O horizonte queimava em tons de laranja e vermelho, como se o sol tivesse decidido descer apenas para observar a confusão que se formava abaixo. O deserto estendia-se por quilômetros, pontuado por cactos tortos e restos de cidades que não existiam mais — ou que nunca deveriam ter existido. Foi ali, no planeta conhecido como Dunastra, que o visor amarelo do Capitão Chaves brilhou pela primeira vez naquela manhã, sinalizando um chamado urgente.
“U-hum… sinal de… Baratex, de novo?”, gaguejou Chaves, tropeçando na areia enquanto ajustava o artefato em forma de chave, que parecia enorme em suas mãos rechonchudas. Cada passo levantava uma nuvem de poeira dourada, e o colante azul apertado refletia o sol como escamas de peixe perdido.
O zumbido do aparelho era irregular, quase nervoso, como se ansiasse junto com ele. Chaves franziu a testa por trás do visor: “Hum… isso não parece um pedido de socorro qualquer… é o Baratex… e… pelo jeito, não é uma situação comum…”
Um som seco de cascos ecoou entre as dunas. Chaves sorriu de leve. Ele conhecia aquele som há anos. Antes que pudesse apontar o artefato, uma nuvem de poeira se ergueu e, com um toque elegante, surgiu Baratex, montado em seu cavalo pardo, Madrugada. A longa barba branca balançava com o vento, e o chapéu de aba larga projetava sombras sobre os olhos cansados, mas alertas.
“Você demorou para aparecer, Chaves”, disse Baratex, a voz rouca misturando sarcasmo e ironia poética, como sempre. “Achei que estaria brincando com portais por aí ou, sei lá, tropeçando em universos errados.”
“E-eu… eu cheguei o mais rápido que pude!”, gaguejou Chaves, respirando fundo e ajustando o visor amarelo. “Mas… sabe como é… portais… e… e areia… e… você sabe… toda aquela confusão de Dunastra…”
Baratex soltou uma risada seca, de quem já esperava isso. “Ah, meu amigo, você nunca muda. Ainda bem. Porque desta vez… a confusão é séria.”
Ele apontou para o horizonte. Uma tempestade de areia viva se movia de forma estranha, ondulando como serpentes translúcidas, misturando tudo que encontrava pelo caminho: cidades inteiras, criaturas híbridas, objetos de outras dimensões. Pequenos redemoinhos surgiam e desapareciam, e um brilho metálico ocasional saltava da areia, revelando fragmentos de universos sobrepostos.
“Isso… isso está… vivo?”, perguntou Chaves, arregalando os olhos por trás do visor amarelo.
“Sim, está vivo”, respondeu Baratex. “E está crescendo. Começou a absorver cidades, pessoas, animais… até memórias de outros mundos. Tentei enfrentar sozinho… mas não dá. Preciso de você, Chaves. Você sabe lidar com portais e dimensões… e, de preferência, com minha péssima companhia.”
Chaves respirou fundo, segurando firme o artefato em forma de chave que já pulsava em amarelo intenso. “E-eu posso… eu posso tentar! Mas… p-p-preparado para lidar com algo… vivo… tipo… areia?”
Baratex deu um passo adiante, sua longa barba se mexendo com o vento como se tivesse vida própria. “Não precisa estar preparado. Só precisa improvisar. Como sempre fez. A imprevisibilidade é sua melhor arma, lembra?”
Chaves respirou fundo e sorriu nervoso. “H-hum… certo, certo! Então… vamos, Baratex! Mas… se eu errar… isso vai ser feio…”
Baratex sorriu, um canto de boca, meio divertindo-se, meio sério. “Errar, Chaves, é quase uma arte. E às vezes é a única forma de vencer.”
A tempestade de areia viva avançava, ondulando, pulsando, sussurrando memórias de mundos inteiros. O chão parecia vibrar, como se Dunastra respirasse em uníssono com o caos.
