Atualizado em 21/08/2024 as 22:26:36
É próprio das censuras violentas tornar credíveis as opiniões que elas atacam.
— Paul Valéry 1871–1945
Nos anos do Regime Militar no Brasil, era comum recebermos nas ruas uma “Carta Aberta à População”, impressa e distribuída especialmente por sindicatos e artistas. Essas cartas tinham o intuito de conscientizar as pessoas sobre o momento pelo qual passávamos ou convocar alguma greve ou manifestação pública. Eram tempos de censura aberta e violenta, e como não havia forma de expressão que não fosse vigiada ou proibida, os responsáveis por tais impressos usavam gráficas clandestinas para a impressão. Muitos eram presos enquanto distribuíam ou colavam os impressos nos postes e muros.
Foram tempos em que reclamar era proibido, falar mal do sistema e do governo era muito perigoso, passível de punições severas, com prisões na calada da noite, sem julgamento e sem direito de defesa. A truculência dos órgãos de repressão era constante, e qualquer um que erguesse sua voz contra a censura era calado, silenciado e até mesmo assassinado. Eu disse “foram tempos”? Errei.
Há bastante tempo temos notado a falta de critério, de transparência e de qualquer possibilidade de reclamação que imperam na maior rede social do planeta, o Facebook. Acredito que todos que agora me leem já foram suspensos ou bloqueados pelos motivos mais diversos, que nunca são devidamente explicados.
Há cerca de duas semanas, todas as postagens e comentários que envolviam um link do meu site, Agulhapontoxyz, e de todas as pessoas ou temas foram removidos com uma absurda alegação de SPAM. Desde então, venho tentando encontrar uma forma de recorrer disso, ou no mínimo saber o que exatamente há de errado em relação à plataforma, mas sem sucesso.
Como não há meio de contatar o Facebook, decidi usar a antiga tática da Carta Aberta, destinada particularmente aos funcionários da rede social, usando as próprias entranhas do monstro.
Peço que compartilhem usando a #agulhacensuradonofacebook
(Publicação no Facebook em 18/07/2024)
https://www.facebook.com/BarataCichetto58/posts/pfbid031ohQ6UZyTXghWXLUHBnQ8v7SPTZv5bPLwZi4xqMe4EXvcFxk6Cwd2paTgS7CvSZQl
Cara Equipe do Facebook:
Há cerca de duas semanas, todas as postagens e comentários que tinham algum link do meu site Agulhapontoxyz foram removidos sob a alegação de SPAM, com os seguintes argumentos listados: “Levar as pessoas a um site significativamente diferente daquilo que foi mostrado ou enviado a elas”; “Direcionar as pessoas a uma página de destino que se passe por outro site”; “Disfarçar para onde um link está levando alguém por meio de redirecionamentos repetidos ou cloaking”. Nenhum dos comportamentos listados em: https://transparency.meta.com/pt-br/policies/community-standards/spam/ foi causado pelo Agulhapontoxyz.
Caros colaboradores dessa empresa que diz prezar pela liberdade de expressão e se declara contra a “PL da Censura no Brasil”, nenhuma dessas afirmações é verdadeira. Meu site é regularmente registrado em meu nome e nunca fiz uso de redirecionadores ou encurtadores de links. Ademais, sigo fielmente os requisitos da LGPD, com políticas de Privacidade, Termos de Uso e Cookies amplamente expostos no site.
O site Agulhapontoxyz é um portal de notícias e conteúdo geral, incluindo crônicas, poesias e contos escritos por diversos autores, com um foco especial na arte. Ele não contém vírus nem nada que possa causar qualquer dano aos seus visitantes. Também tenho cuidado em proteger conteúdos de direitos autorais, usando material “royalty free”, desenvolvido por IA ou, quando necessário, indicando o autor e o link de origem.
Quanto ao conteúdo em si, ele é extremamente variado, abordando temas que vão de música e literatura a política. Temos também, embora em pequena porcentagem, material de cunho adulto, que é protegido por duas camadas: a declaração de idade e a exigência de inscrição no site com nome e email. Entretanto, esse tipo de link nunca foi compartilhado no Facebook.
O que o Facebook relaciona como “Conteúdo Questionável” (que fala em nudez, discurso de ódio e conteúdo violento e explícito) é realmente questionável, pois a maior parte do meu conteúdo é de contos, crônicas e poesia, que podem abordar esses comportamentos, pois se tratam de peças artísticas e de ficção.
Após ser surpreendido com a remoção de postagens e comentários não apenas meus, mas de qualquer pessoa que os tenha feito, solicitei uma análise (embora as opções dadas na solicitação sejam sem contexto diante de um problema específico). Até agora, nenhuma resposta, seja direta ou com o retorno das postagens referidas. Além disso, nem mesmo consigo enviar mensagens privadas contendo qualquer link.
