela não poder festejar. Poderia, no entanto, alegar que nasci Campeão do Mundo, mas também com a de estraga festa.
Em 1958 nasceu muita gente legal — como em qualquer ano —, como Tim Burton, Prince, Bruce Dickinson, Kate Bush e Cazuza, além de Michael Jackson, que para mais uma “coincidência” comigo, morreu em 25 de Junho. Também gente não tão legal, como a escrota da Madonna e o escroque do Arthur Lira, que nasceram em 1958.
25 de Junho é o Dia do Cotonete, e do Quilo, o que já traz à data uma importância ainda maior, já que quem não comemora o Dia do Cotonete? Nesse dia também nasceram George Orwell, June Lockhart (Perdidos no Espaço), o Maestro João Carlos Martins, Carly Simon, George Michael e o Casseta e Planeta Bussunda. É também o Santo do Dia São Guilherme.
Como nasci ateu, já que todo mundo nasce ateu, a fé e a religião vêm pela educação familiar, mas demorei para retornar às minhas raízes, durante décadas comemorei dias santos, datas patrióticas e cívicas, como Natal, Sete de Setembro, Páscoa, Carnaval, etc., mas logo percebi que nenhuma dessas datas têm realmente importância, pois de fato nenhuma tem real impacto na existência das pessoas. O Natal é o maior exemplo: se comemora o nascimento de um ser que ninguém realmente tem certeza (fé não é certeza) se existiu, gasta-se dinheiro com presentes, finge-se que sua família é unida, come-se e bebe-se até estourar, abraça-se os parentes como se fossem sinceros… Dois dias depois se odeiam e se matam. Cheguei a batizar o Natal como “A Festa da Hipocrisia Mundial”, e essa foi a primeira data que deixei de comemorar. As outras foram mais fáceis, já que eram meras imposições sociais ou nem isso, como o tal de Carnaval… Enfim, pouco a pouco nenhuma sobrou. A não ser a mais importante de todas: o MEU aniversário.
Quando na virada dos séculos vinte para vinte e um, tomei consciência de minha essência como indivíduo, com o contato com filósofos como Ayn Rand, que seguia muito do que pregavam Aristóteles e Nietzsche — este último já tinha começado meu despertar há algumas décadas, rompi imediatamente com conceitos e atos que eu nem percebia, mas eram puramente coletivistas, os quais me incomodavam sem que eu tivesse consciência plena do o quê e do porquê.
Ao coletivismo, ao coletivo é que interessam comemorar datas coletivas, atos coletivos, anulando o indivíduo, anulando sua essência. Aprendi que se há um crime contra o ser humano é o coletivismo. E dou ao termo coletivismo um espectro maior do que normalmente se dá, o da ligação absoluta com o comunismo. Ele está presente em todas as ideologias totalitaristas, porque sabem que um rebanho de ovelhas balindo idênticas são bem mais fáceis de serem dominadas.
Se com Nietzsche aprendi sobre o “Super-homem”, com Rand entendi o verdadeiro conceito de individualidade, do valor inestimável que representa o indivíduo, sendo ele o real causador de todas as mudanças evolutivas que a humanidade já passou, e que se estamos onde estamos, mais para o bem do que para o mal, é graças às conquistas de indivíduos: o coletivo não cria nada, apenas serve de mera desculpa para sociedades corruptas menosprezarem o valor real das pessoas, colocando todos num balde único.
O que é o individualismo, afinal? Flavio Gikovate tem a melhor e mais didática matéria sobre isso, onde ele derruba de uma vez a confusão entre individualismo e egoísmo: “Podemos definir o individualismo como a capacidade de exercer a própria individualidade. É curioso porque a palavra individualidade tem conotação positiva, como a conquista de um estado de autonomia”. Ou seja, simplesmente cuidar da sua própria vida. E ele acrescenta: “O egoísta não pode ser individualista porque ele tem que ser favorável à vida em grupo já que não tem competência para gerar tudo aquilo que necessita. É do grupo – ou de algumas pessoas pertencentes ao grupo – que irá extrair benefícios.”
Encorajado pela verdade do individualismo e auto engrandecimento, passei a valorizar muito mais a mim mesmo e deixar em segundo plano ou plano muito inferior, coisas como auto sacrifício, e altruísmo que eram os meus maiores fatores de sofrimento. Claro que não preciso dizer do que isso causou nas minhas relações, tanto familiares quanto sociais. Acostumados aos meus atos de autoimolação, de humilhação e sofrimento em prol de um “bem maior” que eram eles, familiares e amigos passaram a se revoltar, afinal, segundo a mentalidade vigente, um “pai, de família” tinha que ser um abnegado sofredor, e assim manter financeira e socialmente a estrutura familiar. Mas foi isso que realmente começou a me transformar em homem, e a partir disso, comecei a produzir mais, trabalhar melhor, prestar atenção à minha aparência e aos meus próprios prazeres. Foi um preço alto, porque a insatisfação do coletivo ao qual eu pertencia logo se transformou numa guerra contra mim, inicialmente com falta de reconhecimento de tudo o que eu tinha feito, e culminando com o total afastamento. Perdi claro, algumas coisas com isso, mas com certeza o ganho foi muito maior.
