Arte: Vinícius Pereira

O Jardim da Última Certeza

Puerto Limón, Costa Rica. Dezembro de 1993.

O ar tinha a consistência do vinho não filtrado e o cheiro forte de sal, combustível e o vapor úmido da mata. Baratex, no banco do carona, acendia seu cigarro. O sol era uma chapa de metal sobre o horizonte, cozinhando o sobretudo que ele insistia em usar.

“O calor aqui não mata, José. Apenas te cozinha lentamente, como uma metáfora mal feita.”

José Cat, ao volante da Land Rover alugada, murmurou, seus olhos âmbar fixos nos ticos que sorriam nas ruas. “Do que está reclamando? Você só anda com esse sobretudo. Não tem o direito de reclamar.”
“Está de mau humor, Zé?”
“Pelo contrário. Estou me sentindo privilegiado de estar nesse local, podendo apreciar as belas obras do Senhor. Veja essa paisagem.”
“Sempre com a mesma sinfonia, Zé. A fé é previsível em sua virtude, e a imprevisibilidade sou eu,” Baratex retrucou.
“Tolo,” José Cat suspirou.
“Estamos aqui a trabalho, Zé,” Baratex deu um trago no cigarro, “Estão nos pagando bem pra resolver um pepino dos grandes.”

A missão havia chegado há três dias, mas o contato havia sido marcado num bar de beira de porto. E a intermediária tinha chegado na forma de uma mulher que parecia ter vindo de outro clima, outra história.

Isabelle Dubois. Francesa, vestindo um vestido de linho branco e luvas longas, também brancas, que pareciam desafiar o calor e a sujeira. Ela era a definição de beleza perigosa: olhos verdes que pareciam calcular o custo do seu pecado e um perfume sutil de sândalo. A bela aguardava a chegada da dupla. O Land Rover parou diante da misteriosa e sedutora francesa.

“O Dr. Aranha precisa de vocês, Baratex,” Isabelle dissera, direta, a voz fria como gelo numa taça de vinho. “Precisa que auxiliem com o projeto dele, visando o que ele enxerga como o caos estético. Ele o chama de ‘O Espécime Perfeito’.”

“Primeiramente, é um prazer, madame,” Baratex removeu seu chapéu, com uma piscadela.

“Duvido que usará a palavra prazer para a situação em que será inserido, caubói,” Isabelle o cutucou.

O sorriso dela era um desafio que prometia mais problemas do que qualquer arma. Baratex sorriu de volta, o cinismo de sempre temperado por uma faísca de interesse genuíno.

“Toda situação é uma questão de ponto de vista, mademoiselle,” ele respondeu, apoiando-se no carro. “E toda beleza é um convite ao desastre. O que me leva a perguntar: o que a levou a se vestir como uma noiva fugitiva no meio do inferno tropical?”

“É meu uniforme. Ele me lembra que a pureza é a mentira mais cara que se pode vender,” Isabelle respondeu, deixando os olhos percorrerem o sobretudo surrado de Baratex. “Você está aqui porque o caos o excita, caubói. Eu estou aqui para evitar o caos com um especialista no assunto.”

“Ah, assim você me deixa rubro, doçura… Grato pelas palavras. Mas, caos sob controle? Isso é um tédio, ma chérie. O caos só é arte quando é total e sem intenção.”

José Cat pigarreou: “Com licença. O que é o ‘Espécime Perfeito’, e por que estamos aqui arriscando as nossas almas por ele?”

Isabelle Dubois ignorou José Cat, mantendo o olhar fixo no poeta.
“O Doutor Aranha, meu pai,” ela começou, e a menção familiar trouxe um breve amolecimento ao seu tom, “dedicou a vida a criar a Flor da Paz. O Espécime 7-C. Uma planta geneticamente modificada para induzir no observador a Felicidade Perfeita. Ele queria curar a melancolia da humanidade. Mas a flor… ela se recusou a ser domesticada. Ela se espalhou na Ilha Nébula e, ao invés de curar, ela paralisa. A beleza é tão absoluta, e a felicidade tão total, que anula a vontade. Anula a luta. Anula o poema. E meu pai, o verdadeiro, morreu tentando contê-la.”

Baratex acendeu um novo cigarro, o isqueiro fazendo um clique seco.

“Felicidade Perfeita,” ele repetiu, a voz carregada de ironia. “Isso soa como um inferno ainda maior do que a poesia ruim. Onde há ausência de dor, não há história. E se não há história, não há razão para sobreviver.”

