Reviver o Passado é Esconder o Presente

Enquanto os atores, grandes artistas, Selton Mello e Fernanda Torres são aplaudidos no exterior, a mulher de Cleriston Pereira da Cunha foi destratada por um parlamentar em plena casa legislativa.

Os autores possuem toda a liberdade de criação, recortes de uma época, de uma biografia. Ao contrário dos patrulhadores “virtuosos” e bolsistas da cartilha estatal, não promoveremos a régua artística e moral do que pode ou que não pode. Daqui a pouco aparece mais um jingle pós-moderno e politicamente correto para apontar o dedo e nos chamar de qualquer coisa que anule o fato de que no Brasil há presos políticos.

O filme dirigido por Walter Salles, “Ainda Estou Aqui”, venceu o prêmio de melhor roteiro no festival de Veneza. Isso poderia ser muito bom para o Brasil, entretanto, as referências aos regimes ditatoriais do passado estão sendo usados para mascarar o atual regime ditatorial que o Brasil está vivenciando. De certa forma, esta obra de arte está sancionando o autoritarismo do presente.

A película retrata o drama de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, pai do escritor Marcelo Rubens Paiva. Este personagem da história brasileira foi morto pelo Estado brasileiro, em 1971. Hoje temos um novo personagem da nossa história, também morto pelo mesmo Estado. Refiro-me a Clezão, preso com tardia acusação (questionável), mantido em cárcere após apresentar todos os atestados referentes a sua saúde debilitada. Ambos os casos, temos os sumiços de pais de família, em decorrência de um regime que os considerava subversivos.

Enquanto os atores, grandes artistas, Selton Mello e Fernanda Torres são aplaudidos no exterior, a mulher de Cleriston Pereira da Cunha foi destratada por um parlamentar em plena casa legislativa.

Além de não ter condenação, Clezão teve sua soltura autorizada pela PGR, e ainda assim o STF o manteve preso até a sua morte.

Um corpo não se esconde. Não pretendo fazer relativização, a questão é a perplexidade pela seletividade de angústia por parte desses artistas. A tematização das arbitrariedades do presente está ausente no cenário cultural tupiniquim.

Em relação ao deputado Túlio Gadelha (PSOL), que debochou da mulher de Clezão, não escutamos uma nota da grande imprensa. O parlamentar disse: “Coitada, ela não sabe”! Mas, afinal, quem sabia, senhor deputado? Quem já tem esta certeza?

Ele trata com certeza, frieza e cálculo, intitulando o falecido como um articulador de um golpe de Estado. É no mínimo controverso, pois não houve condenação. Onde estava o aparato do Executivo brasileiro naquele 08 de Janeiro?

Estou aqui reiterando que a elite artística retrata os escândalos do passado para camuflar os abusos que desamparam o cidadão comum, que não comunga com a ideologias do governo vigente. Existe sempre um parâmetro desonesto com o período de 2018 a 2022, com o governo Bolsonaro. Diferentemente da atmosfera hostil que tentaram impor uma narrativa de aparelhamento, corrupção, perseguição, algo que, de fato, não aconteceu.

As inúmeras manifestações populares, principalmente, na Avenida Paulista são tratadas com desdém, é o rechaço ao povo. E, quem não se coaduna com as falsas nomenclaturas e caricaturas são aniquiladas, muitas vezes pela pressão publicitária, quando incorrem continuamente até em perdas de seus empregos e descredibilidade mastreiam.

Para não ficarmos apenas no campo do ressentimento, ainda respiramos pela insistência dos fatos. Cabendo lembrar que as últimas eleições para presidente da República, em 2022, vivemos a supressão da liberdade plena. Tivemos censura prévia, foi a censura que durou “só um pouquinho”, ou seja, até o termo “pouquinho” foi reinterpretado, ela dura até hoje.

E nós ainda estamos aqui.

Leia Também:
Quem Matou Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão?, Por Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

Dinho Ferrarezi, de Juiz de Fora, MG, é jornalista e Livre Pensador!
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Mara Regina Ferreira
Mara Regina Ferreira
23/09/2024 21:37

Boa noite Dinho Ferrarezi!
Obrigado por nos trazer fatos que nem sempre chegam a público, e se chegam, sempre serão destorcidos.
O que não é surpresa de modo geral a zombaria de certos políticos e a falta de respeito com os demais. Triste a situação da Viúva ter que engolir tal afronta. O Brasil é um país vendido, infelizmente.
Eu acho esse mundo triste e decadente. O errado sempre será certo enquanto os leais vivem na sombra das dúvidas e da covardia de outros. Forte abraço.

Dayane Melo
Dayane Melo
17/09/2024 23:46

A elite artística vive um mundo paralelo. Eu não assisto esse filme… hoje não dá pra separar as coisas.

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