Atualizado em: 28/07/2024, as 04:07
Em Esquinas Desconexas, onde os prédios se inclinavam como torres de cartas e os letreiros piscavam em cores alucinantes, havia um antiquário. Seu dono, era um homem enigmático, com olhos que pareciam conter galáxias inteiras. Colecionava espelhos, não os comuns, mas aqueles que tinham histórias entrelaçadas em suas superfícies.
Um dia, uma jovem artista com cabelos de fogo e tatuagens de constelações, entrou na loja. Estava em busca de inspiração para sua próxima exposição. Ele a recebeu com um sorriso enigmático e a conduziu até um espelho oval, adornado com arabescos dourados.
“Este é o Espelho da Verdade”, disse ele. “Reflete não apenas o que está à sua frente, mas também o que está dentro de você.”
Ela olhou para o espelho e viu seu rosto, mas algo estava errado. Seus olhos eram mais profundos, suas sardas formavam constelações, e havia uma tristeza ancestral em seu sorriso.
“Quem pertence esse rosto?” perguntou.
Ele acendeu um incenso de lavanda e sussurrou palavras antigas. O espelho começou a vibrar, e ela sentiu-se puxada para dentro dele. Caiu em um mundo de cores psicodélicas, onde o tempo dançava em espirais e as leis da física eram apenas sugestões.
Encontrou-se em um salão de espelhos infinitos. Cada reflexo mostrava uma versão diferente de si mesma: uma guerreira com armadura de luz, uma sereia com cabelos de arco-íris, uma velha com olhos de sabedoria. Ela estava em todos os lugares e em nenhum.
“Quem sou eu?” sussurrou.
As vozes dos espelhos responderam em coro: “Você é todas as suas possibilidades, todos os seus sonhos, todas as suas máscaras.”
Dançou com suas múltiplas versões, perdendo a noção do tempo. Ela viu o passado e o futuro, os amores e as perdas. E, no centro do salão, havia um espelho negro, sem reflexo.
“Quem pertence esse rosto?” perguntou novamente.
Ele então, apareceu ao seu lado. “Esse é o Espelho do Eu Verdadeiro. Ele mostra quem você é além das aparências, além das máscaras. Mas cuidado, nem todos estão prontos para encarar a verdade.”
Ela olhou para o espelho negro e viu seu rosto desaparecer. mergulhou em um vórtice de luz e escuridão, até que não restou nada além de uma centelha de consciência.
“Quem sou eu?” perguntou, agora sem voz.
Ele sorriu. “Você é o mistério, a busca, o infinito.
Renato Pittas, Rio de Janeiro, RJ, é artista plástico, poeta, escritor e Livre Pensador. Autor de Tagarelices: Conversas Fiadas Com as IAs.