59 – Libertem Jesus da Cruz
Barata Cichetto
Libertem Jesus da cruz, hipócritas de mau-gosto!
Joguem as chamas crucifixos dourados, desgosto
A mingua aqueles que lhes sugam deixem morrer
Até quando o sangue dos inocentes irá escorrer?
Joguem suas Bíblias aos ratos e bueiros escuros
Libertem suas mentes da manipulação dos duros!
Aos líderes religiosos ofereçam a gloria do destino
Até quando irão sacrificar sua menina e o menino?
Enquanto esperam a glória de um Deus Oniausente
Religiosos ganham sua alma e sua vida de presente
Agora esqueçam promessas de existências eternas!
Sabiam que a vida está ao alcance de suas pernas?
Cristo não morreu por causa da humanidade, idiota
Não morreu por sua causa, não acredite em agiota
Que cobra o ingresso do Paraíso com lucro e ágio
Até quando irás morrer afogado sem um naufrágio?
1/10/2007
Prompt: Baseado neste poema, escreva um conto de terror com 1.000 a 1.500 palavras.
Libertem Jesus da Cruz
O vento cortava as ruas desertas da pequena vila, trazendo consigo o cheiro de poeira e algo mais: o aroma doce e podre da decadência. Em uma velha igreja no topo da colina, esquecida pelo tempo e pelos fiéis, o crucifixo do altar central parecia mais uma sentença perpétua que um símbolo de redenção. Jesus, de madeira escura e rachada, parecia mais vivo do que morto, seus olhos esculpidos num tormento eterno.
Clara caminhava com passos cautelosos pela nave da igreja. Seu objetivo não era pregar ou rezar. Não, ela estava ali para questionar, para confrontar o que sempre lhe disseram ser sagrado. A atmosfera do lugar era pesada; o cheiro de mofo misturado ao de velas queimadas grudava em sua pele.
Nas últimas semanas, Clara vinha sendo atormentada por sonhos — não, pesadelos. No mais vívido deles, Jesus descia da cruz. Não como salvador, mas como um espectro vingativo, olhos que ardiam como brasas e mãos que pingavam sangue fresco. Ele caminhava entre as multidões, que se ajoelhavam em adoração ou morriam sufocadas pelo peso de sua presença. Sua voz ecoava como um trovão, dizendo apenas: “Libertem-me.”
Determinada a entender, Clara mergulhara em textos antigos, conversas clandestinas com teólogos renegados e até livros proibidos. O consenso era claro, ainda que terrível: os ícones da fé eram prisões, e a adoração, uma corrente invisível que mantinha Cristo e outros deuses acorrentados em um ciclo de servidão.
Mas Clara queria provas. Foi assim que encontrou a igreja abandonada.
Ela parou diante do altar e observou o crucifixo. A madeira parecia pulsar à luz fraca das velas, como se algo vivo estivesse aprisionado ali.
— Você está aqui? — sussurrou, sem esperar resposta.
O silêncio foi rompido por um som seco, um estalo de madeira. Ela deu um passo atrás, os olhos fixos na cruz. Por um instante, o ambiente pareceu respirar com ela, as sombras dançando como se quisessem envolvê-la.
Então, algo se mexeu.
Os cravos que prendiam os pulsos esculpidos da figura começaram a ranger. Um deles caiu com um ruído metálico, seguido por outro. O braço direito do Cristo de madeira se moveu lentamente, a mão apontando para Clara.
Ela congelou, incapaz de acreditar no que via. Mas antes que pudesse correr ou gritar, uma voz encheu a igreja. Era profunda, ressonante, e carregava séculos de dor.
— Até quando irão me manter aqui?
Clara caiu de joelhos, não em reverência, mas em puro terror. A figura desceu da cruz com um movimento pesado, como se décadas de prisão tivessem enfraquecido seus membros. O chão de pedra da igreja reverberou com o impacto.
O rosto de Jesus, ou o que restava dele, era um mosaico de raiva e desespero. Seus olhos não eram mais de madeira, mas órbitas vazias, queimando com uma luz negra. Ele olhou para Clara.
— Libertar-me… é isso que deseja? — perguntou ele, cada palavra carregada de séculos de agonia.
