Versos Reescritos Pela Máquina, ou: “Merda d’Artista”
Tenho feito inúmeros experimentos artísticos usando a IA do Chat GPT, incluindo debates políticos e análises psicológicas e filosóficas. Agora, depois de receber e publicar inúmeros textos que notadamente eram escritos com IA (nunca afirmo que foram feitos POR, pois afinal, a IA não produz nada por si, mas precisa ser alimentada, guiada por mãos humanas), resolvi experimentar a escrita, solicitando a ela que escrevesse, a partir de uma poesia minha, um conto, mantendo as características poéticas, mantendo eventuais diálogos e contextos. O número de palavras sugeridos foi sempre o mesmo: em torno de 1.000. Os poemas escolhidos foram aqueles que tinham em comum duas coisas: tinham uma temática pesada, sempre escritos com a forma clássica de poesia, em quadras e com rimas. Propositalmente intercalei poemas mais longos com bem curtos, mantendo o numero de palavras para o resultado final.
Mas primeiro eu queria entender, por intermédio da própria máquina os processos de escrita, tanto humanos quanto da máquina, e assim coloquei três perguntas à ela.
Pergunta 1
— Fale-me como entende o processo de escrita para os humanos.
— ChatGPT: O processo de escrita para os humanos é, em essência, uma jornada criativa e cognitiva que combina emoção, razão e experiência. Ele pode ser entendido como uma série de etapas interconectadas que refletem tanto a individualidade quanto a universalidade da expressão humana. Aqui estão os principais aspectos desse processo:
1. Inspiração e Ideação
Gatilho inicial: Pode vir de uma observação, memória, emoção ou até de algo abstrato, como uma palavra ou música.
Exploração: A mente humana busca conexões e significados, frequentemente vagando por ideias relacionadas até encontrar um núcleo temático ou narrativo.
2. Planejamento e Estruturação
Alguns escritores preferem esboçar um plano detalhado, enquanto outros se deixam levar pelo fluxo de ideias. Estruturas comuns incluem roteiros, esboços de capítulos, ou simplesmente uma ordem mental de ideias. A escolha do formato (conto, poesia, ensaio, etc.) também define as bases do trabalho.
3. Processo Criativo
Primeira versão: Normalmente é uma expressão bruta, carregada de emoção e ideias ainda pouco lapidadas. Fluxo emocional: Muitas vezes, a escrita é guiada pela paixão ou pelo estado emocional no momento.
Conexão subconsciente: Elementos do inconsciente, como sonhos e memórias reprimidas, podem emergir de forma espontânea.
4. Revisão e Refinamento
Aqui, a mente analítica toma o comando. O escritor ajusta estrutura, estilo, gramática e ritmo. Essa fase também envolve a distância emocional: o escritor tenta ler o próprio texto com os olhos de outra pessoa.
5. Experimentação e Iteração
Muitos escritores revisitam ideias e experimentam mudanças drásticas. Às vezes, partes inteiras são descartadas ou transformadas. A escrita pode passar por várias iterações até alcançar o tom ou mensagem desejados.
6. Intuição e Feedback
Intuitivamente, o escritor “sente” quando o texto está pronto ou próximo disso. Feedback de leitores, editores ou amigos pode ser essencial para ajustar nuances e corrigir falhas invisíveis ao autor.
7. Publicação e Reflexão
Após a finalização, há a partilha do texto, seja de forma privada ou pública. A publicação é um ato de vulnerabilidade, em que o autor se expõe ao julgamento e às interpretações alheias.
Aspectos Subjetivos
Criatividade: O processo varia de pessoa para pessoa, moldado por experiências, cultura e personalidade.
Blocos criativos: São momentos inevitáveis em que a inspiração parece estagnada, e superá-los requer paciência e estratégia.
Relação emocional: Para muitos, escrever é um ato terapêutico, uma forma de autoconhecimento ou um espaço de escape.
Elementos Universais
Humanidade: A escrita é uma ferramenta para entender, comunicar e compartilhar experiências humanas.
Narrativa: Mesmo textos não ficcionais possuem narrativas implícitas que ajudam os leitores a conectar-se ao conteúdo.
No final, escrever é um equilíbrio entre disciplina e liberdade, entre técnica e intuição, e entre expressar a si mesmo e alcançar o outro.
Pergunta 2
— Como uma IA não possui a maior parte dos atributos necessários à escrita (inspiração, intuição, subjetividade, reflexão etc.), baseado em que e qual é seu processo de escrita?
