Atualizado em: 08/12/2024, as 07:12
Niilismo Moderno
Barata Cichetto
E se estamos todos no inferno, que abracemos aos demônios
Ninguém é o inferno de ninguém, nem de seus hormônios
Se dos outros somos deuses, de nós mesmos eterna perdição
Não há fuga e não existe derrota, numa guerra sem rendição.
Tenho a consciência do absurdo e do nada total e absoluto
E nada pode ser feito, apenas roupas negras de eterno luto
Pois se a todas as formas de associação claramente renego
Todos os jeitos de ser humano a mim mesmo nunca nego.
E na filosofia que me apego, maldita psicanálise de botequim
Não há sentido algum à existência humana, ser sem um fim
Portanto não procures por uma razão especial a seu intestino
Já que o sangue que te corre nas veias é seu absoluto destino.
Nada há de moral, imoral ou imortal, o nada é o imperador
E nenhum lugar de salvação, nenhum purgatório da sua dor
Pois então, caro e insignificante ser cuja existência deploro
Cresça a partir da consciência do nada, é o que te imploro.
23/04/2015
Prompt: Baseado neste poema, escreva um conto poético. Use cerca de 1.000 palavras.
O Peso do Nada
Arthur abriu os olhos e encarou o teto do quarto, uma vasta planície branca que parecia absorver seus pensamentos. Ele não sabia dizer quanto tempo havia passado desde a última vez que movera um músculo. Talvez minutos, talvez horas. O relógio na mesa de cabeceira estava quebrado havia semanas, e ele nunca se deu ao trabalho de substituí-lo. Qual era o sentido de medir o tempo quando cada instante parecia uma repetição insuportável do anterior?
Levantou-se devagar, como se a gravidade tivesse se intensificado durante a noite. Sua rotina era um conjunto de movimentos mecânicos: abrir a torneira, lavar o rosto, encarar seu reflexo no espelho. O rosto que o olhava de volta era uma máscara vazia, uma efígie de cansaço e desinteresse.
Era uma terça-feira, ou pelo menos ele achava que era. O conceito de dias da semana tinha perdido relevância em sua vida. Trabalhar em casa como analista de dados o isolava em uma bolha onde o mundo lá fora parecia um cenário distante, quase fictício. Mas Arthur não se importava. Não mais.
Naquela manhã, ele decidiu fazer algo fora do comum. Vestiu seu casaco mais pesado, pegou um caderno de anotações e saiu para caminhar. O céu estava nublado, como sempre parecia estar em sua cidade. As ruas, movimentadas mas sem alma, eram tomadas por pessoas com olhos fixos em telas ou passos apressados. Cada rosto parecia uma variação do mesmo molde, um espelho do vazio que ele próprio carregava.
No parque, Arthur sentou-se em um banco e abriu o caderno. Escrever era uma válvula de escape para a sensação constante de insignificância que o acompanhava. Às vezes, ele rabiscava frases soltas, às vezes tentava estruturar pensamentos que nunca terminavam em algo coerente.
Mas naquele dia, ele escreveu algo que não havia escrito antes:
“E se o nada não for o fim, mas o começo?”
A frase o inquietou. Ele fechou o caderno, mas a ideia continuou martelando em sua mente. O nada era seu velho conhecido, um conceito que ele abraçara como uma filosofia de vida. Desde que se afastara de religiões, ideologias e até mesmo do convívio social mais básico, o vazio parecia ser a única verdade absoluta.
Mas agora, sentado naquele banco de parque, cercado por árvores imóveis e o murmúrio distante da cidade, ele se perguntou: o que seria “começar do nada”?
Uma mulher passou por ele, carregando um cachorro pequeno e agitado. O animal latiu, interrompendo seus pensamentos. Ela sorriu um sorriso tímido, meio culpado, e continuou andando. Arthur não respondeu.
Ainda assim, aquela interação mínima o fez perceber algo desconcertante: ele não era invisível. Por mais que desejasse se fundir ao cenário, havia algo nele que o conectava aos outros, mesmo que fosse contra sua vontade.
Ao voltar para casa, Arthur abriu um livro que não tocava há anos: O Mito de Sísifo, de Albert Camus. Ele sempre achou reconfortante a ideia de que a vida era absurda, mas que cabia a nós decidir como lidar com esse absurdo. Por anos, ele acreditara que sua decisão era aceitar o nada como seu soberano, mas agora começava a duvidar.
“Talvez eu tenha me enganado,” murmurou para si mesmo.
Os dias seguintes foram marcados por pequenas mudanças. Arthur começou a caminhar diariamente, sempre com o caderno em mãos. Escrevia fragmentos de pensamentos, observava as pessoas, deixava-se sentir mais presente. Ele não sabia dizer se estava procurando algo ou se apenas experimentava um novo modo de existir.
Um dia, sentou-se em um café e, ao invés de pedir para levar o pedido, resolveu ficar. A garçonete, uma jovem com cabelos coloridos, puxou conversa enquanto lhe trazia o café.
— Gosta de escrever? — perguntou, apontando para o caderno.
Arthur hesitou. Não estava acostumado a falar sobre si mesmo, muito menos com estranhos.
— Gosto. Não sei se escrevo bem, mas gosto.
Ela sorriu.
— Isso é o que importa. Eu também escrevo. Poesias, na maioria das vezes.
Pela primeira vez em anos, Arthur se viu curioso sobre outra pessoa. Eles conversaram por quase uma hora. Ele descobriu que seu nome era Sofia e que ela trabalhava no café para pagar as contas enquanto tentava publicar seu primeiro livro.
Quando ela voltou ao trabalho, Arthur percebeu algo que o deixou desconfortável e intrigado ao mesmo tempo: ele havia sentido vontade de conhecê-la melhor.
O encontro com Sofia foi um ponto de inflexão. Arthur começou a frequentar o café mais vezes, sempre esperando por uma chance de conversar com ela. Aos poucos, ele se viu querendo compartilhar partes de si que há muito tempo mantinha enterradas. Sofia parecia genuinamente interessada em suas reflexões sobre o nada, embora as confrontasse com um otimismo que ele inicialmente achou ingênuo, mas que depois começou a admirar.
— Você fala do nada como se fosse o fim de tudo — disse ela em uma tarde. — Mas, e se o nada for apenas o espaço vazio onde algo novo pode crescer?
As palavras ecoaram na mente de Arthur por dias.
Um mês depois, Arthur sentia que algo dentro dele havia mudado, ainda que não soubesse dizer o quê. Ele continuava escrevendo, mas suas palavras estavam mais leves, menos presas à escuridão que antes parecia inescapável.
Em uma noite particularmente silenciosa, ele escreveu no caderno:
“E se o vazio que tanto temi fosse apenas o silêncio antes do primeiro acorde?”
Ele fechou o caderno e sorriu, algo que não fazia há tempos. Não havia respostas claras, mas pela primeira vez em anos, ele estava disposto a procurá-las.
O poema que antes era um manifesto niilista agora parecia uma bússola apontando para um horizonte desconhecido. Arthur sabia que ainda carregava o nada dentro de si, mas agora ele não o via como um peso, e sim como uma oportunidade.
Era um começo.
27/11/2024
Versos Reescritos Pela Máquina (ou Merda d’Artista)
Barata Cichetto e ChatGPT
Prefácio: Santo Xavier
Gênero: Poesia / Conto
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 192
Tamanho: 16 × 23 × 1,20 cm
Peso: 0,400
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.