Clara tentou responder, mas a voz lhe falhou. Tudo que conseguiu foi um aceno fraco.
Jesus deu um passo em direção a ela, e cada movimento parecia arrancar algo do mundo ao redor. As velas apagaram-se, o ar ficou pesado, quase irrespirável.
— Eles me fizeram isso — disse ele, gesticulando para as marcas dos cravos. — Não para salvar, mas para aprisionar. Eu sou a âncora do poder deles. Cada oração, cada lágrima… tudo me prende mais. Você, humana, acha que pode libertar o divino? Que arrogância.
Clara sentiu a raiva naquelas palavras, mas também algo mais: uma súplica. Ela reuniu toda a coragem que restava e respondeu:
— Eu vi a verdade… nos sonhos. Eles usam você, não é? Usam sua imagem para controlar, para manipular. Eu só quero… acabar com isso.
Jesus inclinou a cabeça, observando-a como um predador analisa sua presa.
— Libertar-me tem um preço. Está disposta a pagá-lo?
Clara hesitou. Seu coração batia tão rápido que ela achou que fosse desmaiar. Mas então, lembrou-se dos sonhos, das crianças que choravam sangue, das multidões que pereciam. Ela não podia recuar.
— Sim — respondeu, embora sua voz tremesse.
Jesus ergueu a mão e apontou para o altar. O chão ao redor começou a se abrir, revelando um abismo de luz e sombras. Dali, subiram gritos, choros e risos histéricos — uma cacofonia de almas perdidas.
— Toque o altar — ordenou ele.
Clara obedeceu, estendendo a mão trêmula. Assim que tocou o altar frio, uma dor lancinante percorreu seu corpo. Ela viu flashes de memória, não os seus, mas de todos aqueles que haviam sofrido em nome da fé. Sentiu o peso das guerras santas, das inquisições, dos sacrifícios. Quando finalmente recuou, estava ofegante e coberta de suor.
Jesus a observou com uma expressão que poderia ser gratidão… ou desdém.
— Está feito.
A igreja começou a tremer. As paredes racharam, e as estátuas de santos e anjos caíram em pedaços. Do lado de fora, a vila foi engolida por uma escuridão que se espalhava como um véu, engolindo tudo em seu caminho.
Jesus deu um último olhar a Clara antes de se virar e caminhar em direção à porta.
— Agora, verá o mundo como ele realmente é. E eles… verão o que fizeram.
Ele desapareceu na noite, e Clara ficou sozinha no que restava da igreja. Ela tentou levantar-se, mas suas pernas não a obedeceram. Algo dentro dela havia mudado.
Nos dias seguintes, a vila desapareceu do mapa. Aqueles que passavam pela região falavam de uma escuridão inexplicável e de sussurros que faziam até os mais corajosos tremerem.
Quanto a Clara, ninguém nunca mais a viu. Mas dizem que, se você ousar entrar na igreja abandonada, poderá ouvir sua voz, misturada aos ecos de uma verdade terrível:
— Libertem Jesus… mas preparem-se para o fim.
08/12/2024
Versos Reescritos Pela Máquina (ou Merda d’Artista)
Barata Cichetto e ChatGPT
Prefácio: Santo Xavier
Gênero: Poesia / Conto
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 192
Tamanho: 16 × 23 × 1,20 cm
Peso: 0,400
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.
Sempre achei que o lugar de Jesus Cristo não é naquele instrumento de tortura e morte. Insconscientemente, as pessoas preferem vê-lo naquela situação degradante, além de fazê-lo sofrer todos os anos como uma forma de justificar sua fé e, ao mesmo tempo, provarem que são incapazes de serem como ele foi, e seus ensinamentos serem ditos apenas da boca para fora. Libertem o Homem!
Já escrevi várias outras coisas sobre o tema, e creio ser sempre pertinente, embora quase ninguém irá dar a menor importância. Preferem se manter como fracos, porque assumir a responsabilidade sobre seus erros e acertos é mais dificil do que deixar tudo nas mãos de um “ente mágico”, a quem delegam suas vidas medíocres, e assim fazem a fortuna de “lideres” religiosos sacanas.