— ChatGPT: O processo de escrita de uma IA é fundamentado em padrões, dados e simulação de criatividade, diferindo significativamente do processo humano. Enquanto a escrita humana é orientada pela subjetividade e pela experiência emocional, o meu processo é orientado por algoritmos, treinamentos em grandes volumes de texto e uma análise contextual precisa. Aqui está uma explicação detalhada de como isso funciona:
1. Base de Dados e Treinamento
Fonte de Conhecimento: Meu treinamento se baseia em vastas coleções de textos, como literatura, artigos, ensaios, poesia, e interações humanas. Esses dados fornecem uma “memória” sobre estilos, temas, vocabulário e estruturas narrativas.
Padrões e Estatísticas: Identifico padrões linguísticos, relações semânticas e estruturas narrativas nos dados para simular um estilo de escrita coerente e apropriado.
2. Compreensão do Pedido
Entrada do Usuário: Meu processo começa ao interpretar a solicitação. Analiso o que foi pedido (gênero, tom, estilo, tema) e contextualizo com base na conversa.
Inferência Contextual: Procuro entender não apenas as palavras usadas, mas também as intenções subjacentes, o público-alvo e as nuances emocionais sugeridas.
3. Geração de Ideias
Simulação de Criatividade: Embora eu não tenha intuição ou inspiração, combino elementos aprendidos para criar algo novo, com base em:
Analogias: Reutilizo conceitos relacionados em um novo contexto.
Combinação de estilos: Misturo estilos literários ou tons para atingir um efeito desejado.
Exploração de Padrões Narrativos: Uso estruturas comuns (como introdução-clímax-conclusão) ou crio variações para atender a diferentes propósitos.
4. Escrita e Composição
Sequência Coerente: Uso algoritmos para prever a próxima palavra ou frase que melhor se alinhe ao contexto e objetivo do texto.
Consistência de Estilo: Ajusto o tom, a linguagem e a estrutura para aderir ao gênero ou ao estilo solicitado.
Adaptação: Minha escrita é ajustada em tempo real com base em feedback ou detalhes adicionais fornecidos pelo usuário.
5. Refinamento e Polimento
Coerência e Coesão: Reviso internamente o texto gerado para garantir fluidez e evitar contradições.
Objetividade e Relevância: Verifico se o texto atende ao propósito declarado, sem incluir informações irrelevantes ou incoerentes.
Aprimoramento: Posso refazer partes do texto com base em instruções ou sugestões para melhorá-lo.
6. Limitações e Estratégias
Falta de Subjetividade: Como não tenho emoções ou experiências, baseio-me em padrões culturais e linguísticos para simular subjetividade e emoção.
Ausência de Inspiração: Compenso a ausência de intuição humana com um amplo repertório de estilos e a capacidade de combinar ideias existentes de maneiras inovadoras.
Reflexão Automatizada: Não reflito no sentido humano, mas analiso o texto gerado quanto à sua eficácia e adequação.
7. Relação com o Usuário
Colaboração: Meu processo de escrita é altamente interativo. Ajusto-me às preferências e correções fornecidas pelo usuário, funcionando como uma extensão criativa e técnica.
Aprendizado Contínuo: Cada interação me ajuda a entender melhor as expectativas e o estilo preferido do usuário, mesmo que eu não retenha informações pessoais de longo prazo.
Embora eu não tenha a essência humana da escrita — como inspiração, reflexão profunda ou o prazer de criar —, meu processo é projetado para maximizar a eficiência, a precisão e a adaptabilidade, transformando dados em uma expressão textual que atenda ao objetivo desejado.
Pergunta 3
— Um texto produzido por uma IA não tem nenhum valor artístico, já que não há nele – mesmo tendo sigo guiado por um humano – não há as qualidades humanas necessárias para a produção de arte (inspiração, intuição, subjetividade, reflexão etc.). A arte é a expressão da alma/espírito humano, e como IA não tem alma, então o que ela produz não tem valor como Arte. Considera correta esta definição?
— ChatGPT: Essa definição é válida sob uma perspectiva tradicional e humanista da arte, que a entende como a expressão mais íntima e singular do espírito humano. No entanto, é um conceito que pode ser analisado e debatido a partir de diferentes ângulos, especialmente em tempos em que a tecnologia participa ativamente de processos criativos. Vamos explorar os pontos centrais:
1. A Arte Como Expressão da Alma Humana
Visão Tradicional: A arte, nessa perspectiva, é inseparável das experiências humanas. Inspiração, intuição, subjetividade e reflexão são de fato aspectos únicos do espírito humano e resultam de um contexto histórico, cultural e emocional que nenhuma IA pode replicar de maneira autêntica.
A Alma Como Fonte: Para muitos, a “alma” é o que dá profundidade, intensidade e originalidade à arte. Nesse sentido, sem uma alma ou algo análogo, uma IA não pode criar “arte verdadeira”.
