Vômito de Metáforas | Que Sobrevivamos às Regras Morais Para Catar os Espojos do Que Seremos Nunca Mais

Atualizado em: 04/06/2025, as 12:06

Há tempos não sentíamos tanto medo. E não é segredo. Que nos idos de mil novecentos e sessenta e quatro e até oitenta e oito. Era crime falar de coito. E até de biscoito. A Ditadura Militar comia no lombo. E era certo o tombo. Que iriamos tomar. Se alguém nos fosse chamar. Para uma passeata. Uma carreata. Ou até para tomar umas no bar. E até no lar. Corríamos o risco iminente. De a serpente. Nos engolir. Então tínhamos que seguir. “Caminhando e cantado, seguindo a canção”. Ou sermos internados numa instituição Que tinha apelidos diversos. Mas que não podem ser ditos em versos. Mas ali conhecíamos as regras de dona Solange Hernandes. Ou de Seu Fernandes. Que podia ser um General de Bravata. Ou um qualquer um de farda ou terno e gravata. E víamos na televisão em preto e branco. Que nada era branco. Porque a coisa era dura. Nos porões da Ditadura. Era um tal de jornalista. E qualquer um tachado de comunista. Morrer na porrada. Ou virar uma torrada. E assim seguia a baderna. Que sabíamos não ser eterna. Até que um dia feito um falso milagre. De um Jesus com cabeça de bagre. Transformando vinho em vinagre. Tudo acabou como se nunca tivesse acontecido. Como se nada tivesse sido. E veio então. A nova Constituição. E o mundo achou que acabara no Brasil a prostituição. E na politica perfeição. Estaríamos salvos. E deixaríamos de ser alvos. De novos ditadores. E dos falsos imperadores. E assim passamos os noventa e início dos dois mil. Achando que o Gigante Brasil. Tinha finalmente achado sua vocação. De ser o “País do Futuro” como opção. Foi a assim a festa da Liberdade de Expressão. Onde empresas de Comunicação. Faziam de tudo para provar. Que Ditadura era algo a se reprovar. E para comprovar. Mostravam tetas e bucetas no horário nobre da televisão. Que em sua visão. Eram a prova final. De que por fim, enfim e afinal. A liberdade abria “as asas sobre nós”. E que no encontro com a liberdade não estávamos sós. E todos então irmanados. Todos “soldados. Armados ou não”. Repetiam o mantra sagrado. E sobre as flores consagrado. De uma tal de Liberdade. Que era então a vontade. Da maioria da população. E assim viramos senhores da situação. Só que não foi assim que acabou a lição. Porque existia um Semdedo. Que não tinha medo. E que tinha até feito automutilação. Para ganhar eleição. E seguir preguiçoso. E ganancioso. Em sua autoeleita. E muito suspeita. Peregrinação. Aos altares da prostituição. E foi-se então o maldito com nove dedos nas mãos. Foder a vida de operários irmãos. Que acreditaram nas suas mentiras. Sem saber que dos “tiras”. Era ele um xisnove. Codinome para quem tem nove. E nunca se comove. Quando sua farsa comove. E abraçou assim o facínora o martelo a foice. Sem qualquer conhecimento do chute e do coice. Porque o que importa ao falso É levar ao cadafalso. Do marido da mulher que ele fode. Ao prefeito que lhe incomode. — E os tempos rapidamente passaram como se fossem ervas crescendo. E obedecendo. E por sequencia aquiescendo. A cartilha de dominação mundial. Escrita por um grego que envergonha Platão, Sócrates e especialmente envergonha. Até o pai da cegonha. Que me parece uma figura enfadonha. E que ainda sonha. Embalado num travesseiro de fina fronha. Que um dia será Imperador. Muito acima de um ditador. E que usa uma capa e uma fala careca. Como se fosse um grito de eureca. E se acha o Rei dos vilões das histórias em quadrinhos. Que são tão redondinhos. Que não cabem na televisão. Pela sua visão. Quatro por três. Ou nove por dezesseis. E então o Lex Luthor de beira de esquina. Com quadra de tênis e piscina. Acha que é o rei do Brazilquistão. Bem maior do que a casta do Afeganistão. Mas ignora uma simples questão. De que na Monarquia Absolutista. Aquele que conquista. Morre sozinho na prisão. E não haverá a ele nenhuma emissora de televisão. A dizer que não deve o criminoso à justiça. Porque a cobiça. Sempre se enfeitiça. Pela preguiça. E sempre enguiça. Quando se dá ré no rabo da vaca. Ou no burro que empaca. — E eu, como medo e sem sorte. Apenas espero minha própria morte. Que me livre da aflição. De ver minha pobre nação. Sem caráter e sem condição. Cair na rede da tentação. E abraçar sem saber as consequências. De suas ausências. E pergunto como faço com minhas ciências. Se viremos. Ou se venezualizaremos. E assim estaremos. À mercê dos supremos. Togados e advogados. Equivocados ou comprados. Juízes de um futuro que não viverei. De um país onde nada serei. E que decerto morrerei. N’alguma prisão fedorenta. Comendo fubá de polenta. De uma morte dolorosa e lenta, Apenas sonhando que meus bastardos filhos Que me largaram nos trilhos. Terminem com a maldição começada em meu berço. E que representa um terço. Daquilo que sou e fui. E que como disse o Rui: “Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. E encerro assim da minha vida a festa. -E como disse no começo, sobre nunca termos tido tantos medos. Mesmo não tendo segredos. Porque são dois os inimigos mais perigosos. E decerto os mais venenosos: O que se declara como tal, e assim conhecemos seu mal. Ou o que não declara sua intenção. E assim nem sabemos se o que vale é a Constituição. Ou qualquer outra interpretação. Das desregradas regras da prostituição. Onde quem manda é o cafetão. E sobram às putas o bofetão. E o medo que hoje sentimos. E nem às fadas admitimos. É um medo do crime nunca realizado. E que é julgado. E sem tribunal condenado. Sem processo apenado. Pelo crime de opinião. Contra a falsa Democracia da União. Que age, julga e condena. A uma dura pena. Aquele que discorda do Juiz Supremo. Aquele que, de toga preta. Sem cabelo e de gravata borboleta. Pega a caneta. E nem crime nem suspeita. Fica feito uma estafeta. Achando que qualquer coisa é suspeita. De ser subversiva. Qualquer coisa que viva. E que sobreviva. Sem aceitar ser capacho. E carne fervente no tacho. À existência do malditodenovededos. E seus porcos segredos. Ou às regras morais. Do Imperador Morais. O certo é que muitos de nos ainda restaremos. Para catar os restos espojos do que seremos.

18/05/2024

Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição:
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500

Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador

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