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Versos Reescritos Pela Máquina – O Que é Isso, Companheira?

Atualizado em: 08/12/2024, as 07:12

O Que é Isso, Companheira?
Barata Cichetto

Ela passou mais de um ano pedindo a liberdade ao ladrão,
Político que roubou a terra e portanto não merecia perdão.
Chegou a dormir na calçada, e comeu pão com mortadela,
E quase gozou quando o desgraçado lhe acenou da janela.

Dormiu até com deputado da oposição cheio de dinheiro,
Para ir até a cidade gritar pela liberdade do companheiro.
Ela sabia quem ele era, e que perderia toda sua dignidade,
Mas aceitou transar, apenas para justificar a necessidade.

Comprou camiseta vermelha com a estampa do milionário,
Acreditando que o mentiroso era pobre, portanto solidário.
E acreditou tanto, que tatuagem na perna deixou esculpir,
Pintou no rosto uma estrela e foi para a rua cagar e cuspir.

A dignidade de mulher, a custo conquistada por outras damas,
Ela jogou no chiqueiro onde porcos imundos fizeram de camas.
Xingou pai de fascista, mãe de egoísta, e achou ser comunista,
Sem saber o preço de nada, e nunca pagar a conta do dentista.

Chamou a todos de racista sem perceber seu próprio conceito,
E de nazista a qualquer um que discordou do seu preconceito.
Numa arrogância peculiar, em defesa das chamadas minorias,
Demonstrou ignorância acreditando em igualdade por teorias.

Pintou o cabelo de roxo, cor-de-rosa e depois de amarelo,
Na base da nuca mandou tatuar uma foice e um martelo.
Colocou piercing de estrelas nos mamilos, e calçou coturno,
E xingou de fascista o padeiro, e de gado o guarda-noturno.

Brigou pelos privilégios que se arvorou de forma vil e arrogante,
E pelo direito de ter livre a esquerda ao descer a escada rolante.
Fez da esperteza seu dever, pilhar e roubar agora era ocupação,
E cobrar aluguel dos desvalidos, o que chamou de participação.

Gritou palavras de ordem e por ordem de alguém pichou muros,
Sem nunca conhecer a real razão por trás de tempos tão duros.
Por sua própria vontade aceitou o imposto por cerebral lavagem,
E assim deixou de ser uma pessoa, e virou apenas uma imagem.

Deixou de usar sutiã, maquiagem e depilar o sovaco e as pernas,
Crendo em mentiras que por bocas rotas viram verdades eternas.
Namorou traficante, fumou maconha e deu tiro de fuzil na favela,
Ficou tão bêbada que deu para doze acreditando ser uma novela.

Trocou o sentido das palavras e matou da língua seu significado,
Berrou em nome da liberdade, sem saber que a tinha sacrificado.
Chamou autoridade de opressão e de pai o malfeitor sacripanta,
Mas nunca chegou em casa depois de estar pronta a sua janta.

Acreditou na justiça pelos seus olhos, e assim a tudo sacrificar
E o que era o errado virou certo desde que pudesse lhe justificar.
Seu corpo eram suas regras e assim aborto virou revolucionário,
E virou dívida e direito aquilo que era apenas um ato partidário.

Exaltou o genocídio de acordo com a necessidade da revolução,
Acreditando que o importante era a causa e nunca seu coração.
Se indignou com a morte do moleque que matou um policial,
E na estação colocou fogo no Museu que não tinha fim social.

Quando enfim o bandido deixou as grades, sonhou ser dama,
E acordou molhada com um cadáver aos pés da própria cama.
Tinha tanta fé naquele que acreditava ser seu novo Salvador,
Que não percebeu o sangue escorrendo das mãos do ditador.

09/11/2019 

Do Livro:
Memórias Arrependidas de Um Poeta Sem Pudor (Antologia Poética, de 1978 a 2024)
Barata Cichetto
Poesia
BarataVerso Editora – 2024
748 Páginas — 16 X 23 X 3,84 cm

Prompt: Baseado neste poema, escreva um conto. Use cerca de 1.000 palavras.