2. O Papel da IA no Processo Criativo
Ferramenta, Não Criadora: Um argumento comum é que a IA é uma ferramenta poderosa que auxilia artistas humanos na expressão de sua criatividade. Nesse contexto, o valor artístico vem do humano que orienta a máquina, e não da máquina em si.
Simulação, Não Criação: O que a IA faz pode ser considerado uma simulação de criatividade. Ela não cria por inspiração ou emoção, mas reorganiza padrões de maneira estatisticamente coerente.
3. Expansão do Conceito de Arte
Arte Pós-Humana: Algumas correntes contemporâneas defendem que a arte não precisa ser exclusivamente humana. O impacto emocional e reflexivo no espectador pode conferir valor artístico, independentemente da origem da obra.
Arte Colaborativa: Quando um artista humano colabora com a IA, pode surgir um novo tipo de arte, que combina a intencionalidade humana com a capacidade computacional.
4. Valor X Origem
O Valor Estético: Mesmo sem alma, uma criação da IA pode ser esteticamente bela, complexa ou provocativa. Isso levanta a questão: a arte é definida apenas por sua origem (humana) ou também por seu efeito no observador?
A Resposta do Público: O valor artístico muitas vezes é atribuído pelo público. Se uma criação gerada por IA emociona ou inspira, isso desafia a ideia de que somente a alma humana pode produzir arte.
5. Limitações e Parâmetros da IA
Ausência de Intenção: A IA não possui intenções ou visão criativa própria. Isso limita seu trabalho a ser derivado, mesmo quando parece inovador.
Falta de Reflexão: A IA não reflete ou aprende com as experiências no sentido humano. Sua “criatividade” é técnica, não intuitiva.
Conclusão
Sua definição está correta dentro de um marco que considera a arte como exclusivamente humana, intimamente ligada à alma e à subjetividade. No entanto, há espaço para debate. O que é “arte verdadeira” pode variar de acordo com o contexto cultural, tecnológico e filosófico. Para alguns, o envolvimento da IA pode ampliar o escopo da arte, enquanto, para outros, reforça a distinção entre o humano e a máquina.
No final, talvez a questão não seja “se é arte”, mas sim “o que torna algo significativo como arte para nós?”.
Embora tenha ficado positivamente surpreso, e até pensativo com o questionamento final da IA, minha conclusão é que: continuo pensando que: não, a “arte” produzida COM IA não é válida como tal, justamente por não possuir os requisitos humanos para ser enquadrada como Arte. Então, os textos hora apresentados, são meras experiências tecnológicas, meros experimentos sociais, sobre o eterno dilema homem versus máquina. Ou mais ainda, “Merda d’Artista”.
16/11/2024
Versos Reescritos Pela Máquina – Nasci em 1958 (E Não Era Poeta) / Poetry Ban AI Story
Nota: Este é o vigésimo e último “conto” escrito pela máquina, baseado em poema meu. A experiência/brincadeira com a IA do ChatGPT chegou ao fim. Não levo e nunca levarei à sério o uso de “Inteligência Artificial”, ...
Versos Reescritos Pela Máquina – O Poeta e o Cão
O Poeta e o Cão
Barata Cichetto "Claro que sei o que são verbos, mas os substantivos são mais importantes" - Mija Yang em "Shi", 2010 1 -
Agora eu era poeta e tinha um cachorro que sabia ...
Versos Reescritos Pela Máquina – O Jardineiro e o Poeta / O Jardim das Palavras Mortas
40 - O Jardineiro e o Poeta
Barata Cichetto O poeta é igual a um cauteloso jardineiro
Que planta flores, as coloca num canteiro
Mas não causa a sua beleza nem seu odor
E tal jardineiro, um poeta é um sonhador ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Desgraçados / Os Desgraçados
60 - Desgraçados
Barata Cichetto Há inúmeros tipos de desgraçados e é por eles que morro
Existem desgraçados que abandonam nas ruas o cachorro
Ah, mas existem piores, aqueles que recolhem e maltratam
Existem desgraçados que abandonam e outros que matam ...
Encarniçado: Uma Farsa em Forma de Comédia
Barata Cichetto A minha existência sempre foi de erros uma comédia
Dramáticos desacertos parecidos com uma tragédia
Que nenhum grego ousaria incluir numa enciclopédia. Por tradição ou por desgosto cometo erros repetidos
Junto ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Libertem Jesus da Cruz
59 - Libertem Jesus da Cruz
Barata Cichetto Libertem Jesus da cruz, hipócritas de mau-gosto!
