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Samizdat 26 — A Sombra da Censura: A Batalha Contínua pela Liberdade Artística no Brasil

Atualizado em 24/08/2024 as 14:34:27

Qualquer empresa privada tem liberdade para promover valores e ideologias que bem entendem. O público decide o que faz. O que não pode ser permitido é o uso do dinheiro dos trabalhadores para isso. Não é censura, é respeito com a população brasileira.
— Jair Bolsonaro 38º Presidente do Brasil

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A censura no Brasil é uma ameaça constante à nossa liberdade criativa. De novelas censuradas a exposições canceladas, a arte enfrenta ataques implacáveis. Não permita que a repressão silencie a expressão! Levante-se contra a censura e defenda o direito à criatividade. A liberdade de expressão é a nossa maior conquista!

A censura no Brasil é um fantasma que assombra nossa cultura desde os tempos coloniais, uma presença insidiosa que sufoca a criatividade e tenta moldar mentes. Nas eras colonial e imperial, a Igreja e o Estado ditavam o que podia ser dito, lido ou cantado. Mas foi durante a Ditadura Militar que a censura mostrou seu rosto mais cruel. Canções foram silenciadas, filmes banidos, peças teatrais mutiladas. Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e tantos outros sentiram a mão pesada do regime, que via ameaça em cada verso, cada cena, cada melodia.

Naquela época, arte era sinônimo de resistência. Palcos e telas tornaram-se trincheiras numa batalha pela liberdade de expressão, onde cada palavra censurada era um golpe na liberdade, mas também um grito de resistência.

E hoje, mesmo em tempos democráticos, a sombra da censura persiste. Exposições são canceladas, peças interrompidas, músicas questionadas. Governos e grupos moralistas tentam impor seus padrões, calar vozes dissonantes.

(Protesto de Artistas final dos anos 1960. Note a incoerência nas frases nas faixas)

A censura é uma ferida aberta na alma artística do Brasil, um lembrete constante de que a liberdade de expressão deve ser defendida com vigor e paixão. A arte, em todas as suas formas, deve ser livre. Sempre.

A Ditadura Militar no Brasil foi um período tenebroso, onde a censura às artes se tornou uma arma implacável de repressão. Entre 1964 e 1985, a liberdade de expressão foi esmagada sob a bota de um regime que via ameaças em cada verso, cada melodia, cada cena. A censura não era apenas uma política de Estado, era um ataque direto à alma criativa do país.

Os artistas se tornaram alvos. Chico Buarque teve inúmeras canções vetadas, como “Cálice”, obrigando-o a escrever sob pseudônimos. Geraldo Vandré, com “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, tornou-se um símbolo de resistência, mas foi forçado ao exílio após sua apresentação no Festival Internacional da Canção de 1968.

Música de Buarque de Holanda Censurada

Adoniram Barbosa, cronista musical da vida paulistana, enfrentou a fúria dos censores. Suas canções “Tiro ao Álvaro” e “Despejo na Favela” foram proibidas, consideradas subversivas por retratarem a dureza da vida urbana com uma sinceridade brutal. O regime temia a verdade simples e contundente de Adoniram.

Veto à "Tiro ao Álvaro" de Adoniram Barbosa. Note o motivo pelo qual foi censurada

Odair José, ícone da música popular, sofreu censura com “Pare de Tomar a Pílula”, que foi banida por abordar o controle de natalidade, um tema explosivo na época. Raul Seixas também enfrentou a repressão com “Sociedade Alternativa”, que desafiava abertamente o autoritarismo e foi censurada por suas ideias libertárias.

Uma das músicas censuras de Odair José

Caetano Veloso e Gilberto Gil, após serem detidos em 1968, foram exilados em 1969. Suas músicas, carregadas de críticas sociais, eram vistas como ameaças diretas ao regime. O tropicalismo, movimento que lideravam, foi tratado como um inimigo a ser eliminado.

Veto à música de Tim Maia

O teatro não ficou imune. Em 1968, o AI-5 institucionalizou a censura, atingindo produções teatrais em cheio. “Roda Viva”, de Chico Buarque, foi invadida por paramilitares, seus atores agredidos, e “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, embora tenha conseguido ser apresentada, enfrentou imensas dificuldades.

Censura no Teatro

No cinema, o impacto foi devastador. “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, e “O Desafio”, de Paulo César Saraceni, sofreram duras censuras. A criação do Conselho Superior de Censura, em 1969, intensificou o controle sobre as produções cinematográficas, sufocando o Cinema Novo, movimento que buscava expor as contradições e injustiças da realidade brasileira.

Charge sobre censura no cinema

A televisão, meio de comunicação de massa, também foi alvo. Telenovelas foram reescritas, programas humorísticos cortados, notícias manipuladas. O programa “Vila Sésamo” enfrentou censura por supostamente incitar questionamentos à ordem estabelecida.

Censura ao Programa Flávio Cavalcanti

A censura durante a Ditadura Militar no Brasil não foi apenas uma série de proibições; foi uma tentativa sistemática de silenciar vozes dissidentes e controlar a narrativa cultural. Mas a arte é resiliente. Cada canção proibida, cada peça interrompida, cada filme banido foi um grito abafado que ressoou mais forte na alma do povo brasileiro. A resistência artística durante esse período é um testemunho do poder indomável da expressão humana e da eterna luta pela liberdade.