“Vamos, Capitão!”, gritou Baratex, montando Madrugada. “Se não enfrentarmos isso agora, Dunastra vai engolir tudo, incluindo nós!”
Chaves respirou fundo, ativou o artefato em forma de chave e apertou o gatilho improvisado. Um portal começou a se formar no ar, tremendo e piscando como se tivesse vontade própria. O visor amarelo refletiu o caos à frente.
“Hum… p-p-preparado para uma aventura épica, Baratex! Eu… eu vou tentar!”
Baratex balançou a cabeça, rindo baixo enquanto observava a tempestade: “Improvisando, Chaves. Sempre improvisando. É assim que sobrevivemos aqui.”
E assim, entre poeira viva e portais instáveis, começava mais uma aventura de Capitão Chaves e Baratex, no planeta Dunastra — dois velhos amigos de universos diferentes, unidos pelo absurdo, pela coragem e pelo inevitável humor interdimensional.
O calor do sol de Dunastra era como ferro fundido sobre a pele, mas a tempestade de areia viva parecia absorver até a luz, tornando o horizonte uma mistura de cinza, bronze e reflexos metálicos. O chão pulsava sob os cascos de Madrugada, e pequenas partículas de poeira dançavam no ar, como se estivessem vivas e observando cada movimento.
“Eu… eu acho que… ela está… crescendo rápido demais!”, gaguejou Chaves, segurando o artefato em forma de chave com força. Cada gatilho pressionado criava flashes de luz amarela que tentavam dispersar a areia, mas os redemoinhos vivos desviavam, contornando os portais como se soubessem o que estavam fazendo.
Baratex, sentado firme em Madrugada, observava com a habitual expressão cansada, a longa barba branca balançando com o vento. “Chaves… não estamos lidando com areia comum. Isto aqui é… Dunastra respirando. E está zangada. Acha que pode brincar com dimensões e absorver memórias.”
Chaves ajustou o visor amarelo, suando por baixo do colante azul. “Mas… mas… eu posso tentar… eu posso… abrir portais para… desviar a poeira!” Ele disparou uma sequência rápida de rajadas, mas a areia simplesmente se partiu e reformou em redemoinhos que pareciam rir dele.
Baratex suspirou, olhando para os fragmentos de cidade que flutuavam e giravam dentro da tempestade. “Você está improvisando bem… mas isso é maior do que qualquer portal. Essa tempestade não é só areia. É memória, é caos, é… poesia que ficou furiosa.”
“P-p-poesia furiosa…?”, repetiu Chaves, franzindo o cenho. “Isso… isso significa que… nós estamos ferrados?”
“Se você quer um sinônimo mais direto: sim.” Baratex soltou uma risada seca e então sua voz baixou, firme. “Mas não vamos nos entregar sem lutar, meu amigo. O truque é… sobreviver o suficiente para fugir.”
A areia viva avançava, formando tentáculos que engoliam prédios e árvores, e até fragmentos de criaturas de outros universos que Baratex havia visto em outras incursões. Cada rajada de Chaves criava um portal que desviava parte da tempestade, mas novas partículas surgiam, engolindo o espaço em segundos.
“Está… está se movendo como se tivesse inteligência!”, exclamou Chaves, tentando ajustar a mira. Uma onda de poeira quase o derrubou do chão.
“E tem, Chaves. Ela sabe que somos fracos. E quer nos ensinar a humildade de Dunastra.” Baratex desmontou com rapidez, saltando de Madrugada enquanto o cavalo trotava ao lado dele, desviando das ondas de areia como se tivesse sido feito para isso. “Você é rápido… mas não rápido o suficiente contra algo que não tem limites físicos!”
Chaves abriu outro portal, tentando enganar a tempestade, mas o efeito foi apenas parcial. Um redemoinho engoliu parte da cidade que eles estavam tentando proteger. “Eu… eu não consigo… ela… está… superando tudo que eu tento!”
Baratex colocou a mão no ombro de Chaves, a barba esvoaçando com o vento carregado de areia. “Chaves… escute. O que estamos enfrentando não é para ser vencido. É para ser sobrevivido. E isso significa… sair daqui antes que Dunastra nos consuma.”