“Te garanto que ela não é a verdadeira ameaça, pelo contrário”, Isabelle discordou, aproximando seu delicado rosto ao de Baratex, em um sussurro. “O problema é o falso Doutor Aranha, que está no helicóptero logo ali. César Dantas, o rival de meu pai, tomou a ilha após a morte dele. Dantas não quer a paz. Ele quer que você e o seu amigo peludo destruam a Flor da Paz para que a Flor da Guerra, a versão criada por ele, possa dominar. Ele quer que o mundo entre em caos para se tornar o ‘Poeta da Nova Ordem’. Mas esse novo espécime não consegue se desenvolver com a presença da Flor da Paz na ilha.”

“Ah, um dramaturgo que troca o tédio pela tragédia. Melhor. Mas ainda um editor ruim,” Baratex sorriu, a mão roçando o braço de Isabelle ao pegar uma garrafa de Chianti do carro. “A Flor da Guerra tem que ser destruída, no caso. Entendi. E a sua, mademoiselle, tem que ser salva. Ou seja, vamos tapear nosso contratante.”
“Conto com você, Baratex. Eu suplico. É a memória do meu pai, e esse canalha quer reverter tudo,” Isabelle sussurrou, a mão pousando brevemente na de Baratex. “Eu vou com vocês. Sou a única que sabe as rotas do local.”
“Saquei. O idiota acha que iremos fazer o servicinho do jeito dele. Então… Para onde vamos?”

Isabelle apontou para o céu, onde o sol batia em um hangar improvisado na beira da mata. “O helicóptero está lá.”

José Cat fechou a Bíblia no colo. “Seja qual for o caminho, que Deus tenha misericórdia das nossas almas.”
“Deus que espere,” Baratex respondeu, o olhar fixo em Isabelle. “A arte não espera ninguém.”

A Land Rover parou ao lado do helicóptero. Aranha, ou melhor, César Dantas, estava lá. Alto, de óculos finos e um sorriso que mal disfarçava a febre do fanatismo.

“Baratex,” Dantas disse, estendendo a mão. “Você e a minha, ahn, assistente, já se apresentaram?”
“Já tivemos tempo de discutir o papel da tragédia no mundo moderno,” Baratex apertou a mão do falso Doutor Aranha.
“Tragédia é a única coisa que tem métrica, poeta. A vida é um longo poema que eu vou encurtar com rimas fortes. O caos é o único verso puro.” Dantas olhou de Isabelle para Baratex, o olhar de quem estava escrevendo o roteiro da sedução.
“Você é um dramaturgo, Dantas. Eu sou um poeta. E você é previsível.” Baratex entregou a garrafa para José Cat. O felino antropomórfico arremessou a garrafa longe, em seguida, abominando aquele ícone do vício.
“Não importa. A Flor da Guerra, ou Espécime 7-X para leigos caipiras como você, está perambulando pela ilha. Porém, com a presença da anomalia denominada Flor da Paz no mesmo ecossistema dela, minha criança não poderá desenvolver seu potencial. Destruam a Flor da Paz, que está no laboratório, e façam com que meu Espécime 7-X enfim prospere. O caos se espalhará, e você, Baratex, será o primeiro herói trágico do novo mundo.”

Isabelle subiu no helicóptero sem dizer mais nada. Baratex foi logo atrás. José Cat hesitou por um segundo, olhando para o local onde o vidro da garrafa se estilhaçara, depois subiu também.

O helicóptero subiu, e a Ilha Nébula surgiu: uma massa verde escura, envolta em névoa, pulsando com um silêncio assustador. O poeta e a sua femme fatale do momento mergulhavam na escuridão verde da Ilha Nébula, onde o perigo não era ser comido, mas sim parar de lutar.

O helicóptero os deixou na clareira. O ar não era apenas úmido; era doce. O cheiro de jasmim em overdose, a fragrância da ausência de sofrimento, envolvia tudo, esmagando a vontade.

“Você, minha doce Isabelle, tem um perfume peculiar. Esse cheiro é a traição mais pura,” Baratex tossiu, as mãos nos bolsos do sobretudo.

“E eu estou errada? Não ficou claro pra você a questão do legado do meu pai e as maquinações do Dantas?” Isabelle encarou Baratex, estreitando os belos olhos verdes.
“Ele só está lhe provocando, senhorita. O Baratex é o típico neném em um corpo de caubói decadente,” José Cat interviu, com serenidade.
“Um neném que faz neném, eu diria,” zombou o caubói filosófico.
“Ridículo,” suspirou José Cat, enquanto Isabelle deu um discreto sorriso.