Um dos passos que tentei para entender o real motivo, e assim sanar algo que realmente estivesse em desacordo com suas políticas, foi o link: https://developers.facebook.com/tools/debug/. Ao digitar minha URL, fui informado de que “Não foi possível analisar este site porque o conteúdo não está em conformidade com nossos Padrões da Comunidade. Se você acha que isso é um engano, avise-nos”. Fiz isso, explicando o que é o site e que nele não há nada de ilegal, mas também até agora sem sucesso.
O fato é que tal proibição, remoção e impedimento de compartilhamento de qualquer URL do site têm me causado prejuízos não apenas financeiros, mas também morais. Meu site, o Agulhapontoxyz, não tem fins lucrativos, mas há despesas como quaisquer outros, como registro de domínio, hospedagem etc., e a redução drástica da minha visitação ocasionou uma perda de receita, que já era pequena.
Quero crer que o ocorrido seja um equívoco, uma má análise por robôs ou algo assim, pois não acredito que o Facebook tenha deliberadamente removido meu conteúdo por qualquer questão política, embora isso seja possível, dado que temos um perfil político definido e vários textos contêm críticas ao atual sistema.
Se o Facebook deseja fazer censura política, acredito que deveria explicitar isso em suas regras. Não dizendo claramente qual palavra ou informação causou a censura, o Facebook deixa seus usuários no limbo e se permite censurar qualquer coisa, qualquer texto, qualquer ideia. Até mesmo a censura dos tempos da ditadura militar explicava seus motivos, sublinhava as palavras proibidas e informava aos autores sobre tais proibições.
Concordo que o Facebook, sendo uma empresa privada, tem o direito de estabelecer suas próprias regras de uso e perfis de usuário, mas, como uma empresa de comunicação, deveria seguir as regras legais do país onde está. Embora atualmente um tanto combalidas, no Brasil ainda há uma Constituição que veda a censura. Ao que sei, isso vale não apenas para órgãos e representantes de governo, mas também para empresas que trabalham com comunicação pública.
Censurando simplesmente e sem nem explicar o motivo, o Facebook se coloca como um deus inatingível e ininteligível, fazendo com que nós, usuários, nos sintamos como em uma obra kafkiana, onde as pessoas são presas sem nunca conhecerem o motivo. E sem tal conhecimento, não é possível defesa, argumento ou mesmo possibilidade de correção de erros perante os censores e julgadores.
Creio também que é desnecessário lembrar que o Facebook só existe em função de seus usuários, pois a quase totalidade de seu conteúdo é gerada por eles (ao contrário do meu site, onde metade do conteúdo é produzido por mim e alguns poucos amigos). Ou seja, quem sustenta o Facebook e todos os outros braços da Meta são os usuários, que são tratados com total desprezo, sem oportunidade de serem ouvidos quando necessário.
Sei que dificilmente esta carta será lida por alguém da cara — e imagino que cara — equipe de analistas da Meta/Facebook/Whatsapp/Instagram, e mais dificilmente que terá qualquer efeito de suspensão da censura imposta ao meu site, o que é lamentável, pois muito acima de apenas mais um site calado; não apenas a minha voz silenciada; não somente um artista emudecido, mas todo o conceito de liberdade de expressão, que sempre foi a pedra fundamental da cultura americana, e sua famosa “Primeira Emenda”, é atirada no lixo.
Enfim, o Face tem que mostrar sua verdadeira face.
A ambígua página que tem título de: “Nosso compromisso com a voz”
“O objetivo dos nossos Padrões da Comunidade é criar um lugar em que as pessoas possam se expressar e tenham voz. A Meta deseja que as pessoas possam falar abertamente sobre os assuntos importantes para elas, seja por meio de comentários escritos, fotos, música ou outros meios artísticos, mesmo que alguns indivíduos possam discordar deles ou considerá-los questionáveis. Em alguns casos, permitimos conteúdo que não segue nossos padrões…”
Atenciosamente,
Luiz Carlos Giraçol Cichetto, nome literário (e do perfil no Facebook): Barata Cichetto
Araraquara, SP, 18 de Julho de 2024
Alguns links até antigas, mas que mostram que a censura no Facebook vem de bastante tempo:
https://www.n3w5.com.br/brasil/2023/05/facebook-se-posiciona-no-projeto-da-censura
Publicado em 20/07/2024
Do Livro:
Samizdat: Arquivos de Censura
Barata Cichetto
Crônica Política
260 Páginas – 16 x 23 x 1,5cm
UICLAP, 2024
(Lançamento em 18/08/2024)
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Os Livros “Perigosos Demais” Para Serem Lidos (Repost Samizdat)
Barata Cichetto
Esta publicação foi feita originalmente em 30/06/2024, antes de ...
Samizdat — Frases e Citações Sobre Censura
— Barata Cichetto, filósofo de pés ...
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