“Sa… sair? Mas… eu… eu queria…!” Chaves hesitou, olhando para o caos. “Eu não posso… não posso só… fugir!”
“E quem disse que vai fugir sozinho?”, respondeu Baratex, montando novamente em Madrugada. Com um movimento rápido e preciso, pegou Chaves pelo colante azul e o colocou com segurança no cavalo à sua frente. “Nós improvisamos, sobrevivemos, e depois vemos se dá para recomeçar. Mas não agora. Agora… a prioridade é não virar poeira viva.”
O cavalo disparou pelo deserto de Dunastra, desviando de tentáculos de areia, prédios flutuantes e criaturas híbridas que surgiam do nada. Chaves se agarrou ao equino, tentando não gritar, mas não conseguiu conter um “U-hum… isso… isso é… intenso demais!”
Baratex olhou para ele, a barba balançando como bandeira ao vento. “Bem-vindo ao deserto, meu amigo. Não é para os fracos de coração… mas para os persistentes de espírito.”
Finalmente, eles avistaram uma construção isolada, meio caída, meio reconstruída em improvisos: o Saloon “Lanchonete do Baratex”. Uma placa enferrujada os recebia com letras tortas, e a fumaça de um velho fogão indicava que ainda havia calor e abrigo dentro.
Baratex freou Madrugada com firmeza, saltando do cavalo e puxando Chaves para dentro. “Respira, Chaves. Estamos vivos… por enquanto. O Pó de Dunastra vai aprender que não somos presas fáceis.”
Chaves caiu no chão do saloon, respirando pesado e olhando ao redor. O lugar era uma mistura de bar velho, biblioteca improvisada e esconderijo tecnológico, com garrafas, cadernos e pequenos dispositivos espalhados por todo lado. “E-eu… eu pensei que… tudo… ia acabar!”
Baratex suspirou, tirando o chapéu e abanando o rosto com a mão. “Acaba, Chaves… acaba quando deixarmos. Mas hoje… improvisamos. E improvisar é a única arma que temos contra uma tempestade viva.”
Chaves olhou para ele, ainda ofegante, e tentou sorrir. “H-hum… então… improviso é… nossa… salvação, é isso?”
Baratex sorriu, a barba branca brilhando sob a luz amarelada do saloon. “Exatamente. E logo mais, meu amigo… logo mais vamos descobrir se conseguimos enfrentá-la de verdade. Por enquanto… sobrevivemos. E sobrevivência também é vitória.”
E assim, entre o caos de Dunastra e o refúgio da Lanchonete do Baratex, Chaves e Baratex compartilhavam um momento raro de pausa. O deserto respirava do lado de fora, vivo e furioso, mas dentro do saloon, havia o riso seco de dois velhos amigos — heróis improváveis, unidos pela amizade, coragem e pela certeza de que, mesmo diante de areia viva, ainda podiam improvisar.
O calor de Dunastra ainda vibrava do lado de fora, mas dentro da Lanchonete do Baratex, o cheiro de café queimado e frituras misturava-se com aromas de especiarias importadas de universos desconhecidos. O ranger poético suspirou, encostando-se no balcão, enquanto Chaves se acomodava em uma das cadeiras, tentando recuperar o fôlego.
De repente, um ruído pesado ecoou da cozinha. Uma porta rangeu, e um felino antropomórfico musculoso, de pelos cinza curtos e vestes de academia, surgiu com uma frigideira na mão, ainda fumegante. Seus olhos verdes brilhavam com curiosidade.
“Baratex! Conseguiu resolver o problema da tempestade?”, perguntou o felino, com voz firme mas carregada de preocupação.
Baratex sacudiu a longa barba branca e balançou a cabeça. “Não, José. Não consegui. Mas… trouxe alguém que talvez consiga. Capitão Chaves, este é José Cat, meu velho amigo e cozinheiro filosófico do saloon.”
