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Versos Reescritos Pela Máquina – Epitáfio / “Gravado em Seu Coração’

Epitáfio
Barata Cichetto

Após a minha morte, quero a chama e não a terra

É de conhecimento público esse meu último desejo
Portanto não existirá lugar a lutas nem a guerra
Sobre aquele que irá chorar enquanto outro berra.

Mas também não existirá um lugar, pedaço de concreto
Onde estará escrito de minha existência a definição
Portanto ainda agora defino por meu exclusivo decreto
Que meu epitáfio terá que ser gravado em seu coração.

29/10/2006 

Do Livro:
Memórias Arrependidas de Um Poeta Sem Pudor (Antologia Poética, de 1978 a 2024)
Barata Cichetto
Poesia
BarataVerso Editora – 2024
748 Páginas — 16 X 23 X 3,84 cm

Prompt: Baseado neste poema, escreva um conto de terror macabro. Use entre 1.000 e 1.500 palavras.

“Gravado em Seu Coração’

O pequeno vilarejo de Acqua Fredda sempre foi envolto em uma aura de mistério. Na praça central, uma fogueira ancestral queimava incessantemente há gerações, alimentada por uma chama que ninguém sabia ao certo de onde viera. Diziam os mais velhos que aquela chama era a ânima de um poeta, cujos versos foram escritos não em papel, mas na carne e na mente daqueles que ousaram ouvi-los.

O que era só lenda tomou forma de tragédia quando o corpo de Luigi Scaraffaggio, um jovem professor, foi encontrado em sua pequena casa de madeira, morto ao lado de um poema rabiscado com pressa em uma folha amarelada. O papel, com marcas de queimadura, exalava um cheiro estranho que parecia uma mistura de cera e carne chamuscada. Era o poema que o vilarejo jamais esqueceria.

Após a minha morte, quero a chama e não a terra…

O poema continuava, mas o resto do texto parecia ter sido consumido pelas bordas em brasa. A polícia local, incapaz de compreender o que havia ocorrido, atribuiu a morte a um ataque cardíaco, embora o corpo de Luigi estivesse em perfeito estado — salvo por um pequeno detalhe: havia algo gravado em seu peito. Não era um corte, nem uma tatuagem. As palavras do poema estavam lá, como cicatrizes antigas, mas perfeitamente legíveis.

Chiara, a melhor amiga de Luigi, recusava-se a aceitar as explicações fáceis. Algo dentro dela dizia que a chama da praça, a morte do amigo e o poema estavam conectados. Obcecada, ela começou a vasculhar os pertences do professor, desenterrando cadernos cheios de anotações, muitos sobre a fogueira do vilarejo. Entre as páginas amareladas, encontrou uma única menção a algo que ele chamava de “o decreto”.

Luigi parecia fascinado com uma antiga tradição em que os moradores escreviam seus últimos desejos antes de morrerem e os queimavam na fogueira. Diziam que isso garantia que a alma do falecido continuasse viva, gravada no coração daqueles que o amavam. Contudo, havia uma advertência: se o desejo fosse egoísta ou maligno, a alma ficaria presa na chama, condenada a buscar um novo corpo para continuar sua existência.

“Luigi sabia disso”, pensou Chiara, com um frio percorrendo sua espinha. E a julgar pelo poema, ele havia escolhido sua própria maldição.

Na noite seguinte, Chiara foi até a fogueira, decidida a enfrentar seus temores. Sob o brilho pulsante da chama, ela sentiu algo que não conseguia explicar. Era como se os olhos invisíveis de Luigi a encarassem, avaliando cada movimento. Ela aproximou-se devagar, sentindo o calor intenso invadir sua pele.

— Por que fez isso, Luigi? — sussurrou, enquanto segurava o poema parcialmente queimado. — Por que quis que sua memória fosse gravada em nós?

Uma rajada de vento levantou cinzas e brasas, e a chama rugiu como uma criatura viva. Chiara ouviu uma voz, baixa e rouca, que parecia vir do fundo de sua própria mente.

— Porque não quero desaparecer.

O grito de Chiara ecoou na noite silenciosa.

Os dias seguintes foram um borrão de pesadelos. Chiara não conseguia dormir sem sonhar com Luigi, não como ela o conhecia, mas como uma figura grotesca feita de fogo e sombras. Ele sussurrava em sua mente, repetindo os versos do poema, sempre terminando com a mesma sentença:

— Meu epitáfio está gravado em seu coração.

Determinada a acabar com aquilo, Chiara procurou Padre Michele, o único homem no vilarejo com conhecimento de exorcismos e lendas antigas. O padre, um homem sério e envelhecido, ouviu sua história com paciência e preocupação.

— A alma de Luigi está inquieta. Ele encontrou uma brecha para se manter entre nós, mas isso vem com um preço terrível. Ele precisa de mais corações, mais corpos para gravar seu epitáfio. E a fogueira… — Padre Michele fez o sinal da cruz. — …é o portal para sua maldição.

— O que eu faço? — perguntou Chiara, com os olhos arregalados.

— Você deve queimar o poema na fogueira. Mas esteja avisada: ele tentará impedi-la.

Naquela noite, Chiara caminhou até a praça, com o poema nas mãos trêmulas. O vilarejo estava deserto, e a fogueira parecia maior, suas chamas dançando como braços ansiosos. Quando chegou perto o suficiente, sentiu o calor quase insuportável e a presença de algo maligno.

— Chiara, por favor, não faça isso.

Era a voz de Luigi, doce e familiar. Ela virou-se e viu sua figura no limite da escuridão, mais viva do que deveria estar. Seus olhos brilhavam com a mesma intensidade da chama.

— Eu só queria ser lembrado — disse ele, aproximando-se lentamente. — Você não entende o medo do esquecimento, do vazio. É como morrer de novo, mas para sempre.

Chiara sentiu lágrimas quentes escorrerem por seu rosto, mas não se moveu. Segurou o poema com mais força e deu um passo em direção à fogueira.

— Você já está morto, Luigi. E eu não vou deixar que use os outros para permanecer aqui.

Quando ela estendeu o poema para as chamas, o vento soprou violentamente, quase derrubando-a. As brasas subiram ao céu como pequenos demônios, e a figura de Luigi começou a distorcer-se, tornando-se algo monstruoso. Sua voz, agora um grito gutural, ecoou por toda a praça:

— Se me apagar, você me carregará para sempre!

Chiara hesitou, mas, com um grito de desafio, atirou o poema no fogo. As chamas explodiram em uma luz ofuscante, engolindo-a por completo.

Quando os moradores encontraram Chiara ao amanhecer, ela estava deitada ao lado da fogueira, com os olhos abertos e um sorriso sereno no rosto. Não havia sinal do poema, nem de Luigi. Contudo, quando um dos homens do vilarejo tentou levantar o corpo, algo chamou sua atenção: as palavras do poema estavam gravadas no peito de Chiara, como cicatrizes recentes.

A fogueira nunca mais se apagou. E todas as noites, sob o brilho incansável da chama, o vilarejo inteiro ouvia sussurros:

“Meu epitáfio está gravado em seu coração.”

30/11/2024

Versos Reescritos Pela Máquina (ou Merda d’Artista)
Barata Cichetto e ChatGPT
Prefácio: Santo Xavier
Gênero: Poesia / Conto
Ano: 2024
Edição:
Editora: BarataVerso
Páginas: 192
Tamanho: 16 × 23 × 1,20 cm
Peso: 0,400

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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