Super-Homem, a Poesia
Um dia tive a ilusão que ser poeta bastaria
Que a construção do homem disso restaria
E em pedaços de palavras e frases restantes
Tinha a ilusão de ser homem por instantes.
Mas enquanto eu poetava os outros fodiam
E enquanto eu cheirava outros nem fediam
Eu era só um poeta e conhecia o fedor da sarjeta
E os outros metiam o pinto dentro da sua buceta.
Um dia sonhei contigo e teus prazeres deliciosos
Corri ao caderno e escrevi poemas maravilhosos
E enquanto fodias, numa traição fantasmagórica
Eu fazia poemas de construção em pura retórica.
Era comigo mesmo falar sobre a putaria e as putas
O rei das lésbicas, das heroínas e das bichas astutas
Um reino imaginário sem coroa, sem cetro nem trono
E de mim mesmo era o traidor, o ofendido e o corno.
Um dia pensei que ser poeta era ser homem também
E enquanto nas calçadas escrevia poesias a ninguém
Fazias de seu corpo poemas de absoluta pornografia
E sem saber, de meus poemas a mais perfeita grafia.
O tempo devora a seus filhos, a escuridão aos brilhos
E eu, cansado de devorar feito um trem a seus trilhos
Joguei fora a poesia e fui buscar os prazeres mundanos
Certo que de buscas é que são feitos os seres humanos.
E durante o tempo em que eu sonhava, fodias com prazer
E se perguntares por onde andei e o que venho lhe trazer
Direi que lhe trago apenas sonhos em todas as suas cores
E nem poeta nem homem, sou apenas rei dos sonhadores.
Lembro agora que enquanto desfalecias em pura vertigem
Eu, dentro de quatro paredes, falecia em busca da origem
E a liberdade, teoria sacrossanta de minha existência dura
Conhecias de cor e salteado, em uma equivalência obscura.
Achei-te, suja e porca na mesma sarjeta em que escrevia
E na mesma imundice em que chafurdava minha poesia
Apanhei-te meio sem jeito, mas era o meu jeito de foder
Tolo, sem saber que pensavas que eu era dono do poder.
Eu era só poeta, tive medo e tentei correr de teus dentes
Mas de uma bocada engolistes minhas partes diferentes
E agora, que do cu da minha própria criação fui cagado
Penso: “Morte à poesia e viva tudo o que é degenerado”.
Uma era achei que ser Super Homem era minha vocação
Estampei no peito o “P” de Poesia, com ar de provocação
Mas sucumbiram meus poderes à luta contra todo o mal
E eu não era super, nem homem, apenas um poeta, afinal.
E agora, que os mestres nos abandonaram à própria sorte
Fizestes de mim poeta e quase homem até a minha morte
E se um dia asas eu criar e feito Super Homem poder voar
Ainda serei poeta e o teu planeta ainda hei de sobrevoar.
23/01/2013
Do Livro:
Memórias Arrependidas de Um Poeta Sem Pudor
(Antologia Poética, de 1978 a 2025)
Barata Cichetto
Gênero: Poesia
Ano: 2025
Edição: 3ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 796
Tamanho: 16 × 23 × 4,04 cm
Peso: 1,2 kg
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Embora ele seja parte inamovível da Santíssima Trindade da DC, junto com Mulher-Maravilha e Batman, nunca me identifiquei com o Superman. Pra começar é um ET, mas mesmo que não fosse: ele é certinho demais, escoteiro demais. Sou 100% identificado e fã do Batman: humano, falho, sempre a ponto de explodir (e às vezes explode).
E, voltando lá no seu primeiro verso: ser poeta nunca bastou, não basta e nunca bastará. O mesmo se pode dizer do amor.
Eu também não, e tal a você meu super-herói preferido também é o Morcegão.