Foi neste ponto que encontrei também os preceitos do “Satanismo LaVey”, que ao contrário das religiões cristãs que pregam o auto sacrifício e o altruísmo, tudo em nome do demônio do Coletivo, LaVey, que era seguidor declarado de Nietzsche e Rand, e não colocando o Diabo como uma entidade sobrenatural, mas a própria essência humana, e assim colocando o Indivíduo no centro de tudo, como de fato é. Nos Onze Mandamentos estabelecidos, a maior parte traz alguma referência à preservação e à importância que o Indivíduo tem perante o restante, como por exemplo: “Não se preocupe com algo que não tenha a ver com você.”, “Não pegue o que não lhe pertence a não ser que seja um fardo para a outra pessoa e esta queira se livrar do objeto”. E por fim, o último: “Quando estiver em território aberto, não incomode ninguém. Se alguém o incomodar, peça que pare. Se não o fizer, destrua-o.” — Aliás, é espantoso como os “11 Mandamentos do Satanismo” me parecem muito mais sinceros e honestos com o ser humano do que os dez do cristianismo, por exemplo.
Onze Mandamentos do Satanismo LaVey
1. Não dê sua opinião ou conselho a não ser que lhe seja pedido.
2. Não conte seus problemas a outras pessoas a não ser que esteja seguro de que elas queiram ouvi-los.
3. Quando estiver na casa de outra pessoa, demonstre respeito ou então não vá até lá.
4. Se um convidado em seu lar irritá-lo, trate-o cruelmente e sem piedade.
5. Não faça avanços sexuais a não ser que lhe seja dado um sinal de acasalamento.
6. Não pegue o que não lhe pertence a não ser que seja um fardo para a outra pessoa e esta queira se livrar do objeto.
7. Reconheça o poder da magia se você já a utilizou com sucesso para obter algo desejado. Se você nega o poder da magia depois de ter recorrido a ela com sucesso, perderá tudo o que conseguiu.
8. Não se preocupe com algo que não tenha a ver com você.
9. Não machuque crianças pequenas.
10. Não mate animais não humanos a não ser que seja atacado ou para alimento.
11. Quando estiver em território aberto, não incomode ninguém. Se alguém o incomodar, peça que pare. Se não o fizer, destrua-o.
Diante de todas essas coisas, me vi de frente a mim mesmo, me tratando com respeito, sem mais nenhuma nesga de auto piedade e especialmente, alcançando um grau a mais a cada dia, no caminho da Liberdade, essa tal deusa que todos idolatram, mas poucos dela conseguem milagres. Uma das frases mais icônicas de Ayn Rand diz, sobre o que é essa dona Liberdade: “Liberdade: Não pedir nada. Não esperar nada. Não depender de nada.” E como se conseguiria atingir? Claro com o Individualismo, porque o Coletivismo impõe o exato oposto dessas coisas. Não é à toa que Liberdade rima com Individualidade.
Então, pergunta agora o leitor ou a leitora astuto ou astuta, e um tanto cansado de minha exposição: “O que isso tudo tem a ver com aniversário, Barata seu bosta?” E eu respondo: tudo, querido ou querida, porque quando se toma consciência, quando se acorda para o fato inexpugnável que o indivíduo é o mais importante entre todas as coisas, se passa a enxergar com mais importância sua própria data de nascimento, e por conseguinte passar a comemorar com muito mais intensidade. Afinal, foi nesse dia em que o ser mais importante do mundo viu a luz, saiu daquele ventre escuro e deu ao mundo um ser único, que trilhará seu caminho fazendo algo, que por menor que seja, fará parte da história, e possivelmente da glória da humanidade.
Talvez, como em algumas culturas, deveríamos comemorar nossos aniversários nove meses antes, porque desde o momento de nossas concepções somos seres viventes, e talvez já ali tenhamos consciência de nós próprios como indivíduos, e assim já lutamos pela própria sobrevivência. Entretanto, como estamos enclausurados e à mercê de nossas mães, que podem, a qualquer momento, nos jogar na privada, como a minha tentou, mas não conseguiu, creio que o justo é mesmo comemorar o dia em que vemos a luz pela primeira vez.
Apenas um recado final ao Presidente Inominável: Se eu tivesse sido abortado, como era o desejo de minha mãe, talvez pensando que dali sairia um monstro, eu ao menos teria me livrado de sua monstruosidade. Que pena sua mãe não ter pensado nisso.
Concluo com a frase final da minha pequena autobiografia, onde há uma paráfrase de Ayn Rand:
“Sou anti-comunista, anti-paraquedista, anti-flautista e anti-qualquerista, menos individualista. Meu maior ídolo sou eu mesmo, porque faço parte da menor minoria da Terra: o indivíduo”.
Feliz aniversário para mim! Ah, claro, também para Orwell, Lockhart, Bussunda… E todos aqueles que nasceram em 25 de Junho.
25/06/1958
Feliz 1958: O Ano Que Não Devia Terminar
Joaquim Ferreira dos Santos
192 Páginas
18 x 21cm
Conta a delícia de ser brasileiro naquele final sorridente dos anos 50. O Brasil foicampeão do mundo de futebol pela primeira vez. João Gilberto lançou o 78 rotações com “Chega de Saudade” e deu o arremate final na Bossa Nova. JK botou nas ruas o DKW-Vemag, o primeiro carro com 50% de suas peças produzidas no Brasil. A Democracia era plena, e Luiz Carlos Prestes, depois de ficar foragido por nove anos, reaparece no Noite de Gala, da TV Rio, entrevistado por Flávio Cavalcanti.
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Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Primeiramente, Feliz Aniversário. Sensacional texto hein ! Realmente a maioria não consegue compreender o valor do individualismo. Estão desde sempre mergulhadas no coletivismo e consequentemente no egoísmo. Algumas talvez acordem. Saúde e Alegrias.
Essa falta de compreensão irá nos custar caro. QUando a maioria perceber que foi usada, e que suas merdas de vidas não valem mais nada, será tarde demais!