Chaves se levantou desajeitado, estendendo a mão. “E-eu… é… prazer em… conhecer… José Cat!”
O felino musculoso estreitou os olhos, avaliando Chaves com atenção crítica. “O prazer é meu, Capitão… mas… eu esperava encontrar alguém… mais fitness, sabe? Pensei que um herói interdimensional fosse mais… atlético.”
Chaves engoliu em seco, coçando a nuca atrás do visor amarelo. “H-hum… bem… eu… eu compenso com… habilidades de portal e… e… improviso!”
Baratex levantou a mão e interrompeu o clima tenso. “Chega, José. O ponto não é a aparência do Capitão. É o plano. Se não focarmos, Dunastra engole tudo — e a Lanchonete junto.”
O felino bufou, mas assentiu, e Baratex aproximou-se do balcão, apoiando-se com as mãos e olhando Chaves nos olhos através do visor amarelo.
“Então, vamos ao que interessa”, começou Baratex, com tom firme e filosófico. “A tempestade é viva, mas não é onipotente. Ela reage a portais, a mudanças dimensionais… a imprevisibilidade controlada. Capitão Chaves, sua habilidade de criar portais interdimensionais é a nossa única esperança. Se conseguirmos construir um labirinto de portais estratégicos, podemos… não derrotar a tempestade, mas conter e redirecionar suas ondas o suficiente para proteger a cidade e ganhar tempo.”
Chaves piscou, visivelmente animado. “E-eu posso… posso… posso fazer isso?”
Baratex assentiu. “Sim! Mas precisamos agir rápido. Cada portal deve ser posicionado em pontos de tensão da tempestade, criando um fluxo que a leve para áreas desabitadas de Dunastra. Isso exige coordenação e improviso… você é o único que consegue fazer isso no ritmo certo.”
José Cat apoiou a frigideira no balcão e cruzou os braços musculosos, olhando sério. “Então é isso… Capitão Chaves, você é nosso salvador de Dunastra. Espero que saiba lidar com areia viva que pensa por si mesma.”
Chaves respirou fundo, cerrando o punho sobre o artefato em forma de chave. “Hum… e-eu… vou dar o meu melhor! Com você, Baratex, e… e… José Cat… acho que podemos… podemos tentar!”
Baratex sorriu, batendo no ombro do Capitão. “Isso mesmo. E lembre-se: improviso é a chave — literalmente.”
Porém, antes que pudessem se preparar, um barulho de cascos e gritos ecoou do lado de fora. José Cat se aproximou da janela e seus olhos verdes se estreitaram. “Merda… Baratex… parece que temos… visitantes indesejados.”
Baratex caminhou até a porta do saloon, levantando a mão para acalmar a tensão. Lá fora, na entrada, um grupo de bandoleiros montados em criaturas híbridas, algumas parecendo cavalos, outras mecânicas, cercava o prédio. Chapéus escuros, armas estranhas e olhares sedentos completavam a cena.
Chaves olhou para Baratex, a gaguejada escapando sem controle: “E-e-eu… acho que… isso vai complicar… ainda mais!”
Baratex suspirou, ajustando o chapéu. “Exatamente, Capitão. Mas é o momento perfeito para testar nosso plano. Dunastra nos desafia… e nós vamos responder. Preparados?”
José Cat flexionou os músculos, pronto para qualquer combate físico, e Chaves segurou firme o artefato em forma de chave, sentindo seu poder pulsar, pronto para abrir portais estratégicos.
O saloon se tornou o ponto de comando improvisado. Lá fora, os bandoleiros cercavam, mas dentro, três amigos improváveis — um pistoleiro filosófico, um felino musculoso e um Capitão interdimensional
atrapalhado — se preparavam para enfrentar a tempestade e os invasores, usando engenhosidade, coragem e, acima de tudo, improviso.
E assim, a noite de Dunastra se aproximava, carregada de poeira viva, planos arriscados e tensão crescente. A Lanchonete do Baratex estava cercada, mas dentro dela, os heróis sabiam: enquanto o improviso estiver do lado deles, a esperança ainda respira.