O Que é Isso, Companheira?

Era noite quando ela, uma jovem de vinte e poucos anos, desceu do ônibus em frente ao comitê. O ar estava pesado com gritos e bandeiras, um mar vermelho pulsando com palavras de ordem e olhos brilhando de fervor. Estava ali porque acreditava em algo maior que si mesma. Ou pelo menos era o que repetia para justificar tudo o que tinha feito até aquele ponto.

A história começou meses antes, quando ela viu pela primeira vez a imagem do líder em um jornal amassado no chão da padaria. A manchete gritava algo sobre corrupção e desvio de dinheiro, mas o que chamou sua atenção foi o rosto carismático na fotografia, ladeado por apoiadores com olhos marejados. Havia algo no sorriso dele que parecia oferecer promessas — não de riqueza, mas de redenção.

Ela começou a frequentar encontros do grupo, quase por acaso, acompanhando uma amiga que tinha o mesmo cabelo pintado e as mesmas ideias em construção. Ali, sob a luz fluorescente de uma sala apertada, ouviu pela primeira vez as histórias de injustiça, as narrativas de luta e opressão. Cada palavra era como um tijolo em um muro que ela erguia contra o mundo.

No início, suas ações eram pequenas. Comprou uma camiseta com a estampa do líder, leu panfletos e compartilhou postagens nas redes sociais. Mas, à medida que mergulhava mais fundo, suas convicções tomavam forma. O líder, preso e condenado, tornou-se o centro de sua fé, e sua libertação, sua missão.

Ela deixou o emprego como vendedora em uma loja de roupas para se dedicar integralmente à causa. Passou noites em claro organizando protestos e escrevendo palavras de ordem nas redes sociais. Quando um deputado do partido prometeu financiar o transporte de manifestantes para um grande ato na capital, ela não hesitou. Aceitou o convite e, mais do que isso, entregou-se completamente à estratégia dele para ganhar apoio — mesmo que isso significasse dormir com ele.

No começo, sentiu uma pontada de vergonha. Mas, à medida que repetia para si mesma que era “pela causa”, essa sensação desapareceu. Tornou-se parte da narrativa que construía em torno de si mesma, como uma guerreira disposta a sacrificar qualquer coisa pelo bem maior.

Com o tempo, sua aparência começou a mudar. O cabelo, antes liso e castanho, tornou-se um arco-íris de cores que iam do roxo ao amarelo. Tatuou símbolos que acreditava representar a luta no braço e na nuca. Trocou as roupas leves e coloridas por coturnos e camisetas largas, como um uniforme de resistência. A sociedade patriarcal e opressora não a definiria mais.

Mas, por trás desse novo visual e das atitudes desafiadoras, algo começou a se romper. A cada ato, a cada grito, a cada muro pichado com frases de efeito, sentia que perdia um pedaço de si mesma. As causas pelas quais lutava pareciam mais vagas a cada dia. Ainda assim, não podia parar. Admitir dúvidas seria admitir fraqueza, e a fraqueza era um luxo que não podia se permitir.

Uma noite, enquanto organizava cartazes para uma manifestação, um amigo do grupo trouxe maconha e uma garrafa de cachaça. Entre tragos e goles, as discussões inflamadas sobre política e desigualdade transformaram-se em risadas altas e depois em algo mais. Quando deu por si, estava na cama de um desconhecido, cercada por garrafas vazias e rostos que mal conseguia lembrar.
Ainda assim, acordou com a convicção renovada. “Tudo é válido pela revolução”, murmurou para si mesma enquanto se vestia e saía.

O ápice de sua fé veio com a libertação do líder. Ela estava lá, na multidão, com o rosto pintado de vermelho e uma estrela tatuada na perna. Quando ele apareceu na sacada para acenar, ela sentiu algo próximo do êxtase. Chorou, gritou até perder a voz, acreditando que aquele momento era o início de um novo capítulo.