Ela se aproximou ainda mais de Baratex, a mão escondida sob o tecido de seu vestido. De lá, retirou uma cápsula metálica com um líquido azulado.

“Dantas pensa que vamos destruí-la com fogo ou ácido. Isso seria o final de tragédia que ele deseja,” Isabelle sussurrou, a voz urgente.
“Esta cápsula contém um líquido de dormência que meu pai desenvolveu. Ela fará a Flor da Paz (7-C) adormecer, e não morrer.”

Baratex pegou a cápsula, sentindo o peso frio do metal. “Um sono de beleza. Gostei da metáfora. E como isso nos ajuda?”
“Se a Flor da Paz adormece, mas não é destruída, Dantas pensará que a Flor da Guerra (7-X) está finalmente livre para dominar a ilha. O caos dela será atraído para o local onde a 7-C sucumbiu. É quando atacaremos Dantas e a 7-X.”
“Saquei,” Baratex sorriu, escondendo a cápsula em seu sobretudo. “Vamos usar o caos de Dantas contra ele mesmo. Uma peça de teatro no meio da selva. Isso sim tem métrica.”

Guiados por Isabelle, eles se dirigiram às ruínas do laboratório, uma estrutura pré-fabricada de vidro e metal, meio enterrada na vegetação, com uma clara pegada de abandono.

Lá dentro, sob uma redoma de acrílico rachada, estava o Espécime 7-C. A Flor da Paz. Ela pulsava em um amarelo pálido e exalava o doce, sufocante cheiro da Felicidade Perfeita.

“Cuidado,” Isabelle sussurrou, a mão no ombro de Baratex. “Os efeitos são imediatos se inalarmos muito. A paralisia da vontade. Lembre-se do que ela faz: anula o desejo, anula a luta.”

Baratex sentiu a atração da serenidade, a tentação de esquecer a dor e o tédio. “O inferno que nos tenta com a promessa do céu. Não posso me aproximar. Meu repertório de desgraças é muito longo para ser apagado por uma flor.”

José Cat, no entanto, avançou com a Bíblia debaixo do braço. “O Senhor dá a força ao justo. Não preciso do seu vício para sobreviver, Barata. Eu tenho a fé.”

Ele pegou a cápsula das mãos de Baratex. O felino olhou para a flor e depois para a cápsula, com a precisão calma de um artilheiro.
“O Senhor, que me livrou das garras do leão e do urso, me livrará também da mão deste filisteu. É como Davi com a pedra, mas com o perdão na ponta,” José Cat murmurou, e com um movimento rápido e certeiro, ele arremessou a cápsula contra o bulbo da Flor da Paz.

O impacto foi seco. O líquido azulado espirrou sobre o bulbo. A Flor da Paz (7-C) murchou, o amarelo pálido se apagou, e o cheiro doce desapareceu do ar. A extravagante criatura entrou em sono profundo.

O silêncio que se seguiu ao adormecimento da Flor da Paz foi quebrado por um rugido voraz que ecoou no ar, vindo do exterior do laboratório.
“A Flor da Guerra,” Isabelle sibilou, os olhos arregalados. “Ela sentiu! A 7-C adormeceu e liberou o seu espaço! A 7-X está se aproximando! Temos que destruí-la agora!”

Eles saíram das ruínas do laboratório. A selva estava mais escura, mais febril. O odor metálico e amargo da Flor da Guerra (7-X) — o cheiro de pólvora molhada — invadia o ar, instigando a fúria. E então, a criatura: uma massa contorcida de caule e raízes vermelhas e doentias, arrastando-se pelo chão, com uma flor central pulsando com um vermelho insano. O Espécime 7-X.

Baratex reagiu. Sacou o revólver e descarregou o tambor contra a criatura, que resistiu, liberando um gás de odor metálico. As raízes emergiram do solo, envolvendo as pernas de Baratex e Isabelle.
“O passado não o prenderá, poeta. Mas as minhas raízes sim!” A voz de César Dantas ecoou pelos alto-falantes ocultos em árvores nos arredores, surpreendendo o trio. “Acharam que eu não sabia desse complô amador de vocês? Desde sempre vocês eram minhas cobaias.”

José Cat, com a fúria em seus olhos âmbar, avançou sobre a massa de raízes. Com suas garras, ele rasgou as raízes que prendiam Baratex e Isabelle, libertando-os.