O crepúsculo caía sobre Dunastra como uma lâmina incandescente, tingindo de vermelho a poeira que ainda se movia fora da Lanchonete do Baratex. Por um instante, o silêncio reinou — apenas o vento carregando grãos de areia viva. Mas então os cascos retumbaram novamente. Os bandoleiros avançaram, olhos brilhando sob chapéus escuros, e suas armas dispararam rajadas que riscavam o ar com metal e faíscas.
Chaves ajustou o visor amarelo, gaguejando entre os dentes: “E-e-eu… acho que… não há como… fugir dessa vez!”
Baratex soltou a barba com um gesto rápido, puxando duas pistolas antigas, suas balas assobiando no ar enquanto acertavam os alvos.
“Fugir nunca foi opção, Capitão! É hora de ensinar a Dunastra e aos canalhas quem manda aqui!”
José Cat avançou musculoso, suas garras de treino refletindo a luz amarelada do sol, e cada golpe era devastador. Bandoleiros tentavam cercá-lo, mas ele os despedaçava com uma força sobre-humana, deixando corpos caírem entre poeira e estilhaços.
Chaves tentou abrir portais, disparando rajadas desintegradoras pelo artefato em forma de chave. Cada disparo atravessava o ar e abria buracos interdimensionais temporários, engolindo braços, pernas e armas, enquanto bandoleiros eram sugados para pequenas fendas no nada. Alguns tentavam pular por cima, mas emergiam em lugares aleatórios da Lanchonete, gritando de surpresa.
“E-e-eu… acho que funcionou!”, gaguejou Chaves, com um sorriso nervoso, enquanto desviava de uma lâmina giratória que um bandoleiro mecânico havia lançado.
Baratex não perdia tempo. Ele se movimentava com agilidade surpreendente para sua idade, usando o balcão e mesas como cobertura, disparando com precisão mortal. Cada tiro acertava cabeças, braços e pernas, mas também destruía mesas e cadeiras, aumentando o caos interno. “Capitão, foco! Redireciona a próxima rajada de portais para a entrada!”
Chaves assentiu, franzindo a testa. Um portal abriu-se bem diante da porta do saloon, engolindo três bandoleiros que tentaram invadir de frente. Eles desapareceram com gritos e gemidos, reaparecendo brevemente no meio da poeira viva do lado de fora, que os engoliu com um ruído que lembrava um rugido.
José Cat avançava com brutalidade silenciosa, golpeando bandoleiros com movimentos que pareciam coreografados, misturando força e agilidade felina. “Baratex! Os que tentam a lateral!”
Baratex girou rapidamente, disparando contra dois bandidos que tentavam subir pelas janelas. Com um clique seco, as balas atravessaram o vidro e acertaram os inimigos, que voaram para trás, caindo entre estilhaços e pó. O ranger filosófico respirou fundo, ajustando o chapéu: “Capitão, precisamos manter a posição! José, barre a lateral! Chaves, portais para fora!”
Chaves abriu outro portal, desta vez direcionando rajadas que lançavam bandoleiros contra dunas distantes, misturando o caos da areia viva com o desespero humano e mecânico. Alguns eram sugados parcialmente, sendo cuspidos em diferentes pontos do planeta, desorientados e derrotados. “H-hum… acho que… estamos… dominando… um pouco!”
Mas a tempestade lá fora não dava trégua. Um redemoinho de areia viva aproximava-se das janelas e portas, arrastando destroços e aumentando a pressão sobre o saloon. Baratex franziu a testa, disparando com mais precisão. “Capitão! José! Estamos ganhando tempo, mas não podemos relaxar. A tempestade e os bandoleiros estão sincronizados!”
José Cat bufou, bloqueando com o antebraço o impacto de uma lâmina que voava pelo ar, e respondeu com um golpe que arremessou três bandidos em estilhaços de madeira e metal. “Vocês escolheram o saloon errado para atacar!”
