Atualizado em: 30/10/2024, as 10:10
A vida até que é engraçada. Quando não é uma desgraçada. Um a gente nada de braçada. No outro se afoga numa poça. Ou nos beijos de uma moça. Uma bela aeromoça. Um dia a gente almoça dias vezes. Nós outros passa fome por meses. Que mais que doze tem trezes. A vida tem mesmo muita graça. Para quem acha que sentar na praça. E esquecer de toda a desgraça. É que o separa o resto da realidade. E lhe traz um minuto de humanidade. È o engodo da falsa felicidade. A vida é algo do qual podemos rir. Quando pagamos pelo sorrir. De resto é apenas terrir. Mesmo assim numa manhã gargalhamos como palhaços. Para a noite fugirmos descalços. E recolhermos nossos próprios estilhaços. Essa tal de vida. Pode ser boa quando pode ser vivida. Sendo somada e dividida. Não como tomada e subtraída. Essa tal pode mesmo ter algo risível. Que para mim é invisível. Chegando no último nível. E ficando às escuras porque queimou o fusível. Chegarei logo ao final da minha jornada. Que nas estrelas nunca houve nada. Apenas minha fé cega e obstinada. Na poesia como coisa concreta. Que tratou de forma nada secreta. Feito uma aberta janela indiscreta. Por onde velhas fofoqueiras. Jovens fuxiqueiras. E falsas roqueiras. Abanaram o rabo cheio de doenças venéreas. Com suas danças nada etéreas. Monogâmicas achando que são estéreas. Em som quadrifônico. Toco meu concerto sinfônico. Num prisma cônico. E agora acho Pinkflóide. E o Débiloide. Um bando de esquizoide. Como bom exemplo de homem do vigésimo primeiro século. Enfiando no espéculo. De um éculo. — Posso agora escutar as risadas. Até as gargalhadas. Da vadias desavisadas. Aquelas de sovaco peludo. Um grelo graúdo. E um peito um tanto cabeludo. Falando que eu comprei um dicionário de rima. E dizendo que sua mais nova prima. É sua mais nova obra-prima. Ah… Estou tão “cansado do peso da minha cabeça”. De tantos “anos passados e vividos” sem que nada aconteça. Que é capaz que eu esqueça. Dos olhos com brilhos. Dos trens sem trilhos. E até dos largados filhos. — Lembro agora da Condessa. Que de vulva farta densa e espessa. Nas grutas sagradas fodeu com a Abadessa. — Agora encaro o Maldito. E no que vejo não acredito. Que o proscrito. Que matou o marido da esposa. Que hora repousa. Na lápide de Silva não de Sousa. Dando lugar à Marmita de Cadeia. Que usa uma franja. Serve como a galinha da canja. E seu dinheiro esbanja. Num esquema corrupto. Sagaz e abrupto. Fugaz e ininterrupto. Numa corrente lúcida de prostituição. Protegida pela Constituição. Uma torrente translúcida de restituição. Devolvendo ao trono da nação roubada. Pela quadrilha roubada. A quadrilha formada. Pelo Teatro das Tesouras. Que serão tão eternas quanto duradouras. Porque as vindouras. Gerações de estúpidos cretinos. Nascidos velhos e não meninos. Traçaram com réguas os destinos: Chutaram pais aos esgotos. Ignoraram serem frutos de seus escrotos. E que acham que meros arrotos. Denunciam a macheza. E a vilheza Sem perceberem que a nobreza. Está nos concretos atos. Não nos falsos fatos. Não nas palavras dos eternos ratos. Malditos inconfessáveis. Juízes impensáveis. E ditadores inomináveis. — Estou mesmo ficando cansado de vomitar. Sem ninguém para imitar. E meu pensar limitar. Porque a Papuda parece ser inabitável. A morte surda e inimaginável. Que deveria ser habitável. Apenas por um ser abominável. Que se acha inexpugnável. E cujo nome não escrevo nem falo, mas chamo de Inominável. — Todas as manhãs quando me levanto. Olho a janela sem nenhum encanto. E penso se ainda hoje eu janto. Ou se me perco nas trilhas. E nas armadilhas. Das putas que não são filhas. Minhas filhas felinas me sorriem com um miado. E como se fosse um enunciado. Que fui eu denunciado. Por um crime sem julgamento, Num Tribunal sem juramento. E condenado ao linchamento. E assim espero como na Esperança Dos Anjos augustos. Nobres e robustos. Anjos vetustos. Que logo “a voz da morte há de bradar.” Apenas a comandar. E nenhum a recomendar: Avança. Descansa. E morra sem lembrança. Ah… Eu acho mesmo tudo muito engraçado. De ser um desgraçado. Ao cagar sentado!
27/05/2024
Do Livro:
Vômito de Metáforas
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 1ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 248
Tamanho: 20 × 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Barata Cichetto, Araraquara – SP, é o Criador e Editor do BarataVerso. Poeta e escritor, com mais de 30 livros publicados, também é artista multimídia e Filósofo de Pés Sujos. Um Livre Pensador.