“Dantas, seu ímpio! Você e sua raíz do demônio não irão prevalecer!” José Cat rugiu, voltando-se para o Espécime 7-X.

O felino antropomórfico avançou, mas o odor metálico da Fúria o alcançou. Os músculos de José Cat se tensionaram de forma violenta, seus olhos se arregalaram. Ele convulsionou no chão, tomado pelo efeito caótico da 7-X.

Baratex, livre das raízes, viu seu amigo sucumbir.
“Zé!”

Isabelle se levantou, pálida. “Ele nos usou para neutralizar a 7-C! A Flor da Guerra é forte demais! Temos que fugir!”
“Não sem o meu parceiro!” Baratex ignorou o pânico. A raiva pela humilhação e pela queda de José Cat era pura.

O poeta meteu a mão no bolso do sobretudo, sacou uma banana de dinamite e acendeu a ponta com um isqueiro. O caubói filosófico arremessou o explosivo clássico contra a Flor da Guerra. A aberração, num movimento instintivo de ataque e defesa, engoliu a dinamite em sua flor central.

Baratex se jogou ao lado de José Cat, puxando Isabelle para baixo. A explosão foi abafada e violenta. Um rugido interno, seguido por um vapor espesso e um cheiro nauseante de enxofre e matéria orgânica queimada. O Espécime 7-X parou de se mover. Suas raízes soltaram-se, e o caule inchado rachou, revelando uma destruição completa e silenciosa por dentro. O caos de Dantas havia sido detonado.

Isabelle se levantou, incrédula. O rosto coberto de fuligem.
“Você… você destruiu a arma biológica mais perigosa do mundo… com uma simples dinamite?”

Baratex limpou o rosto com as costas da mão suja. O cheiro de pólvora e álcool voltou a dominar o ar.
“Os desenhos animados do passado ensinaram, mademoiselle. Uma boa e velha banana de dinamite pode ser muito útil,” ele respondeu, sem sorriso, a voz rouca. A convulsão de José Cat cessou. O corpo felino relaxou, e o brilho insano em seus olhos se apagou, deixando-o apenas desacordado.

Baratex se aproximou do amigo. “Tudo ficará bem, Zé. A arte sobreviveu. É o que importa.”

Isabelle usou um pedaço de seu próprio vestido para limpar o ferimento superficial na cabeça de José Cat. O dia escureceu, e as sombras da noite caíram sobre a ilha. Baratex e Isabelle carregaram José Cat de volta para a segurança do laboratório abandonado. A iluminação fria da estufa era o único refúgio.

Isabelle cuidou do amigo, passando um tônico nos músculos. “Ele ficará bem. O corpo dele é forte, e a alma, mais forte ainda. Ele só precisa de descanso para expulsar a toxina da Fúria.”
“Eu agradeço o auxílio ao meu melhor amigo. Devo a você, mademoiselle. E você sabe que o poeta paga as suas dívidas com versos. Ou algo melhor,” Baratex disse, observando o reflexo dela no vidro.

Ela se virou para ele, a luz fria do laboratório iluminando o vestido de linho agora rasgado e sujo.
“Por que você arrisca tanto por um homem, quer dizer, um felino que o julga a cada copo de vinho que você bebe?”
“Porque a fé dele me lembra que eu tenho algo contra o que lutar. Se eu o perdesse, eu perderia o meu oposto, e o meu poema ficaria… previsível. Você é a poesia que eu busco, Isabelle. Ele é a reticência que eu respeito.”

O desenvolvimento de afinidade havia chegado ao seu ápice. Não havia mais nada a dizer. Baratex se aproximou. Ela não recuou. O beijo foi intenso, faminto e longo, um consumo mútuo que prometia ser o único momento de certeza na vida do poeta. Não era o desespero da selva; era a afirmação da escolha. Era o caos sob controle, aceito.

Isabelle se afastou, ofegante. O sorriso era genuíno.
“O que faremos agora?” Isabelle perguntou, os olhos verdes fixos na escuridão da selva.
“Simples. Chutaremos o traseiro do Dantas,” Baratex sorriu. O sorriso não era de malícia, mas de um artista que aprecia uma última reviravolta no roteiro.
“Gostei,” Isabelle mordeu os lábios, em frenesi.

Aquele plano significava esperar. Baratex sabia que Dantas não pararia de escrever sua tragédia. O dramaturgo enviaria a cena final.