Chaves abriu mais portais, mas a cada rajada, a Lanchonete tremia com o impacto da força interdimensional. Ele sentiu seu corpo vibrar com o esforço, suando e gaguejando: “E-eu… não sei quanto tempo… posso aguentar assim!”
Baratex ergueu as pistolas, olhando para o Capitão e para José Cat: “Não importa, Capitão! É o suficiente para manter Dunastra longe… pelo menos até encontrarmos uma estratégia definitiva. Cada bandoleiro que cai é tempo a mais para a nossa sobrevivência!”
A batalha dentro da Lanchonete do Baratex era um caos organizado: rajadas de portais engolindo inimigos, tiros certeiros, garras musculosas derrubando invasores, mesas quebrando, vidros estourando e poeira misturada com sangue. Chaves começava a sorrir, exultante apesar do esforço. “H-hum… isso… é intenso… mas… funciona!”
Porém, quando a última leva de bandoleiros parecia ser controlada, um estrondo ecoou do lado de fora. Baratex olhou pela janela, franzindo o cenho: mais sombras surgiam no horizonte, montadas em criaturas híbridas e armadas até os dentes, avançando em direção ao saloon.
José Cat fechou os punhos, os músculos tensionando. “Mais…? Achava que tínhamos acabado com eles!”
Baratex ergueu a mão, pausando a adrenalina. “Não, José. Isso é Dunastra. A luta nunca acaba. Mas temos vantagem agora: o saloon está protegido, temos portais estratégicos, e Capitão Chaves está pronto. Se eles querem entrar… vamos recebê-los com tudo que temos.”
Chaves suspirou, ajustando o artefato em forma de chave: “H-hum… entendi… vamos… fazer o que sabemos fazer… e… improvisar de novo!”
E assim, enquanto a poeira viva de Dunastra rugia do lado de fora e os bandoleiros cercavam a Lanchonete, os três heróis se preparavam para uma nova onda de violência interdimensional, prontos para defender o refúgio de Baratex com força, astúcia e pura improvisação.
A Lanchonete do Baratex tremia sob o peso da poeira viva de Dunastra, enquanto os bandoleiros cercavam o prédio com ferocidade crescente. As sombras de suas criaturas híbridas avançavam pelo horizonte, relinchando e urrando com violência. Chaves estava agachado atrás do balcão, ajustando o visor amarelo, respirando pesado. José Cat mantinha-se alerta, os músculos tensos, pronto para qualquer ataque.
Baratex, encostado na parede próxima à porta, fechou os olhos por um instante, a longa barba branca esvoaçando levemente com o vento que escapava pelas frestas. Quando abriu os olhos, sua expressão era grave. “Escutem, meus amigos… há algo que vocês precisam saber.”
Chaves ergueu a cabeça, confuso: “H-hum… o que é, Baratex?”
O ranger filosófico respirou fundo e apontou para o horizonte, onde mais bandoleiros surgiam sem controle, correndo como se fossem atraídos por algum magnetismo do próprio planeta. “Esses não chegaram por acaso. A tempestade… ela está chamando-os. Dunastra… de alguma forma, controla essas criaturas e os bandidos que tentam se infiltrar.”
José Cat estreitou os olhos, rosnando baixinho. “Como assim… controla? Isso é… insano.”
Baratex caminhou entre os dois, ajustando o chapéu e gesticulando com firmeza. “E não é só isso. Alguns desses bandoleiros… eu já os enfrentei antes. Já os matei. Kid Rodopio… Ted Putaria… e outros nomes que prefiro esquecer. Eles não voltam por simples coincidência. Dunastra está usando memórias de dor, vingança e violência… e os está trazendo de volta à vida para confundir e atacar.”
Chaves arregalou os olhos, segurando firme o artefato em forma de chave. “E-e-eu… isso significa que… nós estamos lutando contra… fantasmas e… e vivos ao mesmo tempo?”