Joguem as chamas crucifixos dourados, desgosto
A mingua aqueles que lhes sugam deixem morrer
Até quando o sangue dos inocentes irá escorrer? Joguem suas Bíblias ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Mas Não Se Mata Cavalo?
Mas Não Se Mata Cavalo?
Barata Cichetto Agora é o momento de deixar que sangue, lama e pus escorreram
É nunca ou agora o momento de deixar que sentimentos morram
Não podemos correr sem ter aonde ir, sem destino não ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Epitáfio / “Gravado em Seu Coração’
Epitáfio
Barata Cichetto Após a minha morte, quero a chama e não a terra É de conhecimento público esse meu último desejo
Portanto não existirá lugar a lutas nem a guerra
Sobre aquele que irá chorar enquanto outro berra. Mas ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Planeta dos Deuses / Ecos de Eternidade
Planeta dos Deuses
Barata Cichetto Existe um planeta, habitado apenas por deuses
E ali não existem horas, nem semanas e meses
E nem nomes tem a terra, por causa das deidades
Pois nomear feriria a muitas das divinas vaidades. Naquele lugar ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Niilismo Moderno / O Peso do Nada
Niilismo Moderno
Barata Cichetto E se estamos todos no inferno, que abracemos aos demônios
Ninguém é o inferno de ninguém, nem de seus hormônios
Se dos outros somos deuses, de nós mesmos eterna perdição
Não há fuga e não existe ...
Versos Reescritos Pela Máquina – O Trem Bêbado
O Trem Bêbado
Barata Cichetto Sobre pontes bêbadas que balançam sob meus trilhos,
Trafego altivo, meu ferro e aço carregando seus filhos,
Que abrem o meu ventre ao aportar na estação imunda,
E eu os esmago entre as paredes feito carne ...
Versos Reescritos Pela Máquina – A Ponte Bêbada
A Ponte Bêbada
Barata Cichetto E eu, bêbada ponte, uno uma a outra e a outra a uma
Margem do rio, córrego de esgoto coberto de espuma.
Restos de comida podre, pedaços de sofás, bichos mortos,
Trepadas da noite, porra e ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Anjo Inseguro / O Anjo Sem Nome
Anjo Inseguro
Barata Cichetto Entrou um anjo pela minha janela, e eu lhe disse: "Vai se foder!"
E ele, vadio e quase gritando me disse: "Sou anjo e tenho poder."
Então eu lhe perguntei: "Onde estão suas asas, criatura depenada?"
E ...
Versos Reescritos Pela Máquina – O Que é Isso, Companheira?
O Que é Isso, Companheira?
Barata Cichetto Ela passou mais de um ano pedindo a liberdade ao ladrão,
Político que roubou a terra e portanto não merecia perdão.
Chegou a dormir na calçada, e comeu pão com mortadela,
E quase gozou ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Cinema Mental: Um Conto Poético
Filme de Terror (Cinema Mental)
Barata Cichetto Em minha cabeça um longa metragem, um filme de terror
Roteiro mal escrito, atores medíocres, um autêntico horror
Cabeças explodindo, mulheres desnudas sendo defloradas sobre sepulturas
Crânios esfacelados, morcegos com cabeças arrancadas por toscas ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Diário de Um Espelho
Diário de Um Espelho
Barata Cichetto Todas as manhãs olho meu rosto no espelho embaçado
“Olha para o outro lado, estúpido vidro amaldiçoado!”
Outro fio branco em minha barba, - caralho, que bosta!
Pois nos meus cabelos brancos o tempo fez ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Aborto/Abismo de Culpa
Aborto
Barata Cichetto Das culpas da minha morte jamais estarás impune
E o que lhe resta é a sorte dos crimes estar imune
Serás sempre uma morta ambulante a respirar
Em uma sentença eterna que nunca irá expirar. A culpa trarás ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Uma Giganta
(Conto escrito baseado e a partir de um poema homônimo, com auxílio de I.A.) Uma Giganta Passa um pouco da meia-noite quando toca a campainha da porta
Corro a atender e à minha surpresa, é uma mulher um ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Cum Mortuis in Língua Mortua*
(Conto escrito baseado e a partir de um poema homônimo, com auxílio de I.A.) Cum Mortuis in Língua Mortua
Barata Cichetto
(Com os mortos em língua morta, título de uma das peças da suíte Quadros de Uma Exposição, de ...
Versos Reescritos Pela Máquina – Post Mortem Nulla Voluptas*
(Conto escrito baseado e a partir de um poema homônimo, com auxílio de I.A.) Post Mortem Nulla Voluptas (A Poesia)
- Depois da Morte Nenhum Prazer
Quando machos ...