A censura durante a Ditadura Militar no Brasil não foi apenas uma série de proibições; foi uma tentativa sistemática de silenciar vozes dissidentes e controlar a narrativa cultural. Mas a arte é resiliente. Cada canção proibida, cada peça interrompida, cada filme banido foi um grito abafado que ressoou mais forte na alma do povo brasileiro. A resistência artística durante esse período é um testemunho do poder indomável da expressão humana e da eterna luta pela liberdade.

Após a redemocratização em 1985, o Brasil acreditou que a censura havia sido enterrada junto com a ditadura. A Constituição de 1988 garantiu a liberdade de expressão e proibiu a censura prévia. No entanto, essa liberdade não esteve imune a novas investidas autoritárias ao longo das décadas seguintes.

Na década de 1990, a censura ressurgiu, muitas vezes disfarçada de preocupações com a moralidade. Músicas, filmes e peças de teatro foram alvos de ataques por parte de grupos conservadores. A novela “A Indomada” (1997) enfrentou pressões por seu conteúdo considerado imoral. Em 1999, o filme “Amor Estranho Amor” foi banido devido a uma cena polêmica envolvendo menores.

Nos anos 2000, a censura continuou. Em 2005, a peça “Os Sertões”, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, sofreu tentativas de censura por seu conteúdo considerado ofensivo à religiosidade. O filme “Diário de um Novo Mundo” (2005) também foi alvo de críticas e pressões devido ao seu conteúdo político.

A década de 2010 trouxe novos desafios. A ascensão das redes sociais e a polarização política criaram um terreno fértil para a censura disfarçada de “defesa dos valores”. Em 2011, a exposição “Queermuseu” foi cancelada após pressões e acusações de blasfêmia e incentivo à pedofilia. Em 2018, a performance “La Bête” no MAM de São Paulo enfrentou uma onda de indignação moralista, resultando em censura e cancelamentos.

Em 2019, o governo federal tentou intervir no edital da Ancine, retirando o apoio a filmes que abordavam questões LGBTQIA+. A Bienal do Livro do Rio de Janeiro também foi alvo de censura, quando exemplares de uma HQ com temática LGBTQIA+ foram confiscados. Em 2020, a peça “Caranguejo Overdrive” foi censurada em algumas cidades do país.

Até 2024, a censura continua a rondar as artes. O caso do especial de Natal do Porta dos Fundos, “A Primeira Tentação de Cristo” (2019), gerou protestos e ações judiciais, culminando em um atentado à sede da produtora. Cada tentativa de silenciamento é um lembrete de que a luta pela liberdade é eterna. A arte é resistência. E resistir é preciso.

A censura no Brasil, desde a Ditadura Militar até os dias atuais, mostra que a liberdade de expressão é uma conquista frágil e constantemente ameaçada. Apesar da redemocratização e das garantias constitucionais, a censura se reinventa e persiste, mascarada por preocupações morais e políticas. Artistas continuam a enfrentar obstáculos e repressão, mas também demonstram resiliência e coragem, lembrando-nos que a arte é uma poderosa forma de resistência. A luta pela liberdade de expressão é contínua, e cada voz silenciada fortalece a determinação de muitas outras. Resistir é preciso, pois a liberdade é um direito fundamental e inegociável.

25/07/2024

Documento da Censura Avaliando a Música “O Exercício”, de Raul Seixas

Artistas Censurados Durante a Ditadura Militar (1964-1985)

Artistas Censurados
1 – Adoniran Barbosa
2 – Caetano Veloso
3 – Chico Buarque
4 – Gal Costa
5 – Elis Regina
6 – Geraldo Vandré
7 – Gilberto Gil
8 – Milton Nascimento
9 – Odair José
10 – Plínio Marcos
11 – Raul Seixas
12 – Taiguara
13 – Toquinho
14 – Torquato Neto
15 – Zé Keti
16 – Gonzaguinha
17 – Jorge Ben Jor
18 – Alberto Luiz
19 – Moacyr Franco
20 – Rita Lee

Programas e Novelas Censuradas
1 – Roque Santeiro
2 – Despedida de Casado
3 – Zulmira
4 – Meu Pedacinho de Chão
5 – Editora Mayo, Bom Dia
6 – Selva de Pedra
7 – O Bem-Amado
8 – Fogo Sobre Terra
9 – O Rebu
10 – Escalada
11 – O Casarão
12 – Espelho Mágico
13 – Cavalo Amarelo
14 – O Homem Proibido
15 – Brilhante
16 – Guerra dos Sexos
17 – Programa Flávio Cavalcanti
18 – Dercy de Verdade

Do Livro:
Samizdat: Arquivos de Censura
Barata Cichetto
Crônica Política
260 Páginas – 16 x 23 x 1,5cm
UICLAP, 2024
(Lançamento em 18/08/2024)

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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genecysouza@yahoo.com.br
genecysouza@yahoo.com.br
06/08/2024 5:29

Excente!
O mais absurdo nisso tudo é que a Censura está de volta e com força total. O passado visita o presente, só que com outros trajes e outras conversas, todas visando o bem das pessoas. Lamentavelmente, várias das vítimas da Censura de ontem, são as mesmas que fecham os olhos para ela nos dias atuais.

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