“Exato, Capitão.” Baratex respirou fundo, olhando para José Cat e depois para Chaves. “Se não agirmos agora, essa tempestade vai continuar a engolir Dunastra, a cidade e… possivelmente a própria Lanchonete. Cada bandoleiro que aparece é apenas uma extensão da fúria da tempestade.”
José Cat estalou os dedos, pronto para reagir. “Então… não podemos esperar. Precisamos do plano… agora!”
Baratex assentiu, batendo levemente na mesa de madeira do saloon. “Sim! É hora de executar o plano imediatamente. Capitão Chaves, José Cat… ouçam com atenção. Chaves, seus portais não precisam apenas desviar a tempestade… eles devem concentrar a energia da areia viva em um ponto específico. A tempestade não é onipotente; ela reage a fluxos direcionados. Se conseguirmos criar um labirinto de portais convergentes, podemos canalizar a fúria da tempestade e cessá-la de vez, antes que mais bandoleiros apareçam.”
Chaves engoliu em seco, a gaguejada escapando de novo. “H-hum… c-c-canalizar… a tempestade… eu… posso fazer isso?”
“Você consegue, Capitão, e ninguém mais pode.” Baratex colocou a mão no ombro dele. “Eu e José Cat cuidaremos de proteger o saloon e manter os bandoleiros afastados. Mas você… você é a chave — literalmente — para derrotar Dunastra.”
José Cat olhou para o horizonte, cerrando os punhos. “Então é agora. Nenhum bandoleiro atravessa esta porta enquanto Chaves trabalha. Vamos proteger o Capitão e a Lanchonete até o último suspiro.”
Chaves respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade. “H-hum… entendi. Então… e-e-eu… vou… abrir os portais… e… tentar redirecionar tudo!”
Baratex sorriu, a barba branca balançando. “Exatamente, Capitão. Improviso, coragem e precisão. Se conseguirmos isso… a tempestade e os bandoleiros perderão o controle. Mas não há tempo a perder. Cada segundo conta. Dunastra não espera.”
Enquanto a poeira viva continuava a rugir do lado de fora, e os primeiros bandoleiros avançavam novamente, os três amigos se prepararam. José Cat flexionou os músculos, pronto para qualquer ataque físico, Baratex ajustou as pistolas e o chapéu, e Chaves segurou firme o artefato em forma de chave, sentindo seu poder pulsar no ritmo da própria Dunastra.
O vento uivava como bestas enfurecidas do lado de fora da Lanchonete do Baratex, carregando grãos de areia viva que arranhavam as paredes e rangiam o velho telhado. Bandoleiros se agitavam no horizonte, sombras montadas em criaturas híbridas que relinchavam e urravam, enquanto fragmentos de memórias e cidades flutuavam na tempestade.
Chaves respirava fundo, suando sob o colante azul. O visor amarelo refletia os redemoinhos, e o artefato em forma de chave vibrava como se tivesse consciência própria. “H-hum… e-e-eu… acho que… estou pronto… para… começar!”
Baratex assentiu, a barba branca balançando com o vento que escapava pelas janelas quebradas. “Lembre-se, Capitão: portais estratégicos, sincronizados. Cada um deve atrair a energia da tempestade e redirecioná-la para o ponto central. Se fizer errado… Dunastra nos engole.”
José Cat flexionou os músculos, bloqueando os primeiros bandoleiros que tentavam invadir o saloon. “Não se preocupe comigo, Chaves. Cuido da lateral e da frente. Faça sua parte e mantenha a concentração!”
Com um gesto decidido, Chaves ergueu o artefato. Uma rajada amarela abriu o primeiro portal acima do telhado, sugando parte da tempestade que se aproximava. O vento mudou de direção, e a areia viva gritou, rangendo como uma criatura ferida.
“Bom… bom… começo!” gaguejou Chaves, com um brilho nos olhos. Ele abriu outro portal na parede norte, depois outro no canto sudoeste. Cada abertura drenava energia da tempestade, e os redemoinhos começaram a se curvar em direção a esses pontos.