A espera foi tensa. O silêncio da ilha era um peso. Isabelle e Baratex ficaram juntos, a respiração dele no cabelo dela, o cheiro de sândalo e pólvora misturados.

Ao amanhecer, o sol era um fogo impiedoso sobre a folhagem. O som seco das pás do helicóptero de Dantas rasgou o silêncio. A aeronave aterrissou em uma clareira a alguns metros do laboratório.

A rampa baixou. Dantas saiu da aeronave com uma dupla de mau encarados. O cientista/dramaturgo, com seu sorriso de editor obcecado, dirigiu-se aos dois homens, que estavam armados com lança-chamas.
“Devem estar mortos. Vamos apenas nos certificar de que a florzinha da paz seja incinerada,” Dantas disse, satisfeito, olhando para os destroços do laboratório.

Baratex, escondido nos escombros, não estava amarrado à moral de José Cat naquele momento; ele estava livre para a sua arte. Ele havia se armado com um rifle de precisão que encontrou no laboratório.

O som do tiro de precisão foi seco e pontual. A cabeça de um dos capangas estourou com uma chuva de miolos. O corpo caiu como um peso morto. Dantas adotou uma expressão de pavor. Quando o outro capanga pensou em reagir, sua cabeça teve o mesmo destino, com uma explosão de carne cerebral.

O caos de Baratex era rápido e limpo. O algoz do pai de Isabelle Dubois ficou sozinho, em pânico, cercado pelos guardas caídos.

Baratex saiu da mata, com o rifle em mãos, as botas pisando na lama. Dantas era a imagem da rendição.
“Você é previsível, Dantas. Você sempre precisa de público, de guarda-costas e de um final apoteótico. Mas o meu poema não tem finais apoteóticos, tem apenas reticências.”

“C-Calma! Foi tudo apenas um teste!” Dantas tentou inventar argumentos no desespero.

“Relaxa, meu amigo! Eu sei que foi um teste. Você queria o caos, Dantas. Eu lhe dou o medo”, Baratex encerrou a discussão com um tiro fatal no cientista manipulador.

Isabelle abraçou o caubói filosófico por trás.
“Acabou…”, ela sussurrou, com o belo rosto prensado em suas costas.
“Sim, chérie. Vamos embora”, Baratex suspirou, fitando o céu azul.

Semanas depois, Baratex e Isabelle estavam em um café em Paris, perto do Sena. O dia estava frio, mas o sol de inverno entrava pela janela, aquecendo os copos de vinho tinto. Eles conversavam alegremente, a risada de Isabelle soando como cristal.
“Então o governo costarriquenho isolou a ilha?” Baratex perguntou, o sarcasmo afiado.
“Sim. E a Flor da Paz (7-C) poderá viver em paz, mantendo o legado do meu finado pai. Obrigada. Você me ajudou a salvar a última certeza de um mundo em dúvida,” Isabelle respondeu, tocando a mão dele.

Nisso, um táxi parou bruscamente na rua. A porta se abriu e José Cat saiu, ajeitando o lenço no pescoço.
“Ei, Zé! Deu uma volta por Paris?” Baratex brincou, surpreso.
“Tive que passar em Genebra antes. Tinha umas questões de teologia para resolver. Mas ainda quero andar mais. O mundo é muito grande para se limitar a uma ilha ou a um único café,” José Cat disse, com sua serenidade usual. Ele fez um leve aceno de cabeça. “Bom poema a vocês.”

O felino antropomórfico se despediu, sumindo rapidamente na multidão.

Baratex e Isabelle voltam a ficar sós.

“I’ll Be Over You,” da banda Toto, começou a tocar no café.

Baratex encarou os belos olhos verdes de Isabelle Dubois. A francesa retribuiu com aquele olhar penetrante como uma faca, gerando uma consequência inevitável: um longo e ardente beijo apaixonado.

Vinícius Pereira , Nova Iguaçú, RJ, já teve vários perfis em sites de fanfics. Após um longo hiato, por intermédio do destino (ou o que quer que prefira definir), ele retorna à escrita com a série de contos das aventuras do Baratex, figura que homenageia o grande Barata Cichetto.

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2 Comentários
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Eduardo Schloesser
Eduardo Schloesser
17/11/2025 18:57

Mais um ótimo conto onde minha mente consegue vê-lo como um Clint Eastwood ironicopoetico moderno, caro poeta. Muitas palmas ao jovem escritor.

Conteúdo Protegido.
Plágio é Crime!

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