Atualizado em 30/10/2024 as 23:01:41
Estou sentado no banheiro… Epa… Na privada que não dá para sentar no banheiro. Inteiro. Como dizia, estou sentado na privada. Tentando pensar. E, claro, tentando cagar. E penso que pensar e cagar é só começar. Celular na mão digito torto. Não tenho polegares finos, nem dedos curtos. Então, digitar nesta merda é um terror. Certo, depois uso o corretor ortográfico e corrijo essa merda. Ah, claro, a merda. Não sai. Mas o pensamento sim. Vagando entre os desenhos dos azulejos, escorrendo pelo chuveiro, pela torneira. Apertar a descarga sem terminar de cagar é algo fora de propósito. Devia ser proibido por Lei Federal. Aí penso nas pernas da garota do supermercado, nos peitos da coroa do apartamento ao lado, na bunda da faxineira do prédio. Porra, aí fodeu. Com tesão não cago. Deixa eu mudar de pensamento. Ah, penso na política e nessas meu pau murcha na hora. Não tem nada mais broxante que pensar na merda da política. Broxante, mas não laxante, que nem isso fez a bosta sair dançando e dar um mergulho nas águas profundas do meu vaso sanitário. Sempre achei errado chamarem essa peça de vaso. Afinal, vasos não são para plantarmos flores? E na privada plantamos o quê? Flores de bosta, só se for. Lizzy Borden no meu colo. Agora que ferrou tudo. Alguém já tentou cagar com gato no colo? Que além de tudo gostar a enterrar as unhas nas pernas da gente. E minhas coxas, que são quase só pele e osso reclamam, mas ela nem liga. Deve achar que está tomando conta para que ninguém interrompa minha cagada. Antes eu lia jornal e revista quando ia cagar. Agora nem tem mais. Morreram as revistas e os jornais. Sobrou esta merda de celular, menor que minha mão e mais frio que a porra do azulejo do banheiro. São tempos modernos, dizem. E dizem isso a cada novo tempo moderno que aparece. E toda hora aparece outro tempo moderno e o antigo fica para trás. “No meu tempo…” sempre falaram os mais velhos. “Os tempos mudam…” Dizem os mais novos. E entre os tempos dos velhos e as mudanças dos novos, fica o tempo, coitado, sem saber para onde ir. Se para ou continua. E toda essa digressão serve para que, mesmo? Ah, sim, para tentar me distrair enquanto tento cagar. A barriga dói, e nada da bosta sair. Ah, mas estou, enquanto isso escrevendo nestas falsas teclas de celular pensamentos tão falsos e escrotos que não sei como alguém tem coragem de ler. Ah, mas tem, sim. Tem gente que tem. Não é?! “Tum, tum, tum” — Alguém batendo na porta do banheiro — Mas, como assim? Não tem ninguém em casa. Só eu e as gatas. “Tum, tum, tum tum, tum, tum”. Ah, não enche o saco. Me deixa cagar, fantasma impertinente! “Tum, tum, tum tum, tum, tum”. Seria um fantasma, meu cérebro me acordando e a bosta querendo sair, se ver livre de mim? Ah, desisto. Desisto de saber quem é. Desisto de cagar. Terminei o texto. Assim.
19/03/2024
P.S. A imagem de capa não tem nada a ver, só coloquei mesmo para chamar sua atenção. É uma modelo russa, a Victoria.
Do Livro: Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Poesia Crônica/Crônica Poética/Antiliteratura
UICLAP, 2024 — 248 Páginas — 20 X 20 X 1,25cm
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.