Baratex atirava com precisão, mantendo os bandoleiros afastados, cada disparo um lembrete da mortalidade de Dunastra. “Capitão, mais rápido! Eles não vão esperar você!”
José Cat investia com força felina, arremessando inimigos para o chão e usando seu corpo musculoso como barreira. “Não vou deixar que cheguem perto do Capitão, seus filhos da puta sem classe!!”
Chaves abriu mais portais, o visor amarelo piscando freneticamente. Cada rajada era calculada com precisão, mas exigia improviso — a tempestade reagia, ondulava, tentava escapar, desviando-se dos portais. Ele gaguejava, mas a concentração era total: “H-h-h-hum… direita… esquerda… acima… agora!”
A areia viva começou a ser puxada, redemoinhos convergindo lentamente em direção a um ponto central que Chaves determinava com cada disparo. A energia se acumulava, formando um vórtice brilhante que sugava tudo que se aproximava, incluindo fragmentos de memórias, pedaços de cidades e, ocasionalmente, os próprios bandoleiros que ousavam avançar.
Baratex viu a oportunidade e gritou: “Capitão, agora! Concentre toda a energia no núcleo!”
Chaves fechou os olhos por um instante e disparou a sequência final de portais, cada rajada criando um caminho direto para o vórtice central. A tempestade gritou, a areia viva tremia e se contorcia, mas não havia escapatória. Um silêncio pesado caiu por alguns segundos, enquanto a energia era sugada e o caos parecia se solidificar.
Então, com um estrondo que fez o saloon tremer, o vórtice colapsou, engolindo a tempestade inteira. O vento cessou, os grãos de areia pararam de dançar, e Dunastra finalmente respirou em paz. Fora do saloon, os bandoleiros remanescentes estavam desorientados, alguns caindo de suas criaturas híbridas, outros desaparecendo com redemoinhos menores que se extinguiram com a queda da tempestade.
José Cat soltou um longo suspiro, encostando-se à parede, músculos tensos relaxando. “Isso… isso funcionou. Vocês realmente conseguiram. Capitão, Baratex… vocês são loucos, mas conseguiram!”
Chaves caiu de joelhos, ofegante, com um sorriso nervoso. “H-h-hum… e-eu… eu não sei se… se isso é… vitória… mas… acho que… funcionou!”
Baratex suspirou, limpando o suor da testa. “Vitória é o que temos agora, Capitão. A tempestade está contida, os bandoleiros… pelo menos por enquanto, estão neutralizados, e a Lanchonete do Baratex ainda está de pé. Mas lembrem-se… Dunastra não esquece, e a poeira nunca descansa.”
José Cat olhou para o horizonte, o vento agora calmo levantando apenas pequenas nuvens de poeira distante. “Então… a cidade está salva, o saloon está seguro… e nós sobrevivemos a Dunastra. Por enquanto.”
Chaves respirou fundo, apoiando-se na mesa. “H-h-hum… e-e-eu acho que… improvisar… foi a chave… de tudo isso!”
Baratex sorriu, a barba balançando suavemente. “Exatamente, Capitão. E é por isso que você é a única pessoa capaz de enfrentar Dunastra e ainda manter a Lanchonete de pé.”
E assim, enquanto a poeira assentava sobre Dunastra e o silêncio retornava ao planeta, três amigos — um pistoleiro filosófico, um felino musculoso e um Capitão interdimensional atrapalhado — celebravam uma vitória improvável, sabendo que, mesmo em um mundo de caos e areia viva, a amizade, o improviso e a coragem ainda podiam dobrar a realidade a seu favor.
FIM?
Não, é apenas o começo…
Vinícius Pereira , Nova Iguaçú, RJ, já teve vários perfis em sites de fanfics. Após um longo hiato, por intermédio do destino (ou o que quer que prefira definir), ele retorna à escrita com a série de contos das aventuras do Baratex, figura que homenageia o grande Barata Cichetto.