Mas os meses que se seguiram foram diferentes do que ela esperava. O líder, agora livre, parecia mais distante, mais preocupado com alianças e discursos vazios do que com as promessas que fizera. Os amigos do grupo começaram a desaparecer, voltando às suas vidas normais. Ela, no entanto, continuava ali, agarrando-se ao que restava de sua devoção.

Até que, certa manhã, encontrou-se sozinha. Os cartazes estavam guardados, os murais apagados, e as redes sociais caladas. Sentada no chão de seu pequeno apartamento, olhou ao redor e percebeu que tudo o que tinha era uma pilha de camisetas vermelhas, uma bandeira dobrada no canto e a tatuagem que agora parecia mais uma cicatriz.

Ela nunca questionara o que a movia de verdade. Sempre acreditou que seu fervor, sua entrega e seu sacrifício eram em nome de algo maior, algo quase sagrado. Mas agora, ao olhar para trás, a pergunta ecoava em sua mente como um golpe cruel: “O que é isso, companheira?”

As palavras não eram ditas por ninguém além de sua própria consciência, que despertava tarde, mas não tarde demais. O que era aquilo que a fazia gritar até perder a voz, que a fazia vender sua dignidade em troca de um aceno? Que força a levara a pintar no próprio corpo os símbolos de uma ideologia que agora lhe pareciam vazios?

A pergunta ressoava em sua mente como uma cobrança implacável. Não havia mais com quem dividir a culpa, nem sobre quem projetar a responsabilidade. Por mais que tivesse sido manipulada, havia também o desejo de acreditar, de ser parte de algo. E isso, percebeu, era o mais difícil de encarar.

Naquela noite, enquanto limpava os resquícios do passado, encontrou, em uma caixa amassada, o crachá de um dos protestos. Nele, seu nome estava escrito em letras grandes, seguido da palavra companheira. Ela segurou o crachá por um momento, antes de rasgá-lo em pedaços. A palavra nunca mais soaria da mesma forma.

Era estranho admitir que tudo aquilo, no fim das contas, não passara de uma construção. Não só o líder, mas também ela mesma. Criara uma personagem para se encaixar, para ser aceita, para lutar por algo que nunca entendera por completo.

“O que é isso, companheira?”

Agora, ela sabia a resposta. Era uma mistura de ilusão e desespero, alimentada por promessas vazias e uma sede de pertencimento. E, embora fosse doloroso, também era libertador. Porque ao aceitar a verdade, finalmente estava livre — não da opressão que julgava combater, mas das mentiras que contara a si mesma para justificar cada escolha.

No silêncio de sua nova consciência, deixou escapar um riso amargo. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava começando a recuperar algo que tinha perdido: a si mesma.

Uma noite, sonhou com o líder. Ele estava em um palácio, cercado por luxo, enquanto ela permanecia do lado de fora, gritando por ele, como fizera tantas vezes. Ele olhou para ela, mas em vez de sorrir, virou-se e fechou as cortinas.

Quando acordou, soube que algo havia mudado. Pegou uma das camisetas e, com um movimento rápido, rasgou-a ao meio. Depois, uma a uma, foi destruindo cada lembrança física daquela fase.

Ao final, olhou para o espelho. A imagem refletida não era a de uma heroína, mas de alguém que buscava desesperadamente se reencontrar. Pela primeira vez em muito tempo, chorou.

E, no silêncio de seu apartamento vazio, prometeu a si mesma que nunca mais sacrificaria sua essência em nome de uma mentira, mesmo que ela viesse embrulhada em promessas de esperança.

23/11/2024

Versos Reescritos Pela Máquina (ou Merda d’Artista)
Barata Cichetto e ChatGPT
Prefácio: Santo Xavier
Gênero: Poesia / Conto
Ano: 2024
Edição:
Editora: BarataVerso
Páginas: 192
Tamanho: 16 × 23 × 1,20 cm
Peso: 0,400

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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